Relacionamento de capitais - mutualismo porque não?
Capital e capital humano são os dois aportes principais para qualquer empresa. Sem um ou sem o outro não existe produção, seja de produtos ou de serviços. Estes capitais devem ter uma relação mutualista, que pelo significado temos: associação entre dois, na qual ambos são beneficiados, resultando frequentemente em dependência mútua.
O relacionamento entre esses dois capitais são fontes de estudos desde os primórdios das relações trabalhistas. Lembro-me facilmente da pirâmide de Maslow como um dos pontos mais significantes de aprendizado durante minha graduação.
Esta relação apesar de não explícita na pirâmide, é possível deduzi-la de uma forma muito nítida, visto que os pontos de satisfação do capital humano muitas vezes serão alcançados com concessões realizadas que diminuem o retorno do capital financeiro, pelo menos é o que uma visão grosseira diria. Explico exemplificando: dentro da pirâmide no lado satisfação no trabalho dentro de necessidades fisiológicas é possível ver “horário de trabalho” como um quesito de satisfação. É provado e fruto de vários estudos que corroboram meu ponto de vista, que funcionários com horário de trabalho flexíveis são mais produtivos, funcionários com home office são mais produtivos, funcionários que tem uma jornada de trabalho menor são mais produtivos, funcionários com tempo para descanso pós almoço são mais produtivos. Do lado do capital financeiro muitas vezes o que se escutará será, não vou pagar por menos tempo de trabalho, não vou pagar para o “folgadão” fica em casa, quer descansar?! Vai descansar quando chegar em casa! Infelizmente um olhar obtuso sobre o que verdadeiramente dá retorno ao capital financeiro, e traz a tona a relação conflituosa e de contraposição entre os capitais.
Jogando um olhar crítico sobre este relacionamento, fica nítida a maior importância do capital humano, visto que é ele o motor de tudo, afinal o capital financeiro não tem músculos para girar o motor, ele precisa de alguém para fazê-lo.
Certa feita ao debater com um colega de trabalho de nível hierárquico superior ao meu a respeito do que estava me desmotivando na empresa a qual eu trabalhava na época, escutei dele – "Você não tem o direito de ficar desmotivado, a empresa paga para ter seu esforço total”. Nesta época achei as palavras dele portadoras de muita sabedoria, hoje, quase 20 anos depois acho de um vazio fenomenal e de uma visão deturpada do capitalismo que visa apenas o lucro sem consciência ou ponderação alguma sobre quais são os limites e as preocupações que devem existir para uma interação sadia e proveitosa. Esta é uma faceta que creio fazer parte da nossa cultura, tentar obter sempre mais com sempre menos, sem levar em conta se estamos desvalorizando o trabalho e o esforço de alguém, queremos apenas satisfazer nossa ânsia de ter mais com menos, ignorando desejos, anseios e necessidades de outro ser humano, usando-o apenas como um meio de obtenção de retorno do capital financeiro.
Hoje entendo que a balança dentro deste relacionamento deve estar equilibrada ou significa que uma das partes estará sendo usada. Equilibrada sim, pois o capital financeiro compra as engrenagens e o capital humano trata de gira-las, sem um ou sem outro não existe o movimento de ganho. É fato que vivemos em uma sociedade capitalista onde claramente o valor do capital financeiro é exacerbado e em função disto vemos uma balança desigual onde é nítido e claro qual é o lado mais frágil e menos valorizado da balança, mas é o capital humano ou pelo menos deveria ser o lado mais importante deste relacionamento, as pessoas são a chave para o sucesso e são elas e sempre serão os recursos mais importantes de uma empresa. Uma pessoa consegue levantar um império sozinha, com uma participação inicial mínima do capital financeiro, mas o capital financeiro muitas vezes não consegue sozinho manter um império.
Capital humano é constituído por pessoas, e entre pessoas existem relacionamentos, logo empresas são feitas de relacionamentos. E é a qualidade destes relacionamentos que determinam em grande parte o sucesso ou fracasso de uma empresa.
Gestores que negligenciam estes relacionamentos não estão preparados para uma das consequências disto, a desmotivação e muitas vezes não conseguem enxergar a conexão entre os fatos.
Como gestor, negligencie as necessidades de seus funcionários e perca capital humano, perder capital humano não quer dizer a pessoa pedirá demissão, você o perde a partir do momento que um funcionário perde sua motivação e vira um robô, isto é, trabalha em modo padrão. E apesar de todos os avanços atuais da robótica um robô ainda não consegue nos substituir em tarefas que são caras e sensíveis a corporações, ele não traria a solução para aquele seu processo que consome mais insumo que deveria, ou traria um cliente a mais para você mesmo sem ser sua função, nem resolveria um problema persistente criando uma nova maneira de “como fazer”.
Ao contrário de robôs que fazem apenas aquilo a que são destinados, como seres humanos, somos sensíveis e influenciados pelo que nos cerca, pelo que recebemos daqueles que estão próximos a nós e pelo que esperamos em retribuição a nossos esforços, e nos esforçamos ou retribuímos na medida em que enxergamos que estamos em um relacionamento que está trazendo beneficio mutuo.
Maslow conseguiu dar forma a sua pirâmide, mapeando aquilo que temos como necessidades reconhecidas e vívidas dentro de cada um de nós, que nos traz tanto satisfação no trabalho quanto fora do trabalho.
E a satisfação no trabalho, é fortemente motivada por como são tratados nossos assuntos no dia a dia, trate com desleixo uma preocupação de seu funcionário e não se surpreenda com desmotivação mais a frente. Gere expectativas sem atendê-las e não se surpreenda com um pedido de desligamento durante a execução de um projeto. Valorize apenas os erros de seus funcionários e não se surpreenda caso ninguém queira comparecer no churrasco da empresa.
Manter seu capital humano motivado é uma ação diária de enxergar pessoas, interesses, objetivos, sonhos e desejos, e tentar de forma clara e objetiva guiar outro ser humano para alcançar tudo isso, mantendo-o motivado.
Motivação é igual comprometimento, que é igual a fazer mais, entregar mais, produzir mais em retribuição ao atendimento de nossas expectativas e por entendimento que a balança está equilibrada.
Esta pode ser a solução para aquele problema persistente que mais ninguém conseguiu resolver, pode ser mais um cliente trazido por alguém que nada tem a ver com a estrutura de venda, pode ser o novo método de como fazer que o colocará a frente de seus concorrentes.
Para conseguir este tipo de motivação, será necessário estar atento aos seus funcionários, importar-se com seus sentimentos, desejos e necessidades, ajuda-lo a atingir seus objetivos, dando metas e ferramentas para eles sejam alcançados, tanto pelo lado da empresa quanto pelo lado do funcionário, que em função desta relação mutualista, não existe mais como um funcionário e sim como parceiro, pois com o equilíbrio entre os capitais, o que existe não é mais um papel de subordinação e sim de parceria.