RECONSTRUIR O PENSAR*

RECONSTRUIR O PENSAR*


RECONSTRUIR O PENSAR*

“O pensar é para os homens o que o voar é para os pássaros” Albert Einstein

Entramos num ciclo de falências pessoais, coletivas, institucionais. Em cada segmento podemos estabelecer algumas análises que levantam uma série de preocupações. É assim que me encontro nesse momento de escrita e reflexão. Se num dado momento tudo, ou quase tudo, revela-se num desencantamento. Por outro lado, ao estabelecer um olhar mais atento percebo por entre as frestas algumas possibilidades.

Nesse encantamento, que as frestas permitem ver, a natureza o meio ambiente nos chama atenção. Como pesquisador, ambientalista e, habitante-cidadão do planeta que chamamos de Terra, nos recai uma responsabilidade imensa. Responsabilidade que se transforma em encantamento associado a um conhecimento que nos permite ler e entender minimamente a relação da espécie humana com a natureza.

Esse entendimento se constrói, sem necessariamente, pertencermos a uma única escola do pensamento, a uma única teoria, porém ela terá que ser transformadora, holística sustentável e emancipatória. Acredito que podemos dizer e estabelecer alguns entendimentos sob a forma de não fazer as coisas que foram realizadas até hoje. Entretanto, tenho dedicado meus estudos sobre as possibilidades, incertezas, riscos, dúvidas, sonhos e utopias que temos pela frente.

Como chamava atenção os pensadores chilenos Maturana e Varella, alertavam que as explicações científicas são validadas no domínio de experiências de uma comunidade de observadores científicos e tanto nas universidades, centros de pesquisa e outros lugares produtores de conhecimento teremos em cena uma comunidade heterogenia, diversa como nossa realidade.

Deste grande laboratório que é a vida de observações e análises, gera linguagens, maneiras de pensar que expressam essa multiplicidade, epistêmica, hermenêutica, teórica e metodológica da ciência que confio, da ciência que me orienta.

Meu pensar formaliza-se a partir das Ciências humanas, não sou seu porta voz, apenas tento estabelecer uma recorte de uma trajetória de estudos, produção de conhecimentos e práticas ambientais que remontam a o início dos anos de 1990 com a Eco conferencia do Rio de Janeiro de 1992. De lá para cá percorremos uma longa trajetória de leituras, escritos e debates. Este percurso ocorreu focado no desejo de tecer, a partir de um olhar crítico do passado, um presente e um futuro equilibrado, com preservação e qualidade de vida para todos os seres vivos e para a casa comum.

Esse conjunto de observações e experiências me levaram a pensar a Educação Ambiental, como um exercício de cidadania, ao formar o eco-cidadão no qual, considero condição indispensável no processo educativo de qualquer ser humano, independentemente de sua área de formação, ou mesmo que não tendo nenhuma instrução formal. Processo que se manifesta como ato de pensar a produção de um saber ambiental possível, no seio desta profunda crise civilizacional que nos encontramos.

Penso, nesta esteira, em estabelecer um traçado mínimo envolvente que possa motivar a todos diante dos desafios de nosso tempo. Pois, é no conjunto de experiências, na diversidade de olhares que poderemos encontrar algumas respostas para o impasse que nos encontramos.

Diante disso qualquer separação entre objetividade e subjetividade parece pouco fecunda a análise crítica. Uma forma prudente de conhecer é quando se distingue, por um lado, os processos objetivos que existem independentemente de nossa percepção, e outros que dependem de nós. Entendendo que os processos subjetivos brotam de nossos desejos, emoções, intenções. A questão é dar conta de suas complexas inter-relações e interdependências. Isto significa identificar que refletimos criticamente sobre o modo como contribuímos para construir realidades que desconhecemos e as que rejeitamos, assim com as que as projetamos e realizamos.

A história da humanidade foi realizada pela nossa espécie, às vezes como avanço, às vezes como retrocesso e, hoje temos duas decisões a tomar: ou aceitamos este legado ou negamos e construímos um novo. Se aceitarmos a história passada que corre pela axiologia mercadológica, acumuladora, impactante de mundo, assim negaremos nossa capacidade de pensarmos outros mundos possíveis.

Outra decisão é a de começamos a fazer uma história diferente. Uma nova história implica em superarmos as tragédias e desencantamentos que nos levaram até aqui. Toda a criação sempre foi um dia considerada impossível, tanto no pensamento, quanto nas suas práticas, o que devemos ter é que o novo, o diferente, o inexistente está logo ai adiante. A história em seu caminho emancipado coloca-nos diante de uma atitude corajosa e esperançosa em termos de construtos de um amanhã inspirado em sua versão sapiens que com seu brilho, luz poderá irradiar novas formas.

Diferente do pensamento comum que apregoa, enfatiza a necessidade de conhecer o passado para entender o presente, penso no oposto, necessitamos entender o presente para decifrar o passado que assentou as bases de nosso cotidiano e que vem engessando a construção de futuro.

Não devemos nos contentar com o que existe, devemos buscar sempre melhorar o mundo ao nosso redor, para que se torne um lugar melhor para viver a tudo e a todos que formam a grande teia da vida.

*Paulo Bassani é cientista social

Um novo Ensaio para contribuir na formação de um pensamento crítico. Folha de Londrina Espaço Aberto - 24/10/2024 - pág. 02Londrina, Paraná



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