Quatro passos para inovar na construção civil no Brasil

Quatro passos para inovar na construção civil no Brasil

Recentemente fui a um evento sobre Inovação na Construção Civil no Rio de Janeiro que me marcou bastante. Eu sou extremamente inquieta e uma das coisas que me incomoda muito é por que a construção civil ainda fica tão atrás de outras indústrias quando falamos de produtividade e inovação?

Esse setor foi um dos mais afetados pela crise brasileira. Após a euforia da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o mercado se viu preso em distratos, estoques elevados e taxas de vacância enormes. Muitas empresas quebraram e a recuperação tem sido bastante lenta.

Mas são nesses momentos de crise que surgem oportunidades para aprendermos, inovarmos, mudarmos a forma de fazer as coisas, para obtermos resultados mais precisos, mais econômicos e de melhor qualidade. Essa não foi a primeira e não será a última crise que o setor passará.

Infelizmente, apesar das crises, muito pouco mudou nos últimos 40 anos. Enquanto a maioria das outras indústrias se transformou drasticamente, a construção civil ainda é hesitante em abraçar inovações, sejam elas tecnológicas ou de processo, e isso causou uma forte estagnação no setor quando falamos de produtividade.

Em alguns países, como nos EUA, a produtividade do setor caiu nas últimas décadas. No Brasil, sequer temos dados robustos que possam mensurar o avanço ou recuo da produtividade. Afinal, a maior parte das empresas não mede dados de produtividade, como podemos ver no gráfico abaixo de um estudo realizado pela EY.

Fonte: Estudo sobre produtividade na construção civil: desafios e tendências no Brasil – EY

Diante desse cenário, vemos que ainda temos muito para caminhar. E às vezes até nos sentimos perdidos – por onde começar?

1 – Liderança

Precisamos de lideranças no setor que assumam esses problemas e trabalhem nas soluções de forma pioneira, engajando as pessoas chave das organizações, entidades de classe, governo e da sociedade. Essas lideranças precisam ser resilientes, persistentes e agregadoras. Porque a construção civil é um setor tradicionalista por natureza e avesso à inovação, por isso será necessário achar pessoas que tenham força de vontade, alto poder de influência e permeabilidade de mercado para liderar essas mudanças de forma bem-sucedida

2 – Cooperação das múltiplas partes

Não entendo por que as construtoras competem tanto entre si. Na briga por uma obra e outra, se esquecem que se realizassem parcerias para dividir conhecimento e compartilhar o que cada uma tem de melhor em termos de processos, gestão e tecnologia, todas teriam muito mais a ganhar. A divisão e o isolamento das empresas não “protege” suas inovações, apenas atrasa o setor e impede que as coisas sejam feitas com maior produtividade e de forma mais racional.

3 – Mudança de pensamento

As mudanças virão, é inevitável. As Construtechs (empresas de tecnologia focadas na construção civil) estão vindo com tudo e impactarão fortemente o setor, não dá pra negar essa realidade. Setores centenários e tradicionalíssimos como o táxi e os hotéis foram impactados severamente por aplicativos como Uber e Airbnb, e não houve nada que pudessem fazer a respeito – a não ser inovar também, mudar a forma de pensar, diferenciar seu produto e focar mais no consumidor – você - que é a real estrela do mercado, mas que muitas vezes é deixado de lado. Quem nunca teve uma experiência de compra ou aluguel de apartamento muito negativa?? Isso é somente um pequeno exemplo. O poder está finalmente passando para as mãos do consumidor em todo o mundo com a simplificação dos processos e o acesso à informação e é o consumidor que definirá se seu negócio irá falir ou não. Fique de olho! Se sua empresa não mudar a forma de pensar, ficará para trás.

4 – Transparência e ética

Por fim, não poderia deixar de falar do calcanhar de Aquiles das empresas de construção civil no Brasil – muitas das quais se encontraram envolvidas em escândalos de corrupção na Operação Lava Jato. A forma de se fazer negócios está mudando radicalmente e uma empresa precisa não só cuidar do seu desempenho, mas também da sua ética. Ela precisa mostrar ao mundo por que está ali, quais são seus valores, seu propósito de existir, com o que ela contribui para a sociedade, e vamos combinar, o mínimo é manter seus negócios de forma ética! Muitas empresas já correram atrás e estão realizando processos de compliance e anti-corrupção, criando uma cultura de transparência junto aos seus funcionários. Esse é o caminho, e tenho certeza que nos próximos anos a forma de fazer negócios terá mudado bastante. Não há mais espaço para manter a antiga maneira de se trabalhar, com propinas, “esquemas” e dinheiro na cueca.

E você, o que acha que pode contribuir pra ajudar o setor a inovar e ser mais produtivo? Conta pra mim! 

Anna Vörös

Professora | Universidade Tecnológica Federal do Paraná

7 a

Francine Naegele Vaz, parabéns por seus textos! Sou leiga nessa área e através do que você apresenta consigo acompanhar as opiniões e as análises das/os especialistas. Muito didático e sintético. Os comentários também são bastante informativos. Aguardo, com bastante curiosidade, os próximos textos. Abraços.

Sérgio L. S. Figueira

Engenheiro Civil - Professor Universitário e Pesquisador

7 a

Sua publicação é muito interessante, no entanto destacaria alguns aspectos, que considero relevantes, na área de edificações (residenciais, comerciais, mistas) urbanas: planejamento (urbano) sem consistência no longo prazo, inexistência de linhas decrédito (específicas e contínuas) para atendimento a empreendimentos de interesse social e de mercado (muita concentração do Sistema Financeiro), ausencia de infraestrutura facilitadora à desconcentração de áreas urbanas, baixa qualificação, remuneração e informalidade dos recursos humanos, rara utilização de novos processos construtivos (fortes lobbies), concentração oligopolizada por grandes empresas, instabilidade político-econômica frequente (temos projetos de governos, não de estado), etc. Precisamos de "sangue novo" para rever os "por quês" de continuarmos sendo um país do futuro.

Renato Costa

Real Estate @ Casa Orange S.A.

7 a

Muito bom

Lucio Felix Neto

CEO & Founder at RDO App | Diário de Obras como Ferramenta Lean Construction | @rdoapp

7 a

Excelente artigo, Francine Vaz! Parabéns! Estamos muito perto de lançar uma inovação que tem como objetivo contribuir para melhorar o desempenho na gestão das informações diárias de uma obra / serviço na construção civil gerando segurança jurídica para Contratante e Contatada através de um Relatório Diário de Obra (RDO) 100% Digital! Mais informações você pode encontrar aqui no Linkedin (RDOApp), no website (www.rdoapp.com.br) e no Instagram (RDOApp).

Acredito em relação aos tijolos,existe a questão da característica de não incêndio e aquecimento ou congelamento. Um exemplo básico e clássico do que digo foi o incêndio ocorrido em prédio popular na Inglaterra ano passado. A resistência das Intemperes e incêndio é importante haver.Eu acredito nisso.

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