A Reclusão é uma Oportunidade de Reflexão
Este contexto de reclusão tem sido uma oportunidade de refletir nalguns aspectos relevantes da nossa dinâmica cristã e de como respondemos como cristãos a esta crise pandêmica global. Estive lendo a experiência do profeta Elias, quando devido ao confronto com os profetas de baal, tendo evidenciando o poder sobrenatural de D’us que responde a sua oração com fogo dos céus, consumindo o holocausto que fora preparado por Elias, em confronto à baal e seus seguidores, que apesar de seus apelos e inclusive mutilação física (costume da época), não tiveram nenhuma resposta de seu deus, sendo executados posteriormente. Isso despertou a ira da Rainha Jesabel, que ao saber da morte de seus profetas, ordenou a execução de Elias, que fugiu para se esconder numa caverna com medo da Rainha.
Ele voluntariamente entrou num período de reclusão, oportunidade singular para ele refletir nas coisas mais relevantes e importantes. Então, a reclusão se torna uma oportunidade de reflexão. E, no nosso caso, devido à pandemia, a reclusão acaba sendo involuntária. Fazendo um paralelo entre ambas experiências, a reclusão pode ser uma oportunidade para refletirmos a nossa “Identidade em D’us”. No caso de Elias, o próprio D’us questiona repetidas vezes o que ele estava fazendo ali (1 Reis 19:9-14). E sua resposta vem seguida de um discurso religioso-vitimista, do quanto ele servia ao Senhor e de sua fidelidade, entre os “muitos que se desviaram” dos caminhos do Senhor e curvaram-se a baal, como último remanescente dentre toda a nação de Israel, agora marcado para morrer devido a ira da Rainha.
E, no contexto bíblico, D’us chama Elias para fora da caverna, para ele saber que o Senhor estava com ele, que o convida a “ficar na Sua presença" (vs. 11). E D’us se manifesta de diferentes maneiras, como num grande e forte vento, que com certeza foi sentido/ouvido por Elias, mas D’us não estava no vento; depois num terremoto, que também foi sentido/ouvido por ele, mas D’us não estava nele; num fogo que passou diante da caverna, visto/sentido pelo profeta, mas D’us não estava no fogo; e, por último, um sussurro numa brisa suave ouvido/sentida por ele, entendendo que a presença de D’us estava nela e assim saiu da caverna. D’us estava presente no sussurro e suavidade da brisa, num contexto de conflito interior de Elias, que se sentiu à partir daquele momento seguro para sair e entrar na presença do Senhor.
No momento de reclusão e conflitos interiores, voluntária e/ou involuntariamente, algumas vezes nos sentimos perdidos com relação à nossa identidade, de quem somos em D’us e seu chamado/propósito para as nossas vidas. Nesse contexto de reclusão, assim como Elias, ficamos remoendo as conquistas e solitude ostracista, que pode se tornar um inimigo, ao invés de simplesmente estarmos na presença do Senhor. Apenas quando decidimos quebrar esse invólucro é que percebemos que ELE está presente, não nos turbilhões de situações adversas que vivenciamos, dos ventos contrários, dos chacoalhões que a vida nos dá, do fogo ardente das nossas questões afetivo-relacionais, antes sim, na brisa suave sussurrando EU estou aqui. Daquele que promove “a paz que excede todo o entendimento” (Fp. 4:7).
E, também, é interessante ressaltar o fato de que D’us manda o profeta voltar pelo mesmo caminho (vs. 15). Voltar pelo mesmo caminho é “trazer à memória aquilo que nos trás esperança” (Lm. 3:21). Para o profeta Elias era relembrar quem ele era em D’us, daquilo que ELE tinha feito na vida e através da vida dele, do revestimento e autoridade que tinha na presença de D’us, de seu chamado e comissionamento como profeta, assim como das manifestações sobrenaturais de D’us através de sua vida. Isso foi o que fortaleceu o profeta na sua jornada, a sair da caverna, estar na presença de D’us e retornar pelo mesmo caminho que ele estava. Isso nos revela que D’us está conosco, que nossa força está nELE, e que precisamos romper com àquilo que nos rodeia, para estar na presença dELE e continuarmos firmes.
A reclusão de Elias também revela a sua humanidade, suas limitações e medos, de algo que tem haver com a nossa natureza (vs. 3, 10,14). Não há nada errado em ter medo, é algo natural e até saudável. O medo nos ajuda a sermos mais cuidadosos e cautelosos com as situações que nos envolvem. Porém, o medo não pode ser a bússola e parâmetro para as nossas vidas, pois podemos nos tornar escravos dele e nos esconder da realidade que nos cerca. O medo de Elias era real e tinha haver com a sua vida, mas o medo não podia impedi-lo de continuar a sua missão, não determinava quem ele era em D’us. E a presença do Senhor era notória, algo que o medo estava ofuscando. Nesse contexto de reclusão é natural sentimos medo, ser precavidos com relação à exposição, mas não pode determinar quem somos.
