RETROSPECTIVA: DO CLÁSSICO AO SIMPLES

RETROSPECTIVA: DO CLÁSSICO AO SIMPLES

Num time ágil atualmente é comum as pessoas dizerem que não se prendem a metodologias ou frameworks, mas no dia a dia é comum mesmo que haja alguns vícios que quebrem essa falácia.  Eu mesmo sou um exemplo de quem fala isso, mas sempre tenho uma ou outra ferramenta preferida de que não abro mão :p  

Mas vamos falar aqui de um caso real, basicamente de um exemplo de retrospectiva bem comum no mindset (kkkkk) dos agile/scrum masters e agile coaches. A maioria das pessoas está acostumada com aquele padrão de retrospectiva do Scrum, onde o time se reúne no final da sprint e discute aquela gama de pontos positivos, pontos negativos, situações que requerem atenção, situações que não podem se repetir e assim por diante... E aqui no time Netuno, meu time na Softplan, seguíamos esse modelo. Nada contra ele. É um clássico! Mas eu sou chato e gosto de usar as minhas ferramentas.   

Nossas retrospectivas rodavam no meio da tarde do último dia da sprint, uma linda e maravilhosa sexta feita. Isso fazia com que o clima de "sextou" durasse até a hora da retrô, onde a galera começava a lembrar dos perrengues da sprint e apontar dedos – e sim, isso não só é comum como é saudável para o time... Embora eu particularmente, não ache nada produtivo.   

Mesmo que muitos agilistas gostem de usar temáticas para quebrar o gelo (filmes, séries, jogos e demais coisas que todo bom nerd gosta), no fim o resultado é o mesmo: Sempre se acaba revendo diversas situações simultâneas, sem tanto foco em nada específico – e sempre na mesma vibe, com variações, de “o que tá legal, o que tem que mudar, no que erramos rude e etc”. O resultado disso eram diversos pontos a melhorar, mas sem muito direcionamento de como melhorar – e quando se trabalhava na melhoria, ela ficava em esferas específicas do time, e não no time como um todo, participando e co-criando o resultado.   

Para situações cabeludas era ainda pior, pois muitas pessoas tinham medo de apontar o dedo para outras ou não apontava para que não recebesse uma dedada também. Como trabalhar em melhorias se as pessoas tinham medo de apontar os erros? Pior, era comum que a retrô estourasse o tempo de agenda. Quem é que não curte passar a hora de uma reunião no fim da tarde de uma sexta feira? Eu. Eu não curto. Acho que ninguém curtia também.   

Juntei a fome com a vontade de comer! Se tem uma ferramenta que eu nunca abro mão é o bom e velho Lean Coffee! Embora café não se coma e que nem sempre tinha café, serviu pra deixar a nossa retrô muito mais Lean – ou enxuta pra quem preferir. A retrô passou a ter um time box fechado de 90 minutos, sendo que usávamos a primeira meia hora para apresentação de números, recados e explicações do time, e a outra uma hora para o Lean Coffee.   

O Lean Coffee, que a gente passou a chamar carinhosamente de Kaizen – pra nem perder tempo fazendo café – funcionava da seguinte maneira:  

  • De forma anônima os membros do time escreviam cards no nosso board no Miro – pra quem ainda não sabe, se pronuncia Miró, pois é uma homenagem ao artista plástico Joan Miró... pra gente não fazer nenhuma rima de quinta série que possa ferir qualquer código de conduta, também é mais legal falar “Miró”; 
  • Por sorteio a gente escolhia um card para discutir; 
  • Por 5 minutos então a gente discutia possíveis soluções da questão, repetindo mais 5 minutos até que considerássemos que o problema já tinha informações suficientes para que a situação pudesse ser direcionada, tratada e resolvida; 
  • Caso o problema (ou oportunidade de melhoria) fosse tosco, a gente entrava em consenso pra sortear outro com maior impacto no nosso processo.   

Com isso, passamos a ser muito mais diretos nas soluções – ou direcionamento para as soluções – sem estourar a janela da cerimônia. Pra alegrar o time mudamos também para segunda-feira no final da manhã. Os itens tratados então eram movidos para a coluna de concluído e eram apresentados na próxima retrô – onde já pegávamos o feedback oficial do time quanto ao novo status e já servia de base para novas melhorias baseadas ou não nelas.   

É claro que algumas oportunidades de melhoria demoravam mais tempo para a correção e que uma retrospectiva dessas acabava se tornando um pouco robótica, ainda que mais eficiente. Para resolver esses problemas tínhamos diversos quebra-gelos, e também intercalávamos esse modelo de retrô com outros modelos baseados em jogos ou team buildings... mas a regra geral é: sempre voltar ao simples!   

Fik Dik: Às vezes o simples funciona melhor que o que tá na moda, mas que justamente por ser simples acaba se tornando um vício. Deve-se cuidar também para que o vício não seja mascarado por “ferramenta que eu gosto”, e continuar gostando dela mesmo que não traga mais o resultado esperado. Isso é, na teoria... mas na prática, vale lembrar que ainda mesclar com outras ferramentas, mesmo que não tão precisas - isso ajuda a manter o ritmo e a não cansar o time.   

Até quando vamos usar o modelo? Enquanto ele trouxer resultados. Me sigam para mais dicas.   

Outra coisa que vale lembrar... é que o foco de uma boa retrospectiva não é a ferramenta... a ferramenta é só... hmmm... ermmmm... uma ferramenta! Se para atingir resultados precisamos ficar inovando a cada retrô, é por que estamos mais preocupados com a forma do que com o resultado... Sabe aquela máxima de “se sempre precisamos pensar fora do quadrado é por que o quadrado tá inadequado”? Poisé... Mas isso é assunto para um próximo artigo. Até lá :)  

 

 

Viviane Venturi

Customer Engagement Manager | CS | Líder em Operações de Produto e Transformação Ágil | Product Operations | Lean Digital, Kanban & Scrum | Agile Coach

3 a

Ótimo case, muito bem pautado e explicativo

Laís Martini

Senior Enterprise Account Executive | SaaS | Healthtech | HRTech| B2B | Predictable Revenue | Spin Selling | Storytelling | Farm

3 a

Muito bem pontuado! 👏

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