Radicais livres: eternos inimigos ou professores da Saúde?
É comum pacientes adentrarem o consultório relatando o hábito de dietas voltadas para eliminar radicais livres, isso exige orientação
Por Felipe Teles*
As pessoas estão se preocupando mais com a própria saúde e bem-estar. Essa mudança de predileções foi fortemente acelerada pela pandemia do coronavírus. Ou seja, está ficando cada vez mais claro que evitar e prevenir as doenças é, de fato, a melhor escolha entre tratamento e cura. Porém, essa corrida para a manutenção do equilíbrio das funções do corpo pode se tornar uma função inversa - para não usar o velho jargão do tiro saindo pela culatra. Alimentação desbalanceada, prática de exercícios de forma errada e adoção de dietas ineficazes são o resultado da falta de informação e orientação. E aqui entra o papel do médico.
Quando se fala em radicais livres, boa parte da população faz uma relação direta com o surgimento de tumores cancerígenos. Convenhamos, o câncer ainda é um tema que merece bastante atenção por parte dos profissionais da Saúde para a transformação da maneira como os pacientes lidam com a doença. O papel aqui não é se passar por advogado do diabo. Sobretudo inferir na decisão médica de profissionais que conhecem seus pacientes e adotam posicionamentos diferentes da literatura médica.
Doutor Google
A preocupação é com as pessoas que não estão sendo orientadas e tomam decisões baseadas em interpretações nocivas de conceitos. Por exemplo, uma busca rápida e sem filtros na internet resulta na seguinte definição de radicais livres:
“Em Química, os radicais ou radicais livres são átomos ou moléculas que contém um número ímpar de elétrons na sua última camada eletrônica e, devido a este não emparelhamento, são muito instáveis e têm alto poder reativo. Essas moléculas são liberadas pelo metabolismo do corpo com elétrons instáveis e reativos, podendo conferir doenças degenerativas de envelhecimento e morte celular.” (Wikipédia)
Usando um pouco do conhecimento médico, é possível abstrair informações mais precisas sobre os radicais livres e a associação com o câncer e o envelhecimento de pele, por exemplo. O trecho a seguir foi extraído do artigo Radicais livres: em busca do equilíbrio:
“Em função das ações prejudiciais causadas pelo estresse oxidativo que comprometem as diversas atividades celulares, radicais livres e espécies reativas, de forma geral, têm carregado o ônus de desempenhar papéis danosos. Contudo, uma série de estudos tem revelado que a formação contínua de radicais livres é fundamental para o funcionamento fisiológico e celular adequado, produção de energia e metabolismo bem regulado...”
Empoderamento
Na Saúde 4.0 o paciente é tudo, menos paciente. Explico: as relações sociais e o tráfego de informações estão altamente acelerados. Tudo acontece na palma da mão das pessoas, que não querem mais esperar pelo atendimento na recepção de um hospital. O poder de escolha foi disruptivamente ampliado pelas novas tecnologias. Portanto, o que tem de ficar claro para os usuários do sistema é que o médico não é mais um ator da Saúde. Ele é um profissional para a saúde e acesso à qualidade de vida, além de assessor permanente para prática e adoção hábitos que realmente favorecem o bem estar das pessoas.
É por isso que os radicais livres devem ser apresentados (de forma comparativa) como professores da Saúde. Na tentativa de “evitá-los” muitos pacientes estão tomando decisões que podem se converter em malefícios fisiológicos. Enquanto que uma breve consulta online ou presencial com um profissional da assistência pode sanar todas as dúvidas e direcioná-lo para o caminho da saúde plena.
*Felipe Teles é radioncologista, com MBA em gestão hospitalar e membro da Sociedade Brasileira de Radioterapia.
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