Reflexões sobre a Rio Innovation Week
Como todo grande evento, a Rio Innovation Week foi extremamente multidisciplinar, com altos e baixos e exigindo do participante uma curadoria de conteúdos para melhor aproveitar a programação. De tudo que vi, separei quatro tópicos que geram boas reflexões para o mundo que vivemos, sobretudo, para o contexto brasileiro.
Inteligência Artificial (IA)
Dos temais mais comuns, como aumento de produtividade, ética e ampliação da capacidade das pessoas, passando por preocupações em como preparar a equipe para seu uso, chegando ao impacto nos processos educacionais. Em todos os palcos sempre aparecia a inteligência artificial generativa.
Mas como lembrou o educador Ivys Urquiza, precisamos usar tecnologia como interface e entender que o sistema educação continua com moldes industriais. Um levantamento da McKinsey, produzido antes da IA generativa, apontava que a automação impactaria em 15% a atividade do professor, com IA generativa esse impacto passa de 50%, logo, algo realmente precisa ser feito.
Uma vez que metodologias de ensino são ativas e todos (do aluno ao professor) estão experimentando inteligência artificial generativa, alguns pontos precisam ser discutidos: como usar a ferramenta para realmente ampliar a criatividade, desenhar estratégia em sala de aula e, por exemplo, acelerar criação de ementas? Como chegar a um padrão de uso da tecnologia em busca de uma educação mais em linha com os desafios do mundo atual?
E em meio a essa discussão, um ponto parece caminhar para consenso: precisamos aprender cada vez mais a sermos mediadores digitais, elevarmos o pensamento crítico para que essa engrenagem, seja nas escolas, ruas ou empresas, tenha uma aplicação correta, ética e sem vieses. Olhando especificamente para a sala de aula, já que fiquei mais nas conversas sobre educação, o professor precisa ser articulador na produção de conhecimento.
Regeneração
O mundo pede socorro e estamos cansados de saber, mas o que de fato cada um de nós está fazendo para mudar o cenário atual? A regeneração, nesse sentido, entra em cena e com muita força. Da Liderança Regenerativa aos modelos econômicos e mudança de mentalidade até no consumo de proteínas.
O palco Clean up the World trouxe uma série de discussões com empreendedores que, pese toda dificuldade envolvida, lutam para que suas soluções para um mundo mais limpo, saudável, circular e regenerado seja viável. Entre os desafios está a urgência que o mundo demanda e a velocidade com que as mudanças acontecem. “Dificilmente as pessoas mudam atitude na velocidade e na intensidade necessárias. É mais barato consumo de materiais virgens que reciclados. A própria coleta de recicláveis é impactada pela volatilidade do mercado”, comentou o executivo do @Instituto Recicleiros, endossado pelo CEO do Menos 1 Lixo .
Quando falamos em regeneração o tema vai muito além da coleta seletiva ou de uso de materiais recicláveis na produção de roupa, por exemplo, mas de buscar formas de despoluir rios e mananciais de forma orgânica, como propõe a O2eco Tecnologia Ambiental , ou considerar a ingestão de proteínas produzida a partir de insetos, já realidade mundo afora, mas que, no Brasil, a Lets Fly | Alimento que regenera ainda vê barreiras culturais; atualmente, a empresa produz tal proteína apenas para consumo animal. São milhares de litros de água consumidos para produzir 1 quilo de carne bovina, fora grande ocupação de solo, contra poucos litros para a alternativa e pouca ocupação de áreas.
Regulamentação é visto por empreendedores nesse setor como um meio fundamental para que as coisas acelerem, seja no processo de reciclagem, uso de materiais reciclados em produtos ou mesmo para produzir mudança mais intensa nos meios de produção.
