Respostas erradas

Respostas erradas

De Paulo Matta

Vá lá que “responder” não seja exatamente um dos verbos mais simples em termos de regência. Aprendi no colégio, com excelentes professores, dos quais destaco o querido Sergio Nogueira Duarte , que uma pessoa pode responder alguma coisa a outra, responder a alguma pergunta, simplesmente responder, entre outras transitividades.

Só que a regência, generosa em opções, tem limites!

Ela não permite, por exemplo, que alguém “responda” outro alguém, desta forma mesmo, sem a preposição...

E por que eu trago este tema para o Lifelong Sharing?

Respondo a vocês (olha aí a preposição) que o faço (o objeto direto) mais como um desabafo, diante do empobrecimento do uso da língua portuguesa, que percebo de forma cada vez mais dramática.

Hoje mesmo, na leitura de um jornal de grande circulação, dei de cara com um aberrante “... ele respondeu o treinador”!

Já encaixei que redações dos principais veículos de comunicação tenham abolido a figura do redator ou copidesque – o que eu chamaria de economia porca. O problema (ou um deles) é que se partiu de uma premissa falsa para justificar a decisão: a de que os repórteres têm texto final, são capazes de escrever de conjugar forma e conteúdo corretos.

Não é verdade! E não haveria de ser, considerando-se duas questões cruciais:

  • cada dia se lê menos no Brasil;
  • convencionou-se, por preguiça ou descaso, consagrar como válidos autênticos atropelamentos da norma culta, apenas porque “é como todo mundo fala”.

Infelizmente, acredito que não haja volta para este processo de deterioração da língua portuguesa. As redes sociais e plataformas de comunicação já tinham acostumado a garotada a encurtar as palavras e escrevê-las como são pronunciadas.

Diferentemente do que vi acontecer com meus filhos mais velhos, ainda estimulados a ler e a escrever (Paulo tem 27 anos e Beatriz, 24), vejo que os mais novos (Alice, 16, e Bê, 14) quase não leem e têm pouquíssima produção textual.

Sem contar que, para os dois, me tornei “o chato que fica corrigindo a forma como falamos e escrevemos”. Até aceitaria que isto fosse rotulado como um abismo geracional, mas sei que beiramos o fundo do poço – com cedilha. 

Mariana Procópio

Podcaster and Content Developer | Brand Journalism, Podcasting

1 a

👏👏👏 muito bom

Fernando Valle de Menezes Côrtes

Sócio Administrador na Construtora Menezes Côrtes Ltda

1 a

Paulo parabéns pelo artigo 👍✌️

Paulo Matta

Director, RPM Comunicação

1 a

Você nem precisa deste olhar, Duda. Somos da mesma lavra, tivemos aulas e guardamos para sempre os ensinamentos (e as apostilas) do Sergio Nogueira Duarte.

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