Que as reflexões do Setembro Amarelo não se resumam a setembro
Sim, já entramos em outubro e eu estou aqui para falar sobre suicídio. Isso porque não podemos deixar que as reflexões acerca do tema se restrinjam a setembro. Antes de mais nada é imprescindível dizer: não se trata de frescura, drama ou exagero, não é uma forma de chamar a atenção, tampouco falta de Deus. O suicídio é um assunto muito sério e é fundamental que promovamos debates que visem a prevenir essa autoviolência.
Não adianta nada discutirmos a prevenção ao suicídio no Setembro Amarelo se nos demais meses do ano praticamos bullying com um amigo, desrespeitamos o próximo, somos preconceituosos ou negligentes com as queixas que nos trazem. Às vezes tudo o que o outro precisa é desabafar. É sempre bom conversar com alguém.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que mais de 700 mil pessoas cometem suicídio anualmente, sendo que esta foi quarta causa de morte de indivíduos com idades entre 15 e 29 anos em todo o mundo em 2019. Temos sempre que nos atentar à nossa capacidade de escuta, às nossas interações e à forma que recepcionamos as situações ao nosso redor. Será que realmente estamos acolhendo aqueles que nos cercam? Será que só os ouvimos ou os escutamos? Há diferença.
Além de provocar milhões de mortes mundo afora, a pandemia da Covid-19 potencializou os sentimentos de tristeza, medo, insuficiência, insegurança, ansiedade, solidão e o luto com tantas partidas. Um estudo da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, produzido em conjunto com universidades de 11 países, mostrou que o cenário atual provoca mais impactos à saúde mental de brasileiros do que de indivíduos de outras nações, porque o aumento de doenças psicológicas no Brasil está relacionado à demora em controlar a pandemia.
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Agora, mais do que nunca, é urgente que a sociedade invista em medidas que se destinem a combater o preconceito acerca do atendimento psicológico e psiquiátrico. Quando se está com problemas nos rins, bexiga ou uretra, por exemplo, o ideal é procurar um urologista. Quando se está com doenças e lesões decorrentes de fraturas, má-formação ou vícios de postura você busca por um fisioterapeuta. Assim acontece com quaisquer que sejam as demandas físicas. Por que é que ainda temos tanta resistência em procurar um especialista no que tange à saúde mental?
E essa resistência é ainda maior entre os homens. A Pesquisa Nacional de Saúde 2019 apontou que 69,4% dos homens passaram por consulta terapêutica em 2018; já entre o sexo feminino esse índice chega a 82,3%.
O machismo enraizado na sociedade ainda ecoa - e muito. Essa ideia de que homens não podem demonstrar fraqueza, não choram, devem ser fortes, viris, destemidos, provedores e bem resolvidos tem os adoecido. Segundo informações do Ministério da Saúde os homens apresentaram um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio que mulheres. O acompanhamento profissional é essencial na luta contra a autoviolência.
O preconceito mata. O machismo mata. O bullying mata. O desamparo mata. A falta de ajuda mata. Trabalhe o potencial de vida nas pessoas. A prevenção ao suicídio é uma causa que deve ser abraçada por todos, pois isso só é possível mediante um sistema de rede de apoio. Precisamos de menos julgamentos e mais acolhimento.