Reflexões sobre as Emoções e os 
       Fenômenos  Termodinâmicos

Reflexões sobre as Emoções e os Fenômenos Termodinâmicos

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                          Há cerca de 15 anos descobri a obra de Prigogine ( Premio Nobel de Quimica em 1978) e depois de um encontro com o mesmo, passei todos esses anos estudando e aprofundando a fundamentação da hipótese de ver as emoções como reações endotérmicas, tema discutido com o referido cientista.  

        Quando li em Prigogine “que a vida só é possível em um universo longe do equilíbrio” fiquei perplexo. Acostumado aos conceitos de ordem e equilíbrio da física clássica não consegui entender essa frase aparentemente “absurda”.

            Depois de muita observação dos escritos de referido cientista pude perceber que não se tratava do conceito de equilíbrio da física clássica e sim do conceito advindo dos estudos sobre os “fenômenos da termodinâmica dos corpos longe do equilíbrio” da emergente física da complexidade.

           Com um intenso sentimento de perplexidade, percebi ainda da revolução que essa constatação estava produzindo em termos nos conceitos científicos e epistemológicos no pensamento contemporâneo.

         Na evolução das espécies, a transformação dos sistemas endotérmicos foi bem importante para ajudar os organismos na sua adaptação às variações térmicas e sazonais dos milhares de ambientes do planeta.  

        Adaptação térmica é a capacidade de manutenção da temperatura do corpo dentro de certos limiares, mesmo que as temperaturas dos ambientes tenham constantes varrições. A atividade metabólica dos animais está sempre associada à sua temperatura.

             

A hipótese das emoções humanas como reações termodinâmicas.

        Sempre tive como uma das minhas preocupações como psicólogo compreender a importância do comportamento emocional dos animais e dos seres humanos. Sempre me impressionou como certas vivencias emocionais marcavam a memória humana de maneira indelével. Constantemente me perguntei como certas lembranças seriam gravadas na memória e porque essas não se apagavam durante dezenas de anos.

           O pensamento popular sempre associou as emoções aos “sentimentos” de temperatura: “fulano é uma pessoa fria que nem gelo”, “nossa com esse cara é esquentado”, “esfria cara você está muito agitado”, “ela é uma pessoa calorosa”, “senti um frio na barriga”, “me recebeu friamente”, “falta-lhe calor humano”, “nunca me senti tão aquecido”, “fiquei congelado de medo”, “suei frio de medo”, etc. Sempre me chamou a atenção da associação da sensação térmica de frio ou calor aos sentimentos de raiva, medo ou ternura na verbalização das emoções.

             Baseado nas minhas experiências cotidianas como psicólogo (naquela época, acostumado a trabalhar com emoções intensas nos meus grupos empresariais por mais de trinta anos) e nas constatações dos experimentos de Prigogine, de Bénard sobre as transformações moleculares na transformações termicas e Antônio Damásio obre as transformações neurológicas, criei por intuição a hipótese de associar essas transformações neurológicas da memória à instabilidade térmica, que seriam provocados por instantes de emoções fortes ou de instabilidades emocionais.

        Era apenas uma mera hipótese apoiada em um raciocínio lógico. Mas durante muitos meses tentei aprofundar o meu raciocínio de ver as emoções como reações semelhantes a “dos corpos longe do equilíbrio” e de ver o amor como o ápice da complexificação do comportamento humano.

          Hoje defendo, que nos instantes de vivencias emocionais intensas, provavelmente algumas estruturas moleculares que compõem o sistema nervoso da memória passam por mudanças estruturais.

                Formulei como hipótese que instantes de emoções intensas podem transformar as nano estruturas moleculares dos tecidos neurológicos da memória ou de outros tecidos do corpo humano de maneira indelével. Esses instantes de vivencias de emoções intensas podem fortalecer a gravação dos engramas na memória neurológica. Ou seja, nesses eventos a transformação na organização celular das regiões da memória e podem registrar de maneira indelével certos eventos existenciais.

