A RAIZ DA PREDESTINAÇÃO


55- A RAIZ DO DETERMINISMO

Se você pesquisar irá achar a raiz da predestinação por volta da metade primeiro século, era combatido com muita severidade, são dois os percussores da seita assim denominada, talvez os dois principais iniciadores desse pensamento foram: Basílides (120-145?) e Valentim que viveu até ano 161 AD, de certa forma foram contemporâneos, essa heresia era conhecida como “heresias grega”. “A Igreja lutava contra dois movimentos heréticos muito fortes, um vinha da Grécia outro da Judéia, os apologistas escreveram: ““Adversus judaeos” e “Adversus haereses”, a primeira vinha dos judeus a segunda  dos gregos.

A segunda heresia tinha origem na Grécia, o gnosticismo, essa que até hoje é como joio no meio do trigo, ela entra na igreja com os ensinamentos de Teodoro Beza e Franz Gomarus. Mas vamos ver primeiro quem foi Basílides: Nasceu em Alexandria, foi discípulo de Menandro, não funda escola e teve um filho de nome Isidoro que foi o seu sucessor. É conhecido porque os pais padres apologistas nos seus editos de combates aos hereges Hipólito (170-235) e Tertuliano (160-220) citam os nomes deles.  Basílides escreveu uma obra com 24 volumes cujo tema era: “Interpretações do Evangelho” na qual anuncia o Pai, princípio incriado, o Não-Ser, emanaram cinco hipóstases angélicas das quais uma delas seria Jeová e 365 mundos incluindo a Terra. A sua doutrina ensinava que o Deus Supremo era Abraxas, primeiro a mente (Mahat), a quem os gregos chamavam Nous; a Mente que emanou o Logos ou Razão, de quem emanou a Prudência (Fronesis) que gerou a Sabedoria e a Força (Dinamis); e destas, as Virtudes, Principados e Potências superiores que habitam o Pleroma, o mais alto céu, das anais emanaram os anjos, potências menores, que criaram os mundos da matéria eterna, inclusive a Terra; e para ela fizeram migrar, de outros mundos, diversas etnias de almas humanas. Cada etnia tem uma origem estelar diferente.

E a doutrina de Basílides?

A tese principal de Basílides era de que a fé é uma coisa real. Não se trata, portanto, como na atualidade pensamos de um sentimento, de uma produção subjetiva, nem um sentimento ou faculdade da alma, nem consequência da relação do homem infinito e a infinitude. A fé seria depositada no espírito do homem, ela não é inata, Deus concede no homem essa fé, mas não em todos os homens, ele deposita no espírito dos eleitos. Deus age (escolhendo). Depositando esta coisa real, que é a fé, nas almas dos que estão predestinados à salvação. Como Deus é eterno e infinito, essa escolha (predestinação) é desde toda a eternidade. Ora, ao escolher uns e nãos outros, Deus produz uma dualidade na realidade. E Basílides representa essa diferença afirmando que há dois princípios de realidade: O bem e o mal. A coisa real que é a fé estabelece um princípio. Sua privação estabelece outro. Essa noção de que há duas realidades, não comunicantes, bem e mal, luz e trevas, está em Basílides como em outros gnósticos, e é uma antiga tradição oriental. Talvez do persa Mani de onde vem o maniqueísmo, ensinamentos que envolveram Agostinho na sua mocidade. Essa divisão da realidade é uma doutrina antiga tradição oriental. O alinhamento do bem e do mal é determinado por Deus e diminui completamente a possibilidade de ser livre. São predestinações a viver segundo os princípios de realidades diferentes, em opostas dimensões de existências. 

Os cristãos logo perceberam o perigo dessa heresia que eliminava a doutrina do perdão, sem amor ou misericórdia essa doutrina foi colocada no meio da Igreja para destruir todo fundamento do verdadeiro evangelho. Em Basílides não fica comprovado a luta entre o bem e o mal como nos manuscritos do Quram, em Basílides o bem e o mal são inconciliáveis. Não tem contato o Bem é da Luz e o Mal é das trevas. Não há resgate possível das trevas para a luz, assim como não há do reprovado para os eleitos, um foi destinado ao céu e outro ao inferno e isto desde a eternidade.

