Recalculando rota... Hertz muda sua estratégia com relação aos carros elétricos - o que isso traz de aprendizado?
Brendan McDermid/Reuters

Recalculando rota... Hertz muda sua estratégia com relação aos carros elétricos - o que isso traz de aprendizado?

Na semana passada, uma notícia publicada pelo New York Times sobre a empresa americana Hertz, que atua no negócio de aluguel de veículos, ganhou bastante repercussão. Essa notícia compartilhava a mudança da estratégia da Hertz com relação a seus planos de eletrificação de sua frota.

Artigo publicado na NYT em 11 Jan 2024

Logo após essa publicação, uma série de reações começaram a repercutir, desde pessoas comentando a notícia, intensificando o debate polarizado que já existe sobre o tema de futuro da mobilidade, até impactos nos valores de ações da Hertz e Tesla, uma das maiores fornecedoras da frota de carros elétricos para a empresa e até mudança no planejamento de produção da Ford e GM nos EUA reagindo a essa mudança de estratégia.

Para mim, esse case é muito interessante, uma vez que traz muitos aprendizados e insights. Minha intenção não é tomar nenhum partido mas levantar pontos de reflexão que são muito importantes quando falamos em ESG.

Porque a mudança na estratégia ocorreu?

O que mais me chamou a atenção, é que essa mudança na estratégia, não está relacionada com a experiência do cliente, nem com a qualidade do carro e nem com a questão do impacto ambiental do mesmo (que normalmente é o ponto mais debatido).

Os carros são ótimos, a experiência é incrível e os clientes estavam gostando muito! Então o que aconteceu, de fato?

A mudança na estratégia foi totalmente relacionada com a rentabilidade desse modelo de negócio.

Na teoria, seria muito interessante eletrificar a frota, visando benefícios do ponto de vista ambiental, principalmente com relação à descarbonização. Porém, na prática, a rentabilidade desse modelo de negócio não se mostrou viável

Inicialmente, a empresa tinha como objetivo converter 25% da sua frota para carros elétricos até o final de 2024. No entanto, alguns fatores foram críticos, como o alto custo de despesas relacionadas com colisão e danos de carros elétricos e a desvalorização do valor de mercado dos mesmos.

Ou seja, no fim, a conta não fechou para a operação da Hertz. Por mais que eles tenham tido um lucro operacional, o valor dispendido com o uso da frota elétrica não vem se mostrando rentável.

A importância do P&L

Cada vez mais, empresas vem adotando estratégias e ações para evoluir em temas de ESG. Atire a primeira pedra a empresa de capital aberto ou governo que não tem metas específicas focadas em ESG, como metas de descarbonização, redução de resíduos ou diversidade e inclusão, só para citar alguns exemplos.

No entanto, existe uma longa distância entre a intenção e a ação e até entre a ação e o resultado, quando falamos em ESG. Mesmo com tantas metas e objetivos, quantas empresas ou governos, na prática realmente estão tendo resultados efetivos e atingindo esses indicadores?

Tirando algumas questões mais complexas, em que realmente, ainda não existem ainda soluções conhecidas, do ponto de vista técnico-científico. Muitas dessas empresas não conseguem entregar esses resultados por conta da viabilidade do modelo de negócio.

O ROI (Return on Investment), assim como o impacto ambiental e social, é um grande fator a ser considerado para projetos em ESG. É muito difícil que projetos sustentáveis sejam implementados, ou até sejam implementados, porém depois cancelados, caso não sejam saudáveis do ponto de vista de viabilidade econômica também.

Não estou querendo dizer que o objetivo dos projetos em ESG deva ser o lucro, mas que minimamente a operação se pague. Isso porque muitas vezes, as tecnologias, materiais ou processos envolvidos em projetos de sustentabilidade envolvem um custo mais elevado.

Visão Sistêmica

Outro ponto que me faz refletir é a importância da visão sistêmica e colaboração para projetos em ESG.

No caso da Hertz, temos vários atores envolvidos, Tesla, consumidores, fabricantes de carros movidos a combustão, como a Ford, GM, entre muitos outros. Ou seja, temos um ecossistema super complexo, com suas expectativas e interesses e interagindo constantemente.

Então para mim, além da viabilidade de negócio, temos que ter uma visão sistêmica muito apurada e quanto mais conectados com o ecossistema, melhor para todos!

Conclusão

Os projetos em ESG, além de serem avaliados por seus benefícios ambientais e sociais requerem a análise da viabilidade de negócio como ponto crucial para seu sucesso.

No caso da Hertz, obviamente eles devem ter feito essa análise, porém diante das constantes mudanças que ocorrem no mundo atual, mesmo um bom planejamento e análise precisam ser recalculados com frequência.

Para mim, o caso da Hertz, mesmo com a mudança de rota, é um ótimo case e positivo. Porque ao menos a empresa teve a iniciativa, tentaram, testaram o modelo e por fim tiveram que ajustar, pois talvez, nesse momento, no contexto que estamos, ainda não esteja redondo o modelo de negócio para ser viável. Vejo muito valor no teste, erro e aprendizado comparado àqueles que talvez nem tiveram a coragem de arriscar alguma iniciativa.



Este é um dos motivos da importâncias das empresas investirem em qualificação profissional em ESG, principalmente para as pessoas que tem contato com este tipo de projeto ou negociação.

Luiza Toscan

Sustentabilidade | Mudanças Climáticas | Descarbonização | Desenvolvimento de Negócios

11 m

Gostei muito das reflexões, Ju!! Será que se houvesse precificação das emissões e o custo da tonelada de CO2eq entrasse na conta o cálculo do ROI dessa iniciativa teria outro resultado? O contexto regulatório tem importância vital em viabilizar essa tipo de iniciativa.

Paulo de Tarso Barros

Gestão de Projetos e Processos | Gestão de Mudanças | PMO | Liderança | Estratégia | Cultura de Aprendizagem | Power Skills | Mentoria

11 m

O futuro pertence às empresas que são capazes de aprender rapidamente através dos testes, erros e acertos. Parabéns! Mais um artigo rico e muito esclarecedor!

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