A quem você é leal?
Quando o assunto é trabalho, muito vem na nossa mente sobre ser leal a empresa, vestir a camisa, entre outros temas.
Muitos ainda dirão que esta lealdade está amplamente amparada na questão do compliance e integridade.
Entretanto, lealdade é não jogar em vão as palavras ditas e agir conforme a consciência e não apenas pelos fatos envolvidos.
Divido um texto publicado na Veja em 2008 que traduz bem esta ideia:
Amor é Lealdade
Seu filho e sua filha de 12 anos mostram enorme interesse em assistir o filme baseado em um livro que eles estão lendo na escola.
Você descobre que o lançamento será daqui a quatro sábados e promete que vai levá-los já na pré-estreia.
Será uma tarde muito especial, só vocês.
Melhor ainda, agora eles serão os primeiros a contar para os colegas de escola como o filme se desenrola, serão o centro da roda e heróis por um dia, graças a você.
Três semanas se passam e na quinta-feira anterior à pré-estreia seus colegas de trabalho o convidam para um jogo de futebol seguido de churrasco.
Seu chefe vai estar lá, jogando com a turma.
Um amigo se prontifica a buscá-lo às 10 horas do sábado.
Você nem se lembrou do compromisso anterior com os filhos.
No sábado, às 10 horas em ponto, seu amigo está à porta, quando seu filho, absolutamente estarrecido, lhe pergunta:
“Pai, você esqueceu o nosso filme?”.
Responda honestamente. O que você faz numa situação dessas?
1. Você diz que não irá ao futebol. Pede mil desculpas ao amigo, diz que não poderá jogar conforme o prometido, pede que ele explique o ocorrido ao seu chefe, e fim de papo.
2. Você pede mil desculpas aos seus filhos, explica a situação, diz que o chefe vai estar lá, que você os levará no sábado que vem, com direito a pipoca em dobro. E tudo se resolverá a contento, sem prejuízo de ninguém.
Qual das duas opções você escolhe?
Afinal, é sua carreira que poderia estar em jogo.
O que quero discutir aqui é a razão por trás da sua escolha.
O raciocínio que determinou a decisão de postergar o cinema com os filhos.
Você fez essa opção porque no fundo sabe que seus filhos o amam.
E, porque o amam, eles entenderão.
Sem dúvida, eles ficarão desapontados, mas não para sempre.
Porém, com esse tipo de raciocínio, você acaba colocando as pessoas que o amam para trás.
Justamente as pessoas que nos amam é que acabamos decepcionando.
Que recompensa é essa que dispensamos àqueles que nos amam e que nos são leais?
Por quanto tempo eles continuarão nos amando diante de atitudes assim?
Eu não tenho a menor dúvida de que você escolheu jogar futebol porque sabe muito bem que seu chefe não o ama.
Muito pelo contrário, ele não está nem aí para você.
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Ele pode substituí-lo na hora que quiser, sem um pingo de remorso.
Você aceitou jogar com os colegas para que eles gostem um pouco mais de você.
E com os seus filhos, que já o adoram, você aproveitou para negociar.
Eles não vão dizer nada, vão entender, mas sentirão calados uma punhalada nas costas.
A lógica diz que deveríamos ser leais com as pessoas que nos amam, mas na prática fazemos justamente o contrário.
Se você acha que ninguém o ama ou que não é amado o suficiente, talvez isso ocorra porque você não tem sido leal com as pessoas a quem ama.
Achar que elas serão sempre compreensivas e razoáveis é seguramente o caminho para o desastre.
Seus filhos acreditarão em você na próxima vez que lhes fizer uma promessa?
Eles aprenderão o significado da palavra lealdade?
Seu chefe vai esquecê-lo totalmente um mês depois de você se aposentar, bem como os seus colegas de trabalho.
Seus filhos não.
Stephen Kanitz
Revista Veja, 2008
*EXTRAÍDO DO PORTAL DO FACEBOOK DO AUTOR EM 22 DE MARÇO DE 2022
Em uma sociedade em que mais de 80% das empresas são familiares, a quem estamos sendo leal mesmo?
Questiono, pois na realidade dura do dia a dia, com nossos pais, irmãos, filhos assumimos erros, brigamos, deixamos de lado, para outro dia. Quando se trata de um amigo, fornecedor, cliente, parceiro ou terceiro, não o fizemos, pois não queremos macular a nossa imagem.
Se queremos encher o peito para dizer que somos leais, melhor começar dentro de casa, assumindo com quem te ama, te respeita, te quer bem os compromissos.
Não se trata de deixar o trabalho de lado.
Não se trata de não focar no corporativo ou no que te traz retorno.
Trata-se sobre dar a mesma atenção, o mesmo compromisso, a mesma verdade a ambos os lados.
E como dica adicional: Foque no que você está fazendo agora.
Não adianta brincar com seu filho(a) e ficar no celular checando mensagens ou respondendo áudios ou vendo redes sociais.
Naqueles minutos que estás com a família, seja a família. Depois, mude seu foco.
Lembre-se que o tempo não volta atrás e cada dia é único.
Assim, você pode ter perdido o ontem, mas hoje, você pode mudar e fazer a diferença.
#PenseNisto
Sou Gustavo Rocha
Professor da Pós Graduação, coordenador de grupos de estudos e membro de diversas comissões na OAB.
Atuo com consultoria em gestão, tecnologia, marketing estratégicos e implementação de adequação à Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD.
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