RESILIÊNCIA E ESPÍRITO EMPREENDEDOR Razões para se manter firme e conquistar mercados.
RESILIÊNCIA E ESPÍRITO EMPREENDEDOR
Razões para se manter firme e conquistar mercados.
Como explorar as suas melhores competências e estar preparado para largar na frente quando da retomada dos negócios.
Há um poema do Drummond, chamado Definitivo, do qual eu gosto muito, e que encerra assim:
“A dor é inevitável, o sofrimento opcional.”
Todos nós experimentamos ao logo da vida situações as mais diversas. Quem de nós ainda não se viu diante de um grande dilema, não teve que enfrentar um grande problema, não sofreu um forte trauma, não levou uma queda na vida?
E não falo aqui apenas da vida pessoal, mas da vida como um todo, e em especial, das nossas experiências empreendedoras, que acredito, seja o foco de boa parte daqueles que ora me leem.
Pois bem. É exatamente nas horas mais difíceis que a gente diferencia os que conseguem ver o “copo meio cheio” dos que o percebem como “meio vazio”. Os que vêm oportunidades nas crises e sabem crescer com as adversidades, dos que se encolhem e se retraem diante das dificuldades.
E resiliência tem a ver com isso.
Todos nós somos resilientes, uns mais, outros menos, é verdade. Mas a resiliência é algo inerente ao ser humano.
Sabe aquela história do “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima...”?
Pois é, enquanto há uns que levantam mais rápido e melhores, com vontade de correr ainda mais; há outros que ficam contando os cacos deixados pelo caminho...
O termo resiliência tem raízes na Física, ciência que eu tive o privilégio de ensinar por mais de três décadas. E alude à capacidade que alguns materiais têm de sofrer impactos externos, absorver a energia imposta, e se recompor voltando ao estado inicial explorando essa energia acumulada.
A gente pode encontrar algumas situações nos esportes, a exemplo do salto com vara. Quem não lembra de como os atletas fazem? Eles correm, tomam impulso comprimindo a vara, que em seguida os lança a uma altura que lhes permita ultrapassar o sarrafo.
O bambu é também um bom exemplo. Há inclusive um livro de que gosto muito, chamado “Teoria do Bambu”, que narra a história de uma chinesa que após vivenciar horrores em seu país, consegue dar a volta por cima e se torna uma das maiores autoridades em tecnologia no mundo todo.
O nome dela é Ping Fu. A empresa que criou, a Geomagic, é uma das maiores do mundo no fornecimento de softwares 3D para a criação de modelos digitais de objetos reais.
Tudo bem, mas como essa competência, a resiliência, pode ajudar empreendedores a atravessar mais essa dificuldade que estamos enfrentando agora?
Quando voltamos o olhar para a nossa seara, o empreendedorismo, e buscamos uma competência que nos permita superar os tantos desafios que enfrentamos ao empreender em um território tão árido como o nosso, temos exatamente na resiliência essa competência.
Eu sou cearense, e amo a minha terra. Vejo o Ceará como um celeiro de inteligências capazes de criar, desenvolver, produzir e comercializar tudo o que nos vier à cabeça. E olha que “cabeça” é que não nos falta.
Se olharmos para as nossas raízes, veremos que fomos forjados para sobreviver às situações mais adversas. Secas, problemas, dificuldades, situações complexas, não são novidade para nós. Pelo contrário, já estamos acostumados.
Tanto que, quando nos deparamos com um desafio à nossa frente, logo encontramos uma solução inovadora.
Houve um tempo em que eu dizia que o cearense dava certo em todo lugar, pois por onde a gente passava em nossas viagens mundo afora, sempre encontrava o cearense fazendo sucesso, criando coisas, contando causos, fazendo história. Ele só não dava certo aqui. Mas já faz algum tempo que as coisas mudaram. Há tempos que resolvemos investir a nossa energia e força de trabalho em nossa terra, e a temos visto crescer muito mais por nossos próprios méritos, que por razões externas.
E isso é fruto exatamente da nossa resiliência. Somos um povo otimista, resiliente por natureza. Claro, uns mais, outros menos.
Mas a situação que estamos vivenciando agora, não tem precedentes na nossa história. Nem tampouco acredito que jamais tenha sido imaginada por qualquer um de nós. Sei que não temos as respostas certas para as tantas perguntas que estamos nos fazendo. Porém, não tenho dúvidas de que, mais uma vez, nós iremos mostrar que somos capazes de dar a volta por cima.
E para que isto aconteça, primeiro, precisamos nos manter vivos.
Aliás, esse para mim é o mais importante passo a ser dado: mantenha-se se vivo!
