As reinvenções das mulheres
Adoro a atriz franco-americana Julie Delpy desde a trilogia "Antes do Amanhecer" (dirigida por Richard Linklater), iniciada em 1995. Eu era mais nova que os protagonistas, mas a ideia de conhecer um amor numa viagem de trem pela Europa permeou não só a minha, como a imaginação de muitas pessoas da minha geração. Julie tornou-se icônica e, como muitas atrizes hoje na casa dos 40-50, não é mais um rosto em evidência na indústria do cinema. Mas como outras mulheres incríveis da sétima arte ela segue atuando. Também produz, roteiriza e dirige. A atriz assina a série "À Beira do Caos" (Netflix). A trama apresenta quatro amigas, todas mães e às voltas com dilemas próprios sobre casamento, maternidade e carreira.
(Se você quer assistir à serie, não leia a partir desse parágrafo, pois contém spoilers) Julie Delpy é Justine, uma chef francesa talentosa radicada em Los Angeles, que tem um restaurante concorrido, uma casa linda, um filho adorável. Mas está sobrecarregada e um dos motivos é o marido egocêntrico. Anne (Elisabeth Sue), a mais velha da turma, é uma estilista bancada pela mãe, porém talentosa. Também tem um filho e um marido 10 anos mais jovem e o casal adora ficar chapado. Yasmin (Sarah Jones) deu um tempo no trabalho para cuidar do filho, tem um marido nerd e sonha em voltar para o mercado de trabalho. Embora com doutorado na bagagem, as oportunidades praticamente não existem. Por fim, Ellie (Alexia Landeau) é uma professora que atualmente vive de bicos, é mãe solo de três crianças e vive sem dinheiro.
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Em comum elas têm a maternidade, a amizade e a síndrome da impostora. Eu estava comendo pipoca no segundo ou terceiro episódio (são de curta duração) e isso me ocorreu. As quatro mulheres têm boa formação, competência e experiência, mas mesmo quando elogiadas se acham uma farsa. A falta de incentivo vem de casa, do mercado que despreza as quarentonas e cinquentonas (alô, Hollywood) e não atinge os homens da mesma maneira. Mesmo com esse peso, elas seguem nadando contra a corrente e permanecem relevantes, ainda que não se dêem conta disso. Justine e Ellie tentam se adaptar aos tempos digitais, Yasmin vai para uma entrevista de emprego disposta a ganhar menos, mas ouve o clássico "overqualified" a respeito de seu currículo e Anne tenta por conta própria alçar vôos como empreendedora. Aqui não é sobre happy end, embora com exceção de Ellie, estejamos acompanhando mulheres com um vida financeira confortável (no que Delpy como criadora da série contrasta com as cenas de pessoas em situação de rua, mostrando que ela sabe que está falando do lugar de privilégio). Aqui é sobre jornada, sobre se reinventar e sobre se posicionar no mundo dominado por homens. Tem dias e dias.
Há momentos engraçados, tristes e melancólicos envolvendo as quatro amigas. A gente torce para que cada uma encontre seu lugar no mundo e no trabalho. Não se sabe o que a segunda temporada (a série foi renovada) reserva, mas elas sempre terão um pôr-do-sol na praia interrompido por um passante que deixa o cofrinho à mostra. Igual a tudo na vida.
Gerente de Projetos e Atendimento
3 aAdorei a reflexão, Lud! Vou pesquisar pra assistir
Mestre e especialista em linguagem | Planejadora, estrategista, produtora e criadora de conteúdo, revisora, redatora, roteirista, copywriter, comunicação e marketing digital
3 aTambém me interessei pela série depois do seu texto, Lud! Os dias são malucos, uma montanha russa de emoções, trabalhamos muito, mas é bom saber que podemos contar com as amigas, como as personagens parecem contar! Adorei! Quero saber mais das suas reflexões, compartilha mais com a gente?! ❤️🌟
Mentora de língua inglesa certificada pela Cambridge University | Narradora na Terra de Histórias
3 aComecei a assistir ontem e gostei bastante, Ludmila! Também sou fã da trilogia e conheci meu marido num parque em outro país, acredita? Um abraço!
CEO e Curador do RH Summit | Palestrante "Fogo no Palquinho" | Mediador | Influenciador de RH | 6° LGBT+ 🏳️🌈 mais seguido do LinkedIn BR | Falando do mundo corporativo de um jeito NÃO tão corporativo
3 aAlô Netflix, chama a Ludmila Azevedo pra trabalhar com vocês, fui altamente influenciado a assistir por causa desse texto. Mas tirando a brincadeira( que nem foi tão brincadeira assim), amei demais o texto e a reflexão que ele nos trás!!