Agora vamos ver o segundo personagem: Valentim, ele viveu até 161, estudou filosofia em Alexandria terra de Hipátia, foi aluno de um certo Theodas, discípulos de Paulo de Tarso que o converteu a fé cristã e o batizou, mas Valentim tornou-se filósofo gnóstico, foi professor em Alexandria e mudou-se para Roma onde ensinou por 24 anos, chegou a ser canonizado, mas depois excomungado. A ele se atribui a obra conhecida por Pitis Sophia que contém supostos ensinos de Jesus depois da ressurreição. Ele criou uma doutrina dualista muito semelhante à doutrina do seu parceiro Basílides. Para Valentim tudo se resumia em “eons”, que são deuses, o décimo terceiro Éons, o Logos ou o Verbo, toma para si a missão de libertar as almas humanas decaídas, e irrompe na matéria, por intermédio da virgem Maria tornando-se a pessoa de Jesus. Valentino conquistou muitos discípulos, na sua pirâmide de doutrina no cume estava o Pai, seria o “Eone”, o perfeito, e é supremamente real, ele rompe com a transcendência judaica onde Deus é real, mas não visível, real, mas de um modo distinto da realidade que percebemos.

Há três tipos de homens segundo Valentim, os carnais, que estão sempre perdidos, os psíquicos, que com algum esforço podem ser salvo; e os espirituais, que são predestinados. Não como ensina Basílides, pelo depósito da fé, coisa real, que Deus faz na alma dos eleitos. Os espirituais não se salvam, como os psíquicos, pelo seu trabalho. Os espirituais de Valentim já estão salvos. São predeterminados à salvação. E o que lhe permite efetivamente serem salvos, cumprindo a predestinação, é o conhecimento dos mistérios divinos. É isso que Valentino dá o nome de gnose. A gnose é um conhecimento. É possível perceber nesse passo algo como a mistura de Basílides com Carpócrates. Ter a capacidade do conhecimento dos mistérios divinos é de certa forma como o lembrar-se do que se aprendeu com Deus que Carpócrates atribui a Cristo. Por outro lado, está presente a ideia de predestinação, que encontramos em Basílides, mas não em Carpócrates. Todos beberam de Mani que se autoproclamava o Paráclito.

Para Mani não havia uma diferença no dualismo de Zoroastro, Para esses persas luz e trevas estão em combate e no homem habita duas almas uma boa e outra má, elas lutam entre si, o homem é o campo dessa luta, tudo se constituiu em dois, o bem e o mal, que corresponde a dualidade de tudo, Agostinho abraçou essa ideia na mocidade, essa influência foi enorme no primeiro século quando ainda não havia sido organizado o Canon do Novo Testamento, circulava muitos evangelhos, muitas cartas e todos absorveram essa ideia, de uma luta entre a boa alma e a má dentro do homem. Ninguém menos do que Agostinho foi maniqueu, a influência de Mani foi forte no primeiro século e os gnósticos deram muito trabalho.

Irineu e Hipólito combaterão violentamente o gnosticismo e Santo Agostinho combateu a doutrina de Mani, mas a ideia da predestinação ele tomou emprestado do repertório gnóstico e Lutero um agostiniano do século XVI, não seguiu caminho diferente.

O gnosticismo não é uma fonte cristã autêntica porque não é uma autêntica fonte judaica, disse Agostinho, mas o professor Marcio Tavares do Amaral diz: “Agostinho poderia ter acrescentado: não são o gnosticismo e o maniqueísmo autênticas fontes gregas, não se encontram em Platão”.

Conclusão: A doutrina da predestinação é gnosticismo que foi condenado pelos pais da Igreja por ensinar a salvação por meio de um conhecimento e não pela fé em Cristo Jesus.

Bispo I. Barreto.


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