Reconheça quem e o quê, no meio do inferno não é inferno, preserve e abra espaço.
Já faz muitos anos que vi essa frase em um dos livros que tive que ler pra escola. Trata-se do "Cidades Invisíveis" de Ítalo Calvino.
Neste livro o escritor conta a história de Marco Polo, famoso viajante que descreve para Kublai Khan as incontáveis cidades do imenso império do conquistador mongol. O imperador fica frustrado por não poder ver com seus próprios olhos toda a extensão de seu império e resolver dar à Marco a missão de contar as maravilhas das cidades por onde passou.
Eu confesso que na época muito jovem ainda, a frase não me tocou de imediato e só conseguia pensar em como descobrir maneiras de seguir a dica do livro muito tempo depois.
Reconhecer quem e o quê não é inferno no meio do inferno, preservar e abrir espaço pra isso.
A imagem do título é a cidade de Anastasia. Segundo a percepção da artista que fez a ilustração em Anastasia você acha que está feliz por viver lá, mas na realidade não está. Por isso, a ilustração reflete uma cidade que é alegre no topo, com pipas e ruas elevadas, mas no subsolo é como uma mina escura, na qual você está preso e é obrigado a trabalhar o dia todo.
Isso lembra a vida profissional e até pessoal de muitas pessoas: mantendo aparências pra se sentir bem e aceito, mas no fundo uma tristeza e insatisfação profunda.
Nós já sabemos que o mundo profissional não é nenhum mar de rosas, afinal a busca pelo espaço de cada um é uma constante. Assim como no livro de Calvino no qual cada cidade tinha sua característica e paisagem única, nós também somos únicos e temos desejos de conquistar os nossos objetivos, implementar projetos, sermos reconhecidos e ter sucesso.
Saber valorizar quem somos e o que nos faz bem é essencial para não sermos reduzidos a só mais uma cidade pela qual alguém passa rapidamente durante a viagem ou pior: uma cidade na qual ninguém quer ficar assim como a Anastasia.
E como fazer isso? Não é fácil, mas é possível: entender sua essência, fazer o que é o correto para você e e ficar cada vez melhor em decidir quem no meio do inferno não é inferno, preservar ao máximo e finalmente abrir espaço e o coração.