A nossa identidade em D’us, quem nós somos nELE, as experiências vivenciadas com ELE, são os fatores primordiais para vencermos nosso medo do que estamos vivendo e do que está por vir. Nós como cristãos deveríamos considerar um grande privilégio estarmos vivendo estes momentos históricos da humanidade, daquilo que o Senhor Jesus disse que aconteceria nos “tempos do fim”, de um cenário muito bem descrito por ELE mesmo dos sinais dos tempos, das revelações deixadas para que pudéssemos acompanhar e estarmos atentos com relação ao Seu retorno. E, não podemos deixar os nossos medos nos estagnar, pois “o verdadeiro amor lança fora todo medo” (1 Jo. 4:18). E ELE é a expressão do verdadeiro amor, lembrando que esse amor é sacrificial, e nada que façamos poderá se comparar.
A reclusão também é uma oportunidade de refletirmos na “solitude & coletividade”. A solitude no aspecto de aproveitarmos esse tempo à sós com D’us, alinharmos a nossa relação com ELE, da intimidade que nós podemos desfrutar nesses tempos de reclusão, assim como, de nos deliciarmos na presença dELE. E, a coletividade, como no caso de Elias, que se ‘achava’ sozinho, enquanto D’us lhe afirma que haviam sete mil que não se dobraram à baal (vs. 18), revela o aspecto da Igreja de Cristo, das comunidades cristãs ao redor do mundo, um reflexo de que nós não estamos sós, mas que há centenas de milhares de adoradores, uma multitude que se une em oração e louvor, nessa batalha que não é apenas pandêmica e político-econômica, antes sim, uma batalha espiritual à qual conclama toda Igreja de Cristo.
E, nesse contexto, aproveitarmos para refletir na nossa reação como cristãos. Elias tentou fugir e esconder da realidade, até ser chamado à razão. E enquanto a nós? Será necessária essa intervenção? Quero acreditar que não, pois como Igreja nós podemos dar uma resposta positiva ao que está acontecendo, aproveitar de toda a tecnologia que temos à nosso favor para nos conectar com as pessoas, aliarmos as nossas forças, encorajarmos uns aos outros, sermos o suporte necessário àqueles que dele necessitam. Estamos reclusos mas não imobilizados, entendendo o nosso papel como Igreja nesse momento de sermos resposta, e o grande privilégio que é fazer parte desse momento, levando à termo o comissionamento de ser Igreja e trazermos luz àqueles que ainda estão aprisionados nas trevas.
Na experiência pessoal de Elias D’us deu às diretrizes necessárias de “retornar por onde veio, de ungir Hazael como Rei de Aram; Jeú como Rei de Israel; e Eliseu como profeta” (vs. 15,16). Quais foram às diretrizes que D’us nos deu como Igreja através de Jesus Cristo? Nosso chamado é de pregar o evangelho à todos indistintamente, de fazer discípulos de todas às nações, de discipular e batizar nossos irmãos, até que ELE retorne (Mt. 24:14; 28:18-20). Nós temos de aproveitar todas as possíveis oportunidades, começando com nossas famílias no contexto em que estamos, mas podemos ir além disso com toda a disponibilidade tecnológica que nós temos hoje em dia à nossa disposição, pois ELE está às portas e os sinais se cumprindo progressivamente, basta estarmos atentos e sintonizados com o que vem acontecido no mundo nos últimos anos.
E, por último e não menos importante, a reclusão é uma oportunidade de refletir na “Soberania de D’us”. Como no caso do profeta, se sentindo sozinho e com medo, como se D’us não estivesse no controle da situação, além de revelar para Elias que haviam sete mil que não haviam se dobrado a baal, mandou que ungisse àqueles que seriam os reis subsequentes e o profeta que sucederia ele (vs. 19-21). D’us estava no controle, inclusive preparando o sucessor de Elias, sabedor de suas limitações e que estava cansado. Elias obedeceu, algo de extrema relevância, ao invés de ficar na sua reclusão, preparando e discipulado àquele que o sucederia na missão. E, para nós, é uma lição de obediência em tempos difíceis, independente do contexto que estivermos, entendendo que D’us está no controle de tudo!
Tudo o que estamos vivenciando hoje à nível global, tanto a pandemia quanto a crise político-econômica, não foge ao controle divino! ELE está mais interessado na motivação do nosso coração e na nossa disposição de obedecer. ELE continua no controle da história e dos fatos, ressaltando que não foi ELE o criador da situação, pois tem haver com a nossa natureza decaída, mas que ELE continua no controle da história, para passarmos por este singular momento da nossa história como humanidade, pois faz parte dos sinais que denunciam que o Senhor Jesus está cada vez mais perto de retornar, para assumir Seu trono e continuar reinando sobre as nossas vidas. Até que ELE venha é nossa responsabilidade continuarmos com a extensão de Seu Reino para que todos os povos, tribos, línguas e nações, estejam na presença do Cordeiro de D’us (Ap. 7:9), para reinarmos com ELE triunfantes!
Maranata, ora vem Senhor Jesus !!!