Recursos Humanos Versus Candidatos - Quem está certo? Parte 2
Na semana passada eu falei sobre a postura e posição do Recursos Humanos em processos seletivos, onde quando não dão retorno nenhum sobre a performance do candidato no processo, acabam por dar retornos de copia e cola como "Obrigada pela participação, mas não será possível seu aproveitamento no processo."
Não quero colocar apenas o Recursos Humanos em uma cruz, e sair criticando o sistema, quando em muitas vezes, a culpa pode estar dentro do próprio candidato, que acreditem, em sua grande maioria, não sabem o que querem ou o que procuram dentro do universo profissional.
Uma das perguntas mais complexas que somos obrigados a responder em entrevistas de emprego é a famigerada: "Como você se vê daqui 5 anos?"
Em 5 anos eu posso ser uma executiva de sucesso que dá entrevistas em revistas como a Exame, ou posso criar uma startup que vai revolucionar o mundo do século XXI, ou posso simplesmente morar em uma casinha no campo capinando terra. Ou, o mais comum dos cenários, posso passar os anos profissionais fazendo a mesma coisa que eu fazia 5 anos antes, e me sentir feliz com isso. Ou ao menos, conformada com isso.
Porque eu sou obrigada a saber o que quero me tornar em 5 anos, se não sei nem se a escolha pelo curso da minha Graduação foi mesmo a mais assertiva? Fato é que a vida acaba nos moldando, e nos tornando dia a dia um núcleo mais formado de opinião e personalidade, e conforme somos moldados, vamos descobrindo o que realmente nos move. Eu por exemplo, sou formada em Publicidade e Propaganda com foco em Criação, e por incrível que pareça nunca gostei de trabalhar em agências de publicidade, e hoje desenho projetos voltados para o desenvolvimento humano. E quem me contou que o que eu gostava mesmo de fazer era isso e não peças publicitárias em Photoshop? Foi o dia a dia, o meu trabalho, a rotina profissional e minhas milhares de listas de to do do dia. Então como responder o que eu quero me tornar em 5 anos, se só fazem apenas alguns meses que eu descobri o que eu realmente gosto de fazer? E se, durante os 5 anos seguintes, eu acabar me dando conta que na verdade eu gosto mesmo é de fazer outra coisa?
Dúvida ou comodismo são sentimentos até aplicáveis nos dias de hoje com tantas opções a disposição, mas o que não se pode aceitar é a total incerteza sobre qualquer pequeno foco ou direcionamento. Concordo que na trilha da vida, podemos e devemos mudar nossas opiniões e gostos, até porque a vida não foi feita pra ser vivida caminhando apenas em uma direção, mas o que os candidatos tem cada vez mais demonstrado é uma total falta de auto conhecimento, e uma incerteza tão grande de qual caminho seguir, que não passam nada de positivo aos recrutadores, a não ser a sensação de estarem totalmente perdidos. E quem está perdido não agrega positivamente em nada, nem para os outros ao seu redor e muito mais para si próprio. É aqui que chego no cerne da questão de ser o Recursos Humanos. Vale a pena depositar confiança em profissionais que a cada dia que passam estão mais incertos sobre o que são e o que querem para sua vida profissional?
Todos já fomos candidatos, e todos, além de entrevistas presenciais, tivemos que responder exercícios de levantamento de perfil. Os resultados destes testes são motivo de estudos psicológicos. Veja bem: Um pessoa não pode ser afetiva e pragmática ao mesmo tempo sobre pressão por exemplo, porém em alguns casos frequentes, o RH se depara com este tipo de resultado, o que os deixa confusos se as preferências do candidato são realmente aquelas, ou se por medo de demonstrar ser afetivo demais, o candidato responde algumas questões sobre se considerar pragmático para não demonstrar fraqueza. Eu particularmente não acredito em testes de perfil, acredito que são sim apenas ferramentas de apoio em uma decisão importante, e muito menos em uma resposta correta para como eu gostaria de ser daqui 5 anos. Por que não existem respostas concretas em um mundo em constante mudança que nos proporciona zilhões de opções de atuações e modos de felicidade.
Eu acredito no candidato que responde suas perguntas de forma 100% honesta: "Não sei o que quero ser daqui 5 anos." Ou o candidato que no teste de personalidade assume que não tem muita paciência para lidar com minuciosidades. O que falta nos candidatos, assim como no Recursos Humanos, é auto conhecimento e sinceridade. Existe um medo tão tremendo de não conseguir um emprego, ou de não ser aceito, que acabamos nos camuflando em perfis que não condizem com o que somos. Mentimos em nosso currículo, mentimos na entrevista de emprego, mentimos na forma como nos vestimos, tudo para sermos aceitos.
E então, no final deste longo e cansativo percurso, o Recursos Humanos leva a culpa de não ter feito uma seleção adequada. Foi o Recursos Humanos que aplicou os testes errados ou fez as perguntas erradas aos candidatos, ou são os próprios candidatos que talvez tenham se candidatado a um cargo que nada tem a ver com o seu perfil, ou que mentiram para si próprios que usar terno e gravata todo dia era o que realmente os motivava a levantar da cama em uma rotina igualmente incessante?
Conheço candidatos que possuem um currículo diferente para cada oportunidade, demonstrando ser um verdadeiro camaleão, adaptável a diferentes cenários, as vezes apenas porque o salário e os benefícios são ótimos, ou porque o local de trabalho é próximo de casa.
Mas vamos lá candidatos: vocês já se questionaram o porque se candidataram para determinada oportunidade? É realmente na empresa X ou Y que vocês querem trabalhar? Ou daqui 6 meses vocês estarão novamente adaptando seu currículo camaleão para enviar para outra oportunidade dizendo aos recrutadores que vocês mudaram suas preferencias de atuação?
Já que o meio profissional é uma relação, onde o Recursos Humanos precisa ser honesto sobre suas expectativas, porque o candidato não pode começar sendo honesto com si próprio? Sair disparando currículos camaleões e sem foco, não faz de você um bom profissional. Bom mesmo é quem sabe o que quer, mesmo que daqui a algum tempo mude de opinião, o importante é se adaptar a si próprio, respeitando nossas próprias imitações e vontades. Deveríamos na verdade é ter medo de não aceitarmos quem somos.
O candidatos demonstram que mudanças são uma certeza, e realmente o são, mas a preferência geral acaba sendo pela incerteza, e pela famigerada tentativa e erro.
Não tentem, apenas aceitem e sejam.
Até o próximo artigo!
Metrologia | Controle de Qualidade | Inspeção
8 aEsse é um grande problema da pós modernidade. Como diria Zygmunt Bauman: Imagine a cena em que alguém tem que atravessar um lago gelado, cuja superfície está coberta por uma fina camada de gelo. Neste caso, ou a pessoa atravessa correndo, sem olhar para trás, ou enfrenta o risco de afundar nas águas “cortantes”. Ou seja, temos um vasto campo para correr, mas nunca devemos parar e pensar se estamos de fato, correndo para algum lugar que gostaríamos de estar, devemos apenas correr.