A ressureição de Lula foi necessária
Peço licença aos meus leitores para escrever um texto inteiro dedicado as criaturas mais refinadas, sofisticadas e aprimoradas que, a realidade atual do Brasil pode produzir nos últimos anos.
São essas pessoas marcos importantes de representação que carregam consigo o doloroso ofício de acumular todas as virtudes humanas necessárias para um mundo irrepreensível.
Os ativistas da esquerda, ou melhor, a linha de frente da tão sonhada justiça social arrebatadora de miséria, desigualdade e equilíbrio, é quem é o objeto do meu estudo nesse material.
E de onde parto? Ora, meu raciocínio vigora de perceber que acabamos de atravessar um pleito histórico onde o candidato Luiz Inácio Lula da Silva — um ser humano fantástico que representa todas as boas causas da agenda humanitária — em seu discurso inicial de vitória postulou que a sua própria eleição não é uma vitória sua ou do partido, mas “de um imenso movimento democrático para buscar restabelecer a paz entre os divergentes”.
E como foi que ele, seus seguidores e companheiros — para ser mais preciso — conquistaram essa áurea brilhante de ser iluminado? Bem, o humilhado presidente foi recentemente protagonista de uma encruzilhada de seus inimigos políticos que numa combinação orquestrada entre população, agentes do serviço público e inimigos políticos do seu partido, com uma rede de juristas nada justos e pessoas de mau-caráter, cometeram a injustiça de encurralar ele e seu partido inteiro.
Nas palavras do presidente eleito, não enfrentaram um adversário, mas “a máquina do Estado brasileiro colocada a serviço do candidato para tentar evitar que nós ganhássemos as eleições”.
Não seria exagerado, nesse momento, fazer um paralelo entre a sua história de luta política, civilidade e injustiça e a vida do próprio Cristo. Não seria exagero equiparar a narrativa do que sofreu o petista a vida, morte e ressurreição do peça-chave do cristianismo. O próprio assim disse.
Sem querer contrariar e menosprezar a tão belíssima biografia, permito mesmo dizer que há apenas uma diferença: a liturgia progressista só fez o mal necessário, tudo que teve que fazer foi por uma causa nobre. É uma obrigação moral, a contragosto, se faz necessária diante da ameaça da democracia pelo genocida.
Por falar nele, do outro lado, estão aqueles sendo seres humanos péssimos. Os homens e mulheres que desejam eliminar a comunidade homossexual massivamente os impedindo de se manifestar e até mesmo de existir, que querem um governo teocêntrico governado por gente da laia do Malafaia e dos Valadãos, debiloides obcecados por poder de massa.
Estamos falando de gente que quer se armar até os dentes para promover a violência entre pessoas que pensam diferente e passar meia dúzia de balas em quem discute no trânsito ou no futebol. Gente que usa desculpa de defender a sua família, sua propriedade e até mesmo sua integridade para eliminar meninos e meninos, obrigados a entrar para o tráfico porque escola e trabalho são impensáveis para a garotada.
Os indesculpáveis conservadores, esses sim são pessoas terríveis que promovem as forças militares e incitam militares a tomar o Brasil de assalto para instaurar uma ditadura militar pior que a que já tivemos. Gente que não acredita na restauração e na redenção de assassinos e criminosos da velha guarda, do crime organizado e das facções criminosas de renome mundial.
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São pessoas obcecadas em descriminar, excluir e matar pretos e pobres por puro ódio a classe social que pertencem, que acha que o lugar de raças diferentes é no baixo escalão dos empregos ou nas cadeias. É gente que não quer a proclamação da alta cultura do funks cariocas por puro preconceito, que não enxergam o valor de continuar dizendo aos jovens que eles devem se orgulhar do crime, da promiscuidade, do amor ao poder, do tráfico e dos bailes que promovem a emancipação social pelo rádio.
A esquerda é diferente. Suas lutas são as únicas que correspondem ao bem-estar da população e que podem conquistar e alastrar pelo país a tríade preferida do discurso político: eles sim promovem a saúde, proporcionam segurança e desenvolvem a educação.
Quando a esquerda está no poder, finalmente podemos voltar a prosperar. Estão sempre de olho em como ajudar a população a garantir um trabalho, a ter uma previdência social alta, a ter acesso a lazer, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados.
Já do lado de lá, a tradição e a religião são problemas realmente importantes a combater. Mesmo que historicamente suas atuações sociais tenham provocado a maioria dos projetos sociais no mundo, mesmo que tenham feito um grandioso trabalho contra a fome, que tenha resgatado gente das drogas, tirado gente da rua e atuado na falta de moradia e dignidade com seus abrigos, asilos, orfanatos e projetos sociais nos bairros.
De nada vale o trabalho da igreja em construir ou apoiar a maioria dos lares para idosos, os orfanatos, as creches sociais. E nem mesmo o dinheiro sujo do capitalismo de empresas que apoiam as bibliotecas, os teatros, os cinemas os projetos de esporte. Isso tudo é dinheiro indigno de riqueza injusta, só vale se puder propagandear a nobreza humana da gente da propaganda da esquerda.
Imagine só quão horrível seria um lugar em que não tivéssemos lido Antônio Gramsci, que não tivéssemos adotado um jeito de inverter a lógica da dialética nos tornando tão santos e bons como notáveis pessoas conservadoras da história.
Não quero viver um Brasil em que não seja a esquerda que esteja na frente coordenando o futuro promissor de uma nação que não esconde intenções, que não tem transparência, que não tenha um passado duvidoso e que não haja crimes de colarinho branco, a tão sonhada nirvana progressista fica para um dia, este qualquer em que poderemos erradicar a fome, dar escola a todos, não ter ricos roubando dos pobres, ter escolas em cada esquina e menos igrejas, opressão familiares, tradições opressoras e costumas ultrapassados.
Sendo puro, santos e inocentados de qualquer culpa que nos acuse, nos sentimos forçados pelo capitalismo cruel a desobedecer a nossa inclinação para a bondade, para, por uns instantes, em que tivemos que violar o bem para promover mais bem geral ainda.
Nós, a esquerda, somos todos seres a fim de promover a liberdade, o amor, a igualdade. Almas delicadas que não conseguem escapar das garras radicais dos insensíveis reacionários.
Que os pecados do capitalismo sejam todos condenados. Se não fossemos todos a favor do fim da religião, diria “Que Deus abençoe a nação”. Nesse caso, peço licença a todos para pedir em nome de Marx e sua trupe que nos apadrinhe na montagem de um esquema de país maravilhoso que construiremos em cada espaço desse globo que pisarmos.