AS RELAÇÕES DE PODER NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
As relações de poder desempenham um papel fundamental nas situações de violência doméstica. Trata-se de um fenômeno complexo e multifacetado, caracterizado por abuso físico, sexual, emocional ou econômico, perpetrado por um membro da família ou parceiro íntimo contra outro. Há, de fato, uma clara manifestação dos desequilíbrios no exercício de poder dentro dessas relações conjugais. Essas relações são frequentemente permeadas por normas de gênero arraigadas, que atribuem aos agressores o papel de dominadores e às vítimas o papel de oprimidas. Essas dinâmicas de poder desigual contribuem para a perpetuação da violência, uma vez que os agressores se sentem legitimados em exercer controle e abuso sobre seus parceiros. Embora suas causas sejam variadas e multifatoriais, a dinâmica do poder desempenha um papel central na perpetuação e manutenção desse tipo de violência.
A violência doméstica é um exemplo claro de abuso de poder, onde o agressor busca controlar e dominar a vítima por meio do uso da violência ou ameaças. A relação de poder desequilibrada é estabelecida através de uma série de estratégias manipulativas, como humilhação, coerção, isolamento social e controle financeiro, que visam minar a autonomia e a autoestima da vítima. O agressor usa essas táticas para exercer controle sobre todos os aspectos da vida da vítima, reforçando sua posição dominante e minando qualquer possibilidade de resistência ou fuga.
Uma das principais características das relações de poder na violência doméstica é a assimetria de poder. O agressor geralmente busca estabelecer uma posição de autoridade e superioridade em relação à vítima, utilizando-se de sua força física, status social ou controle financeiro para exercer controle sobre ela. Esse desequilíbrio de poder cria uma dinâmica de subordinação, onde a vítima é colocada em uma posição de dependência e vulnerabilidade em relação ao agressor.
Além disso, as relações de poder na violência doméstica também envolvem a manipulação e o controle da informação. O agressor muitas vezes busca controlar a narrativa e distorcer a percepção da vítima, negando ou minimizando a gravidade dos abusos, culpando-a pelos incidentes de violência ou fazendo-a duvidar de sua própria sanidade. Essas táticas visam enfraquecer a vítima psicologicamente e dificultar sua capacidade de buscar ajuda ou romper o ciclo de violência.
Superar essa " hierarquia perversa" na violência doméstica requer uma abordagem abrangente que envolva a conscientização e a educação sobre os direitos humanos, a promoção da igualdade de gênero, o fortalecimento das redes de apoio, a implementação de leis e políticas adequadas e o acesso a serviços de apoio especializados. É fundamental capacitar as vítimas, oferecer-lhes recursos e suporte emocional.
Recomendados pelo LinkedIn
É importante ressaltar que a resistência nem sempre é possível ou fácil para as vítimas de violência doméstica. O ciclo de violência, caracterizado por fases de tensão, explosão e lua-de-mel, muitas vezes cria uma sensação de medo, isolamento e dependência na vítima. A manipulação psicológica, a coerção e as ameaças utilizadas pelo agressor podem enfraquecer a autoestima e a capacidade de resistência da vítima. Portanto, embora exista o desejo de lutar e escapar dessa situação de opressão, a vítima pode se sentir presa em um ciclo de abuso do qual é difícil se libertar.
Ainda, é importante considerar os fatores sociais e culturais que podem influenciar a resistência dessas vítimas à violência doméstica. O estigma social, o medo do julgamento, a falta de apoio e os obstáculos práticos, como a falta de recursos financeiros ou acesso a serviços de apoio, podem dificultar a busca por ajuda e a saída de um relacionamento abusivo. Também é importante lembrar que cada indivíduo tem sua própria história, circunstâncias e recursos disponíveis, o que pode influenciar sua capacidade de resistir e buscar uma vida livre de violência. Normas de gênero, desigualdades estruturais, estereótipos e expectativas sociais desempenham um papel significativo na perpetuação da violência doméstica.
A conscientização sobre a violência doméstica, a promoção de uma cultura de respeito e igualdade de gênero, a implementação de leis e políticas de proteção às vítimas, o fortalecimento das redes de apoio e o acesso a serviços especializados são medidas essenciais para ajudar estas pessoas a romperem com essas relações opressivas e construírem vidas seguras e saudáveis. É fundamental oferecer às vítimas de violência doméstica um ambiente propício para que elas possam exercer sua autonomia, encontrar apoio e resistir ao ciclo de violência. Será que é pedir demais!!!???
Por Meire Rodrigues