              Há um princípio da teoria da complexidade (pouco divulgado e não incompreendido pelo grande público) que postula que os acontecimentos ou eventos não tem retorno. No caso das vivencias emocionais intensas esse princípio é absolutamente pertinente, pois depois de certas vivencias emocionais essas não se apagam da memória e podem deixar marcas indeléveis pelo resto da vida. Essas vivencias emocionais são formadoras e transformadoras da nossa maneira-de-ser-no-mundo, e se assentam nos registros das transformações energéticas gravadas nas estruturas neurológicas do SNC.  

               Como disse, supunha por intuição, que as emoções seriam reações endotérmicas e que essas poderiam se comportar como os eventos térmicos longe do equilíbrio. Ou seja, os tecidos neurais, a exemplo das células de Bénard, ( ver meu livro “Caos emoção e cultura”) poderiam sofrer o impacto dos nano desequilíbrios térmicos e de reorganizarem suas estruturas nano moleculares das células da memória.

               O sentimento que estava trilhando novos caminhos para compreensão do comportamento humano motivou-me a aprofundar essas pesquisas bibliográficas nesses últimos quinze anos. Como essa hipótese é original, encontrei poucas citações bibliográficas para poder comprovar a validade.

                      Emoções e controle endotérmico

                       As emoções primarias são controladas pelo hipotálamo, que é um dos sub sistemas primitivos que controla os fenômenos endotérmicos do corpo humano, defendo, ao longo desse livro, como hipótese fundamental dos meus trabalhos, que as emoções primarias são correlatas e concomitantes com as reações endotérmicas. Defendo ainda, que essa dinâmica é semelhantes a dos organismos complexos” distantes do equilíbrio” de Prigoine.

         Do mesmo modo como instabilidades térmicas no nível macro físico provocam catástrofes ambientais, hipoteticamente eventos semelhantes podem acontecer nos planos microfísicos, onde turbulências nano térmicas podem analogamente provocar rupturas e transformações nas estruturas moleculares das células.

      Como hipótese, defendo que tensões emocionais podem provocar desequilíbrios endotérmicos nos vários ambientes internos dos organismos e que essas instabilidades podem ser favoráveis ao aparecimento de disfunções nano orgânicas no plano microfísico das células humanas.

        Assim, na evolução humana com o desenvolvimento das emoções secundarias (depois do aparecimento da região límbica e do chamado Circuito de Paez) o controle endotérmico não depende apenas dos estímulos térmicos do ambiente ou bioquímicos internos, mas sofrem também a influência de ideias subjetivas transformando a dinâmica endotérmica do corpo fisiológico.                

          As emoções secundarias são condicionadas pela cultura, e pela teria da complexidade, podem ter a mesma importância na influência das transformações bioquímicas na dinâmica do metabolismo do corpo.

         Insisto que as emoções primarias e secundárias diferem apenas em níveis de complexidade. As emoções secundarias se assentam na bioquímica das emoções primarias, mas as mesmas se associam aos condicionamentos ou construções sociais. Elas são absolutamente indissociáveis, pois no ser humano o processo emocional é ao mesmo tempo biológico, social e subjetivos.

Só o ser humano tem a consciência racional de suas emoções, pois são controladas com a participação do córtex cerebral.

.         Uma das hipóteses desse livro é exatamente essa de que as emoções sejam reações térmicas típicas dos corpos longe do equilíbrio, e que portanto o ser humano seja susceptível à dinâmica da “dissipação” energética proposta pro Prigogine.

               Vimos anteriormente que das galáxias as nano estruturas todos os organismos do universo são compostos pelos mesmos elementos químicos, regido pelos mesmos princípios da física em diferentes níveis de complexificação.

           O ser humano como um elemento do universo não poderia ser diferente: é composto pela integração dos mesmos elementos químicos da natureza e influenciados pelos fenômenos físicos em um elevado nível de complexificação e como tal sujeito aos fenômenos termodinâmicos longe do equilíbrio. Ou seja, se comporta como um fenômeno termodinâmico e não como uma máquina da metáfora de Descartes.

PS. Resumo de um capitulo do meu próximo livro.


                         

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