Responsabilidade ascendente no trabalho
“Se o aprendiz não aprendeu, o supervisor não ensinou”
Eis um postulado tão simples, quanto verdadeiro.
Aprendi essa lição há quase meio século, num curso sobre técnicas de treinamento (”Ensino Correto do Trabalho”) durante a minha relação funcional com a Cia. Siderúrgica Paulista – COSIPA.
Nunca mais esqueci do singelo, mas denso ensinamento, e sigo propagando esse valiosíssimo axioma em meu convívio profissional e pessoal.
Trago a reflexão neste artigo, pois a crítica a toda sorte de profissionais é recorrente, sejam eles dos setores empresarial, industrial, ou público. É fácil apontar-lhes o dedo. Por outro lado, é necessário lembrar que a crítica, em sendo subjetiva, jamais reflete uma realidade absoluta. É sob esse prisma de relatividade que devemos entender que qualquer falta cometida por um subalterno, em geral é oriunda de falhas por parte dos seus superiores.
Um exemplo clássico e muito ilustrativo dessa relação de responsabilidade é o do técnico de time de futebol – se a equipe vai mal, é sempre o técnico quem sai de campo.
Com exceção de proprietários individuais e no âmbito familiar, onde a atribuição de hierarquia pode advir de uma situação natural ou circunstancial, há que se considerar que ninguém se auto elege para um cargo ou função, seja em empresas privadas ou em cargos da administração pública. Nestes, qualquer pessoa é escolhida para ocupar seu posto de trabalho por meio de critérios predeterminados.
Na política, mais especificamente em regimes democráticos, o empoderamento deriva da vontade popular, muito embora no sistema eleitoral brasileiro, para importantes postos de governo, esta escolha se limite a candidatos pré-selecionados pelos respectivos partidos, limitando a autonomia popular.
A abordagem que aqui delineio visa uma ponderação de suma importância: a de considerar que erros sistemáticos, insuficiências funcionais, desvios de conduta ou de postura denunciam, antes de mais nada, falhas na avaliação da experiência do candidato, falta de sensibilidade quanto à necessidade de sua capacitação (por treinamento ou reciclagem), falta de indagações mais aprofundadas de caráter psicológico e intelectual… apenas para citar alguns dos equívocos mais comuns, da parte do contratante.
Exemplos não faltam em nosso dia a dia: neste momento de profunda crise econômica e política que o país atravessa, a quem se pode responsabilizar? É possível que a escolha dos candidatos para as suas respectivas governanças não tenha sido feliz por insuficiências diversas, que recaem menos sobre os governantes, do que sobre quem lhes concedeu acesso a tais postos. No que diz respeito ao crivo prévio dos partidos, sabe-se que questões de conveniência e fisiologismo têm, lamentavelmente, um papel preponderante. Já ao eleitorado, tão numeroso quanto heterogêneo, resta a palavra final, a decisão derradeira sobre o governante a ser “contratado”.
Seja qual for o caso, o fato é que é mesmo necessária uma permanente avaliação, para que não se perpetuem erros e desvios, impróprios ao exercício de cargos ou funções.
Em outros termos, podemos afirmar que nenhum funcionário (simbolicamente o “aprendiz”) coloca-se sozinho num determinado posto de trabalho – há sempre um responsável (o “supervisor”) acima dele. Cabe a este último avaliar constantemente o desempenho do comandado, saber das suas necessidades de orientação, capacitação e treinamento. Em último caso e, dependendo da atitude do funcionário (pró-ativa ou não), cabe até mesmo dispensá-lo.
Em qualquer nível, em qualquer ambiente ou circunstância que implique avaliar pessoas, devemos ter em mente que seus erros e acertos são fruto, fundamentalmente, da competência e do caráter de seus ascendentes, na hierarquia profissional ou familiar, do momento atual ou passado. Por isso, repassemos a lição:
“se o aprendiz não aprendeu, o supervisor não ensinou”.
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