Tech x problemas contemporâneos
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Se a tecnologia abre possibilidades, ela também traz desafios para uma sociedade desigual e com baixa escolaridade como a brasileira. Fora da Faria Lima ou do Leblon, como lembrou o apresentador Luciano Huck , a realidade do brasileiro passa por Uber, venda de bolo de pote e cosméticos (obviamente houve uma generalização para expor que as benesses digitais impactam de maneiras diferentes cada indivíduo). Mas se somos uma potência criativa, como virar essa página e usar tecnologia para incluir mais pessoas e reduzir desigualdades?
O País precisa de uma estratégia clara, é verdade, e já pareceu ter. Nos anos 90, exportação de software era uma prioridade, assim como na Índia. Mas em 2019, o Brasil exportou 2 bi de dólares em software contra 130 bilhões dos indianos, o que deu errado? Investimento em educação. Um país teve capacidade de executar o plano, o outro não.
Mas mais que pensar apenas o viés econômico e da empregabilidade e inclusão, como trouxe o filósofo camaronês Achille Mbembe , a tecnologia atualmente tem papel desproporcional na transformação da política e das sociedades democráticas. Vivemos um tempo de imediatismo, uma era onde o conhecimento se resume a dados e informações.
“Passamos a maior parte do tempo em frente a telas. Imersos em imagens que funcionam como máquinas de sonho. Quantas imagens você verá até o final do dia? Quantas você vai produzir até o final do dia? Muitas delas produzem ilusões e fantasias”, refletiu Mbembe, numa demonstração de que estamos presos a essa realidade distópica de autossatisfação.
Em outra reflexão forte, e numa crítica a essa utilidade imediata das coisas, Mbembe afirmou que precisamos, de alguma maneira, utilizar os meios e as tecnologias para manifestar a verdade do nosso tempo, “uma verdade que acredito ser q base da política”.
Diversidade consciente
Um dos pontos altos da Rio Innovation Week (na minha humilde opinião) foi a participação da moçambicana Mrs Graca Machel mandela , política, ativista de direitos humanos e que foi casada com o sul-africano Nelson Mandela. Ela trouxe uma visão ampla da diversidade e do combate ao racismo, numa desenvoltura gigante ao trazer paralelos para a realidade brasileira.
Como bem lembrou a ativista, a sociedade brasileira é, em si mesma, fruto da diversidade e que, com isso em mente, é preciso ter coragem de confrontar o passado para projetar um futuro mais justo. Entender que temos uma tradição no ocidente que entende e trata, ainda hoje, a mulher como ser secundário, produzindo uma desigualdade estrutural.
Graça entende que a tecnologia “é uma oferta de possibilidades para solucionar princípios e valores a partir dos quais vamos confrontar desafios de desigualdade, racismo e machismo. Precisamos que a tecnologia se torne instrumento acelerador da transformação econômica, social e da consciência social que devemos ter”, ensinou a ativista.
Ainda hoje, não importante sua eficiência, a hierarquia racial ainda determina o salário e faz com que brancos ganhem mais, refletiu Graça, ao completar: precisamos olhar para dignidade humana, para diversidade como algo enriquecedor e aceitar princípio da equidade e da igualdade, porque traz bem-estar para todos.
“Lutar contra desigualdade faz sentido do ponto de vista de desenvolvimento de negócios e de ter uma sociedade mais justa. Se investirmos em consciência para formar mulher negra em inovação e tecnologia, será um grande passo para reduzir essa desigualdade. Precisamos sacudir o viés que foi incluído em nós, aprendemos a justificar o injustificável. Nossa consciência precisa dizer: isso não pode continuar”, pontuou Graça.
#inovação #diversidade #tecnologia #inteligênciaartificial #ia
Professora Fundacao Dom Cabral
1 aExcelente síntese e muito provocadora. Ilusão da auto satisfação é uma noção muito apropriada nos dias de hoje. Obrigada por compartilhar
CEO & Board Member Tanto | Inovação | Transformação Digital | Conselheiro | TEDx Speaker
1 aVitor Cavalcanti obrigado por prestigiar minha palestra de Ambidestria Corporativa. Foi incrível te encontrar por lá e ter a honra de merecer seu tempo dentro da agenda da Rio Innovation Week!