Relato de experiências pedagógicas: como alunos de 8º ano relataram suas experiências na pandemia e com o ensino remoto?
No retorno às aulas presenciais, em fevereiro de 2022, fiz uma atividade de acolhida com meus alunos dos 8ºs anos do Ensino Fundamental II, que são as turmas novas que recebo todos os anos, e me apresentei a eles. Contei todas aquelas coisas que eles querem saber (como, por exemplo, se sou casada, tenho filhos, do que eu gosto e essas curiosidades que todo estudante tem sobre seus professores).
E pensando em alguma dinâmica ou atividade que os fizesse relatar uma experiência sobre os então dois anos de pandemia, adaptei uma atividade do Instituto Ayrton Senna ("Quem é você na quarentena?").
Pedi para que eles me escrevessem, anonimamente, alguma coisa de positivo ou negativo que a pandemia trouxe. O que eles aprenderam, do que eles sentiram falta, algo assim. A condição de anonimato era para que eles se sentissem mais confortáveis, visto que eu sou uma professora que eles ainda não conhecem.
Entre relatos de novas amizades feitas on-line, brigas e ajustes na convivência familiar, leituras colocadas em dia, estudantes que ganharam computador novo e gostaram das aulas remotas, outros que aprenderam a fazer macarrão instantâneo e ovos mexidos, chorei por diversas vezes ao ler relatos de perda de familiares, falta de contato com os amigos, solidão, ansiedade, tristeza, depressão, idas a psicólogos e psiquiatras e necessidade de abraços. Eu, que sou adulta e desenvolvi síndrome do pânico, fiquei imaginando a dificuldade que está sendo para eles, que tinham 10 anos quando nossas vidas viraram de cabeça para baixo.
Recomendados pelo LinkedIn
A escola que conhecíamos até 2019 não existe mais. quando os estudantes retornaram, percebi a dificuldade de organização, a falta de lições de casa e entrega de trabalhos, ansiedade em dias de prova, agressividade verbal entre colegas e no trato com os professores e pais perdidos e agressivos verbalmente também. Além da imaturidade dos estudantes, que estão no 8º ano, mas parecem crianças do 6º ano, pois são dois anos fora da escola e sem a experiência dos anos iniciais do Ensino Fundamental II em sala de aula.
Por isso, acredito em uma mudança no meu papel como professora também e na necessidade de retomarmos as relações humanas (ou mais humanizadas). Somos pessoas afetadas pela pandemia, em maior ou menor grau, mas ainda estamos aprendendo a lidar com uma realidade que nos é nova e da qual ainda não saímos, infelizmente.
Foi um semestre cheio de desafios, com muito aprendizados e muitas doses de estresse. Uma readaptação à escola novamente. Fomos jogados, de repente, do presencial, para o on-line, depois para o meio presencial meio on-line e novamente para o presencial. E tudo tem que ser aprendido e reaprendido e nós professores somos seres humanos também, não somos robôs e nossa saúde mental também é uma questão a ser tratada.
A aprendizagem socioemocional é uma questão a ser tratada nas escolas como prioridade! E ela deve ser levada não somente aos estudantes, mas aos professores, gestores e famílias. O mundo não é mais o mesmo e a escola também não! Devemos enxergar os seres humanos que ali estão presentes e trabalhar questões não somente pedagógicas, pois percebi que nem sempre ela está em primeiro lugar!
--
2 aPenso que os anos de pandemia causaram mais impactos em nossas vidas, do que a vivência de uma década na era pré-pandemia. Acredito que será necessário um tempo para que possamos nos posicionar neste novo cenário, praticando a empatia, a resiliência, a paciência e sobretudo, o respeito. Elaine, você promoveu um momento para reflexões, troca de experiências e para a aceitação desse "novo mundo". Parabéns!
Coordenadora de Simulados na Fundação de Rotarianos de São Caetano do Sul
2 aUm texto que revela sua sensibilidade e sua postura profissional e humana! parabéns pra você!
Psicanalista (Autônomo)
2 a🥰
Psicanalista (Autônomo)
2 aParabéns, Elaine por olhar além. Certamente vc, como sempre, fará a diferença na vida dessas crianças. As pessoas estão desesperadamente, querendo voltar ao que éramos e tínhamos há 2 anos, por isso o desespero, a agressão, a falta de entendimento. Precisamos olhar para o que passamos e entender que é um recomeço. Um grande bjo