Se cuide, respeite as regras de isolamento social, respeite as orientações dos poderes públicos, das organizações de saúde. E, fundamentalmente, respeite a vida das pessoas que trabalham com você, cuide bem de quem te trouxe até aqui.
Tem um ditado cristão que diz: Isso também vai passar! Não tenho dúvida de que todos nós acreditamos nisso.
E quando passar, você terá muito mais dificuldade para se refazer se estiver sozinho. Com mais pessoas ao seu lado poderá retomar os rumos do seu negócio, de uma forma bem menos dolorosa.
Em seguida, sugiro que você faça uma análise SWOT da sua situação pessoal. Essa é uma ferramenta antiga, mas que segue extremamente atual.
Procure listar todas as suas competências, tudo quilo que você tem de melhor, que lhe diferencia, que lhe fortalece, que lhe faz acreditar que você é capaz de seguir em frente, de vencer mais essa batalha.
Não seja pessimista nessa hora, não menospreze as suas forças, valorize cada detalhe seu. Estes são os seus pontos fortes. Os argumentos nos quais você irá se apoiar para vencer mais esse momento.
Em seguida, não se faça de rogado, escreva as coisas que lhe enfraquecem, que comprometem a sua tomada de atitude, que lhe amedrontam. Mas lembre que estamos falando de você, e não do que está acontecendo no mundo ao seu redor. Nesse momento você está olhando para dentro de si.
Não coloque sobre seus ombros pesos que não precisa carregar, mas que estão presentes no ambiente em que você está inserido. Essa nova lista conterá os seus pontos fracos.
Compare as duas listas. E veja – eu não tenho dúvida do que vou dizer agora – que a primeira lista é muito maior que a segunda. Você tem muito mais competências do que fragilidades.
Portanto, meu amigo, minha amiga, você tem plenas condições de sair dessa e se tornar ainda mais forte do que entrou.
Você é resiliente. Então, faça da sua resiliência a plataforma para a retomada da sua vida, não a mesma de antes, mas da sua nova vida.
Claro que, quem conhece essa ferramenta sabe que ela ainda tem duas outras listas por preencher.
A terceira consiste em você olhar para o mundo lá fora e procurar perceber nele todas as oportunidades que estão surgindo ou que poderão surgir em um futuro breve.
De tudo o que está acontecendo ao seu redor, de tudo o que existe no mundo que você pode alcançar, na sua rua, no seu bairro, na sua cidade, no seu estado, seja lá em que lugar, onde você enxerga alguma luz? Esta nova lista conterá as oportunidades que você poderá explorar a partir de agora.
E por fim, faça a uma última lista, e nela coloque tudo aquilo que pode ameaçar você a se aproveitar das oportunidades. Mais uma vez lembro que agora você está olhando para fora, não para dentro de você. Liste as coisas que estão acontecendo ao seu redor que podem impedir que você supere as adversidades.
Essa é a lista das ameaças à sua virada de mesa.
Com as quatro listas em mãos, sugiro agora que você foque especialmente em duas delas: a primeira e a terceira. Olhe com muita atenção para os seus pontos fortes e veja como pode fazer para, apoiando-se neles, aproveitar as oportunidades que estão surgindo ou podem surgir.
Se você só estiver enxergando uma única oportunidade, esta deverá ser o seu foco. É para ela que você vai canalizar todas as suas competências.
Veja as coisas pela ótica da verdade. E a verdade é uma só: você tem muito mais chances de vitória que de derrota.
Então, minha amiga, meu amigo, trate de levantar a cabeça e começar a se organizar para a nova vida que você está começando hoje. Sim, pois não pense que as coisas voltarão a ser como eram antes, porque não serão.
De hoje em diante, tudo vai ser diferente. E isso, por mias que pareça lugar comum, é algo bom, muito bom.
A partir de hoje você saberá com que pode contar. Saberá valorizar ainda mais as pessoas, a família, os amigos. A partir de agora, você não perderá uma única oportunidade de viver cada momento de sua vida como se fosse o último. Pois você acabou de tomar consciência do quanto a vida é frágil e ao mesmo tempo, pode perceber o quanto a vida é bela, e que deve ser vivida intensamente.
Quando sair dessa leitura, vire-se para a pessoa que você ama e diga para ela o quanto você a ama. E se ela não estiver ao seu lado, ligue para ela e diga apenas: Eu te amo!
Porque é disso que a vida é feita, de amor. Amar, na verdade, é a nossa maior competência. É o amor que nos faz verdadeiramente resilientes.
Francílio Dourado Filho
Sócio diretor da E2 Estratégias Empresariais
francilio@e2estrategias.com.br