Recordo-me

Recordo-me dos tempos em que brincavas lá fora, no jardim. Eras ainda uma criança e nos teus olhos reinava um brilho inquietante. Recordo-me que sempre souberas, orgulhosamente, a tabuada de cor. Recordo-me de como escrevias longas cartas e podias demorar escassos minutos, pois tudo sentias à flor da pele. Nunca copiaras, dizias. Recordo-me de como foste crescendo, imune aos dias que floresciam, imune ao tic tac de um relógio que talvez nem exista. Recordo-me de como absorvias avidamente tudo o que vias pois tudo era novo e surpreendente. 

Hoje em dia, aprendeste a olhar demoradamente. Já não sabes a tabuada de cor. Já não escreves cartas ( porquê?). Porquê ? Perguntas-te, e os teus olhos voltam a ser aqueles olhos inquietantes. Os de que nem nunca copiara.

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