A retomada do trabalho presencial: um retrocesso para a inclusão e diversidade
Você já parou para pensar se a volta ao trabalho presencial é realmente inclusiva? Por que algumas empresas decidiram retornar integralmente ao trabalho presencial, indo contra todo o esforço de inclusão, equidade e diversidade dos últimos anos?
Recentemente, li um artigo da BBC que discutia os motivos que levam alguns executivos a abandonar o trabalho híbrido em favor do presencial. Entre esses motivos está o desejo de exercer controle sobre seus funcionários. No entanto, especialistas alertam que, no mundo pós-pandêmico, as empresas precisam empoderar seus colaboradores. Outro motivo é a economia instável, que está aumentando a pressão por lucros e está levando CEOs a tomar ações "desesperadas" para agradar os acionistas. Porém, a razão que mais me chamou atenção, foi relatada ainda por Nicholas Bloom, da Universidade de Stanford, falando dos líderes serem inalcançáveis, distantes de seus colaboradores e por tanto não escutam o que estes têm a dizer.
E então fiquei refletindo, além destes líderes não terem entendido que no longo prazo, o trabalho híbrido e remoto é lucrativo para as empresas, será que eles pararam para pensar como esta gestão “linha-dura” vai contra todo o esforço de inclusão, equidade e diversidade que foi feito nos últimos anos?
Pessoalmente, me senti impactada ao imaginar como seria meu retorno ao trabalho se fosse totalmente presencial, especialmente após ter um filho em 2020. Estudos da Deloitte enfatizam a importância do trabalho flexível para as mulheres, para equilibrar as responsabilidades domésticas, principalmente o que tange a parentalidade. O trabalho híbrido ou remoto é uma ferramenta relevante de equidade para a divisão das tarefas parentais.
Estas mesmas mulheres, participantes da pesquisa da Deloitte, quando perguntadas sobre o impacto que um regresso obrigatório ao escritório lhes causaria, mais de um quarto delas disseram que pediriam para reduzir horas, que isso teria um impacto negativo no seu bem-estar mental, e cerca de uma em cada 10 começaria a procurar um novo emprego.
Além disso, a perspectiva das Pessoas com Deficiência não pode ser ignorada. Segundo o IBGE o Brasil tem mais de 17 milhões de pessoas com deficiência, deste total, 3,8% apresentam deficiência física nos membros inferiores, enquanto 2.7% de pessoas possuem nos membros superiores, e assim a falta de acessibilidade no ambiente de trabalho é um grande obstáculo para a inclusão.
Você sabia que a possibilidade do trabalho híbrido ou remoto é solicitado pelas pessoas com deficiência antes mesmo da pandemia? O modelo permite uma maior inclusão sem a necessidade de adaptações arquitetônicas significativas nos escritórios e fábricas. Trabalhar em casa pode beneficiar pessoas com deficiência, permitindo que gerenciem suas condições de trabalho de forma mais acessível.
Outro grupo impactado pela volta ao trabalho presencial são as pessoas que vivem nas periferias e longe dos centros econômicos das grandes cidades. O tempo gasto em deslocamentos pode impactar negativamente a qualidade de vida e a produtividade destas pessoas se compararmos com seus colegas que não precisam enfrentar este desafio. O também nos mostra uma necessidade de ferramentas de equidade para a gestão de desempenho e desenvolvimento destas pessoas.
Para muitos brasileiros que dependem do transporte público, são gastos em média 93 minutos no deslocamento casa-trabalho-casa por dia, em contraste com grandes cidades estrangeiras, como San Diego, EUA, por exemplo, que o tempo médio é de 70 min e Paris, França, 64 minutos.
A revista Exame relata uma pesquisa da USP de 2021, somente 16% dos postos de trabalho a menos de 1 hora de distância dos trabalhadores estão à disposição dos mais pobres em São Paulo. E revela também outras características que refletem o perfil do trabalhador paulistano que passa mais tempo no transporte coletivo: a maioria é jovem (71%), pertence às classes D e E (76%) e se autodeclara preta ou parda (52%).
Recomendados pelo LinkedIn
Em conclusão, alinhado com dados relatados acima, vemos que a pressão a volta ao trabalho, 100% presencial exercida pelos CEOs, alinhado ao desconhecimento da realidade de seus colaboradores, faz com que esta decisão se revele não equitativa e não inclusiva, principalmente quando falamos de mulheres, pessoas com deficiência, pessoas negras e/ou periféricas.
Há uma oportunidade significativa destes líderes participarem das ações de suas empresas voltadas para Equidade, Inclusão e Diversidade, de modo que decisões como estas sejam cada vez mais raras e que revelem aqueles que promovem a discriminação no mundo corporativo.
Fontes:
Adapta – Empresa de Soluções para RH - PCD no trabalho híbrido é igual a novas oportunidades
CNN News Brasil - As razões por que executivos pressionam pela volta do trabalho presencial nos 5 dias da semana, 2024
Deloitte – Pesquisa - Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) nas Organizações 2023
Deloitte – Pesquisas – Women @ Work 2021 e 2023
PROJETO RH – Consultoria de RH - Você já se perguntou quanto tempo se gasta indo para o trabalho ao redor do mundo?
Revista Exame - Em São Paulo, 70% gastam mais de uma hora no deslocamento ao trabalho, 2021
Global Product Owner - HighRadius Application
8 mÓtimo texto e representação Pri Alvarenga Parabéns!
Profissional que lidera serviços de IT, com foco em melhorar as operações dos clientes, priorizando a comunicação clara e acreditando na parceria continua, pois ninguém faz o seu melhor sozinho.
9 mExcelente matéria e reflexão Pri Alvarenga! Eu confesso que custei um pouco pra aceitar esse novo formato, mas hj tb como a Vilma, depois de uma maternidade não sei como seria focar em carreira sem ter esse novo formato! Também experimento um momento de 2 roles em 2 áreas destintas com diversos bons frutos já colhidos, adicionado a 3 role de ser mãe de uma criança de 4 anos! Experiência que só foi possível dentro desse formato híbrido e uma liderança que acreditou que eu poderia fazer acontecer! Gratidão 🙏
Assistente de atendimento ao cliente | Assistente Administrativo
9 mPri Alvarenga é um artigo bastante oportuno. Hibrido e Home Office é o melhor para as empresas.
Global IT Program Manager | IT Service Mgt Expert | Strategic Portfolio Enthusiastic | Global Leader | Data & Analytics Ambassador
9 mMuito legal esta perspectiva Pri. Como mãe há pouco mais de 2 anos também, não imagino como seria minha carreira atualmente no modelo 100% presencial. Retornei da licença maternidade no modelo híbrido pós pandemia e recebi o reconhecimento de "exceder expectativas" nos 2 anos seguintes ao meu retorno. E sabemos que filho com menos de 2 anos demanda a vida pra mulher 🫢 me tornei mais eficiente e até menos estressada do que meus tempos no 100% presencial e sem filhos. 🤷🏻♀️ Ah, e minha saúde mental está em dia, obrigada 👍🏼😁 (dizem que trabalho remoto sobrecarrega) 🤔 então é possível sim, como você escreveu, com os líderes certos neste empoderamento do colaborador e o suporte adequado da organização. 💪🏼
Field Service Representative na Boeing | Customer Support Engineer | Commercial Aviation
9 mParabéns pelo artigo e pela reflexão necessária!