Representatividade importa
Valda Nogueira para Huffpost

Representatividade importa

Eu desenho muito, desde criança. Acho que se você perguntar para qualquer ilustrador, todo mundo vai te dizer a mesma coisa, “desenho desde sempre”. Paralelamente a isso, eu sofro de Alopecia Areata desde criança, que é um tipo de calvície que atinge 2% da população mundial. Quando eu completei 18 anos , a alopecia que até aquele momento se restringia a algumas falhas no couro cabeludo avançou até que eu ficasse completamente careca.

Lidar com o fato de ficar careca foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz até hoje. Foi um processo longo e bastante solitário e eu passei mais tempo chorando no banheiro do que eu gosto de admitir. Eu cresci vendo as revistas com fotos de "certo" e "errado", cresci achando que era aceitável julgar as mulheres pela sua aparência, porque era o que todas as revistas faziam.

E cresci achando que eu era a única mulher careca no mundo, porque eu não via mulheres carecas em lugar nenhum.

Quando eu comecei a criar meus próprios personagens, as minhas experiências pessoais influenciavam bastante essas criações mas eu não conseguia desenhar nenhuma bonequinha careca, porque eu não queria que meus personagens sofressem o que eu já tinha sofrido. Porque, de novo, não foi nada fácil.

Nessa época eu estava num processo interno de (re)construção da minha auto-estima, fazendo um mergulho em mim mesma nos projetos da pós em artes visuais. Antes de existir o termo selfie, eu fazia auto retratos com uma câmera simples que eu tinha em casa. E todos os meus trabalhos eram auto retratos porque eu tinha decidido que já tinha me escondido o suficiente. Com o tempo, depois de me acostumar a me ver pelas lentes da minha câmera, comecei a me ver pelo meu desenho e fui desenhar bonequinhas carecas.


A primeira bonequinha careca que eu desenhei foi uma ciclope. Já era um ser imaginário e, sendo imaginário, poderia ser de quaquer jetio, né? Mas acharam que uma mulher não ter cabelo era estranho demais até para uma ciclope. Até os aliens de star trek têm cabelo! Mas, entre alguns percalços, fui me colocando no meu desenho. Era preciso me aceitar.

E mais, eu queria que milhares de mulheres e meninas por aí se aceitassem também, entendessem que existem sereias carecas, princesas carecas.

Representatividade importa. Transformar meu desenho em militância nunca foi o planejado, mas aconteceu. Se era estranho demais ver uma mulher careca por aí, eu precisava ser essa respresentação, usando a minha reluzente careca na rua ou colocando minhas sereias carecas por aí. Era preciso dizer que eu existo, que existimos.

Lolla Angelucci é ilustradora e criadora do projeto Sereias Carecas que trabalha com a autoestima de mulheres que perderam o cabelo.


Fabiana Dapper

Arquiteta | Construção | Interiores residencial, corporativo | Consultora especializada em arquitetura lúdica

5 a

Lindo projeto! Parabéns por conquistar a sua autoestima! Não é fácil para ninguém até para quem se encaixa nos ditos padrões. 👏🏼👏🏼👏🏼

Gostei muito! Pensar o trabalho de produzir novos significados para a alopecia como um processo de militância fez muito sentido para mim. Parabéns pelo trabalho. 

Amei!!!! Inspirador!!

Sonia Nascimento

Independent Legal Services Professional

5 a

Muito bom!

Leandro Monteiro

Executive Head / Director / Consumer Goods / Marketing / Export / International Markets / Retail / Ecommerce

5 a

Excelente!!!

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