Quem tem medo do blockchain?

Quem tem medo do blockchain?

 Uma das palestras mais concorridas na abertura da RioInfo 2017, ontem (quarta-feira, dia 25 setembro) foi sobre Blockchain. Para falar sobre “Potencialidades de uso”, o evento compôs a mesa com os seguintes convidados: Aristides Cavalcante (Chefe-adjunto do Departamento de Tecnologia da Informação do Banco Central do Brasil), Cezar Taurion (VP de inovação da ISCBA & Partner da Kick Ventures), Rafael Nasser (Professor do Departamento de Informática da PUC-Rio) e Thiago Cesar (Ceo da Bit.One).

Todos enfatizaram que se trata de uma “palavra” nova, “descoberta” recentemente e que passou a ser muito “repetida” de 2015 para cá. Não “fecharam” uma definição sobre ela. Porém, algumas outras palavras foram associadas a essa novidade: disrupção, descentralização, confiança, transparência e colaboração. Nem sempre ao mesmo tempo.

Primeiro a falar, Cesar Taurion foi também o primeiro a associar blockchain à palavra disrupção por se tratar de um “ambiente de distribuição” que “em tese” não necessita de intermediários. Como a palavra blockchain surgiu nos discursos que envolvem criptomoedas, mais especificamente, bitcoin, esse “ambiente distribuído” foi associado, de imediato, a transações financeiras. E os bancos não gostaram muito de ver uma situação que junta, em uma mesma frase as expressões “transação financeira”, “ambiente distribuído” e “sem necessidade de intermediação”.

Assim, Taurion observou que o sistema financeiro saiu na frente na busca pelo melhor entendimento e uso do blockchain. Segundo ele, atualmente, 100 bancos centrais em todo o mundo estudam essa “novidade”.

“Os bancos estão preocupados em garantir o seu status quo”, afirmou Taurion.

Segundo ele, as atuais tentativas de utilização do blcockchain se apropriam da sua tecnologia, “mas não provocam disrupção”. Eu acrescento que o motivo disso é claro: ninguém quer “largar o osso” da centralização dos processos, principalmente de transações bancárias.

Taurion informou que, além dos bancos, grandes empresas investiram, até o momento, US$ 1,5 milhão para “estudar” o blockchain e já foram tiradas 2.500 patentes. Como uma das características desse “ambiente distribuído” é a confiabilidade dos dados, o blockchain está sendo visto como bom parceiro para negócios nas áreas de direito autoral, networking de IOT, registro de imóveis, produção de energia, rastreamento de armas, rastreamento de alimentos, guarda de documentos governamentais.

“Há muitas barreiras a vencer relacionadas com questões de regulamentação e áreas operacionais. A academia não está treinando mão-de-obra para trabalhar com esse assunto. Todos estamos em fase de aprendizado, mas em cinco anos, o quadro já será bem diferente”, afirmou.

Rafael Nasser definiu blockchain como sendo uma estrutura de dados que se apresenta de forma distribuída em que o registro é imutável. E enfatizou que essa imutabilidade é o ponto central dessa estrutura, o que garante a confiança desse ambiente.

“No Brasil, tudo é modelado para evitar fraude. Se conseguirmos reduzir os custos dessas relações com a elaboração de contratos claros com a garantia de que serão cumpridos, vamos reduzir muito o chamado custo Brasil”, afirmou.

Segundo ele, o montante já investido por empresas em tecnologia relacionada com blockchain já estaria, na verdade, na ordem do US$ 1 bilhão.

Estamos no momento de experimentar, sem medo de errar. Fazer coisas pequenas que possam evoluir gradativamente. Há uma pluralidade de negócios que o blockchain permite”, comentou Rafael Nasser.

Thiago Cesar avançou um pouco mais na definição: “um livro registro descentralizado onde todos os participantes da rede observam as transações”. Esse sistema, segundo ele, é a garantia da confiabilidade das operações realizadas com blockchain, principalmente, transações financeiras com uso de criptomoedas.

Aristides Cavalcante informou sobre estudos realizados pelo Banco Central Brasileiro envolvendo a tecnologia do blockchain e transações financeiras. As conclusões até agora, segundo ele,  indicaram que questões relacionadas com sigilo ainda precisam ser “aperfeiçoadas” e que não seria possível dar garantias de saldo sem a participação do Banco Central.

Ele foi o único que tocou em uma palavra: colaboração.

“Colaboração é um ponto chave. A eficiência é conseguida com aspectos de colaboração”, comentou.

Volto aqui a uma fala de Cesar Taurion, sobre como muito dessas experiências de utilização do blockchain se velem de sua tecnologia, mas não provocam disrupção.

Cito aqui uma definição de blockchain dada por Taivan Muller, um jovem catarinense que tem se dedicado a trazer para o mundo real dos negócios a forma de atuação em rede:

“O Blockchain é um livro-registro distribuído. Sua FORMA (arquitetura e processos) permite a circulação de valor por entre as pessoas, de forma transparente, segura e sem nenhum intermediário central. Desta forma, é possível adotar esta incrível ferramenta para sustentação do fluxo de valor em ambientes distribuídos, substituindo o modo de sustentação centralizado, característico nas organizações do modelo Industrial. O blockchain também gera enorme impacto na redução dos custos de transações, potencializando a interação e a coordenação do trabalho de forma distribuída.”

Ou seja, o blockchain não cria apenas novas formas de se fazer transações, mas altera toda a atual cadeia de poder e controle por ser uma tecnologia que vai além do (corroído) capitalismo fordista. Que os bancos estejam correndo para não perder a cadeira nessa dança é mais do que normal. Afinal, onde já se viu transação financeira descentralizada, com total segurança e transparência sem a necessidade deles! Ah, e a colaboração que o próprio Banco Central do Brasil observou? É o astro principal quando se fala em trabalhar em rede.

Ainda rola muito pano para essa manga.

A Rio Info é o principal evento dedicado à Tecnologia da Informação (TI) realizado anualmente no Estado do Rio de Janeiro e um dos principais do país. De 25 a 27 de setembro, no Centro de Convenções SulAmerica.

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