A relatividade do tempo: o que ninguém te conta sobre comandar uma startup

Se você tem um cachorro para chamar de seu, com certeza já ouviu falar que um ano de vida humana é equivalente a sete anos de vida canina. O que você talvez não saiba é que a expressão dog years é, também, uma comparação muito semelhante ao trabalho dentro de uma startup, se contrastado com o dia a dia dentro de corporações maiores e mais tradicionais. Nesse ambiente cheio de inovação e muita intensidade, tudo acontece em ritmo acelerado: aprendizados, desafios e muitas, muitas mudanças de rota. Imediatamente após o marco do meu primeiro ano como CEO do Chama, não poderia concordar mais com essa analogia. 

Antes de liderar uma startup, tive uma trajetória profissional em grandes empresas como Coca-Cola, Heineken, Mars, Novartis, Grupo Pão de Açúcar, Via Varejo, e nos últimos dez anos na SHV Holdings, líder mundial em distribuição de Gás LP (GLP). Nesse último período (SHV), construí uma carreira em cargos de liderança no Makro Brasil, Makro Colômbia e Makro Group South America, além de conduzir um projeto na Eriks Gmbh (Alemanha) , todas empresas que fazem parte do grupo SHV, que também é a controladora do Chama, e obviamente me deparei com inúmeros desafios ao longo dos anos – venci muitos e coloquei minha capacidade criativa a prova para contornar outros tantos, mas minha percepção hoje é de que o tempo nas grandes corporações era um pouco mais espaçado, dava para refletir mais, ponderar mais.

Sabemos que o tempo é relativo, e sinto isso cada vez mais ao vivenciar a realidade em uma startup. Quando o expediente começa, os ponteiros do relógio se movem em ritmo acelerado e tudo pode realmente mudar em um piscar de olhos. E aqui está um paradoxo: pode parecer que a transição de carreira tenha me trazido dias de cão – com o perdão do trocadilho –, mas, ao contrário, esse ritmo pulsante talvez seja o que há de mais motivador em uma startup, especialmente para quem lidera equipes, processos e toma decisões.  

No Chama, o aprendizado nos guia. Desde outubro de 2020, reestruturamos o modelo de negócio em busca da excelência do serviço, chegamos para conectar consumidores e revendedores de gás em três novas praças, lançamos o Chama do Bem, projeto que nasceu com o propósito de criar e desenvolver ações concretas que ajudem a construir uma sociedade mais justa, menos desigual, respeitando as diversidades, combatendo preconceitos, intolerância, violência e estimulando a solidariedade; e atingimos a incrível marca de 8 milhões de botijões entregues através de nosso aplicativo.

Ainda em referência aos dog years, o modus operandi de uma startup se assemelha ao constante exercício canino de buscar o graveto que é arremessado pelos nossos consumidores. Aqui, nossas mudanças são conduzidas pelo mindset ágil, com propostas testadas diretamente pelo próprio público. Aos que acessam o aplicativo do Chama com frequência, por exemplo, é comum encontrar funcionalidades apresentadas em formatos diferentes de uma semana para a outra, sempre baseadas em feedbacks coletados diariamente dos nossos consumidores e revendedores.

Uma delas foi na forma de apresentação da tela de ofertas, que após estudos da área de Tecnologia, passou a apresentar um layout de carrossel. No entanto, na prática, esta nova cara do aplicativo não agradou os usuários durante a experiência de compra e, a partir do olhar atento aos feedbacks dos consumidores, rapidamente remodelamos a interface, voltando ao formato de lista com um layout revisitado e mais intuitivo para o processo de decisão de compra. Os processos acontecem de forma horizontal e coletiva, transformando a experiência das pessoas com o Chama interna e externamente, possibilitando um desenvolvimento mais assertivo e resultados cada vez melhores.

Com um ano recém-completado à frente do Chama, compartilho dessa perspectiva. Sob essa nova ótica de trabalho, meu maior aprendizado está na riqueza a ser extraída dessa dinâmica de interação direta com o consumidor e do poder de promover internamente decisões de forma colaborativa com a participação direta de toda a organização na definição das iniciativas que serão colocadas em prática  É como acompanhar o energético crescimento de um filhote pet, sempre inquieto, divertido, ativo e se desenvolvendo exponencialmente! 

*Marcelo Abrantes Pinheiro é CEO do Chama