Realidade atropela discursos
A realidade cambial atropelou os discursos de dirigentes dos Estados Unidos e da China e disparou sinal de alerta em todos os mercados. E não apenas os financeiros. O governo brasileiro -- que anda colado ao governo americano por afinidades entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump -- se não experimentou está prestes a experimentar as agruras de um concorrente dos EUA caso venha a se tornar o principal provedor de soja para o país vermelho. Apesar da tentativa do governo chinês de desmentir a informação, correu solta nos mercados globais, nesta segunda-feira, a notícia de que a China suspendeu as compras de soja de fornecedores americanos.
O Brasil é o segundo maior exportador do grão para os chineses, perdendo a liderança para os EUA. E caso venha a substituir o líder nessa relação comercial poderá ampliar o saldo das contas externas. Se Trump aceitará calado essa eventual troca de parceria no comércio internacional de grãos serão outros quinhentos. É fato, porém, que a guerra comercial entre EUA e China pode ter se aproximado muito do Brasil e, se essa percepção for confirmada, pouco se sabe sobre potenciais consequências. Trump não é a favor do Brasil. É a favor dos EUA. Aqui não cabe ilusão ou torcida.
A jornalista Fernanda Pressinott, especialista em Agronegócios do Valor, relatou ao longo do dia a elevação dos prêmios da soja no mercado internacional e também no Brasil. Os negócios transcorreram num clima de alta tensão disparada muitas horas antes com a desvalorização do yuan ao nível observado pela última vez em 2008: mais de 7 yuans por dólar.
Tamanha desvalorização da moeda chinesa chamou o presidente Trump às falas. E ele acusou a China de manipulação cambial como forma de compensar a tributação em 10% de importações que somam US$ 300 bilhões. Essa taxação específica foi anunciada por ele anunciada no final da semana passada.
Especialistas em operações internacionais temem que as disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo se transformem em disputas cambiais, inclusive, porque a fronteira entre ambas é tênue. Contudo, disputas cambiais – com ataques às moedas e súbitas e intensas desvalorizações – são propagadas em alta velocidade e sem seleção de idioma. As economias mais frágeis são as que mais apanham.
A queda que se alastrou pelas Bolsas do mundo inteiro também apanhou o Ibovespa que chegou a cair ao patamar de 99.000 pontos, mas fechou pouco acima de 100.000. O dólar escalou R$ 3,95 / R$ 3,96. O respiro que poderia vir de Brasília não se confirmou. Por falta de quórum, a Câmara encerrou a sessão que chegou a ser aberta. Mas, sem discussões, o dia não contou prazo para a votação da reforma da Previdência em 2º turno.
Nesta terça-feira, a reforma estará em pauta.
Horas antes, porém, o Banco Central publicará em seu site a Ata do Copom que se reuniu, na semana passada, e cortou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 6% -- novo recorde de baixa. A leitura atenta do documento por economistas e operadores poderá referendar a aposta de que mais cortes virão e que a Selic cairá ao patamar de 5%. A pesquisa Focus, divulgada pelo BC nesta segunda-feira, aponta Selic em 5,25% no fim do ano.
O comunicado do Copom – publicado na quarta-feira de anúncio da taxa Selic e, portanto, precede a Ata do Copom – mencionou explicitamente pela última vez, em fevereiro, a disputa ou guerra comercial. O comunicado, o último assinado pelo economista e então presidente do BC Ilan Goldfajn, afirmava: “O cenário externo permanece desafiador, mas com alguma redução e alteração do perfil de riscos. Por um lado, diminuíram os riscos de curto prazo associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas. Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit.”
No comunicado do Copom de março, o comando do BC ainda via o cenário externo desafiador, lembrando que os riscos associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas recuaram desde a reunião do comitê em fevereiro, mas os riscos associados a uma desaceleração da economia global, “em função de diversas incertezas, mostram-se elevados”.
No comunicado de maio, o cenário externo mostrava-se “menos adverso”, em decorrência das mudanças nas perspectivas para a política monetária nas principais economias. Entretanto, os riscos associados a uma desaceleração da economia global “permanecem”.
No comunicado de junho, o cenário externo mostrava-se “benigno”, em decorrência das mudanças de política monetária nas principais economias. Entretanto, os riscos associados a uma desaceleração da economia global “permanecem”.
Em tempo: Boa notícia, a Caixa funcionará das 9h às 16h aos sábados subsequentes à liberação dos saques de R$ 500,00 nas contas do FGTS, a partir de 13 de setembro, e mais duas horas nos cinco dias de expediente após a liberação dos saques que poderão ser feitos até 31 de março de 2020. Os recursos que não sacados voltam para o FGTS.