Retrospectiva Fenalaw 2024 e tendências do Direito para 2025 - Parte II (Análise das Lawtechs)

Essa é a continuação do artigo que publiquei no mês passado. Na parte I, o meu foco foi destrinchar os temas das mais de 100 palestras que aconteceram na Fenalaw 2024, o que você pode conferir aqui.

A análise de hoje será com base das empresas expositoras e nos produtos e serviços que elas levaram para a maior feira do mercado jurídico da América Latina, bem como a nível de adoção de Inteligência Artificial no cenário atual de Lawtechs brasileiras. 

Análise Geral

Assim como em 2023, a Fenalaw dedicou dois andares inteiros do Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, para a feira com mais de 100 empresas expondo diversos serviços ao mundo jurídico.

As empresas maiores e com estandes mais sofisticados ficaram no 5º andar, enquanto as pequenas e médias ocuparam o 4º andar, com estandes muito interessantes também.

Essa foi uma constatação de várias pessoas. A qualidade dos estantes está aumentando, tanto em design quanto em experiência para os visitantes.

Sobre o perfil das empresas expositoras, vou analisá-las por três ângulos: tamanho, segmento de atuação e adoção de Inteligência Artificial. 

Análise por cota de patrocínio

Uma das formas de analisar as tendências da feira é entender como se dividiram as cotas de patrocínio, uma vez que a regra em geral é, quanto maior a empresa, maior a cota que ela adquire no evento.

Sendo assim, tivemos como patrocinadores diamante 8 grandes empresas como Thomson Reuters, Elaw, Preâmbulo e Totvs.

Já como patrocinadores ouro, estiveram presentes 26 Lawtechs de peso, como DataLawyer, JusBrasil e Oystr.

Na terceira categoria de patrocinadores, a prata, a Fenalaw 2024 contou com 24 das mais interessantes startups do setor, como Docato, UpLexis e WebDox.

Por fim, como patrocinadores bronze, participaram a AASP, CredValue, Descomplicando o Inglês Jurídico, Fiscoplan e Protiviti.

Além disso, como expositores, a feira contou com players incríveis como 54 das mais inovadoras empresas do setor jurídico, como Bits Legal Design, ForeLegal, Lex Design, e Turivius, para citar algumas.

É claro que o tamanho da cota de patrocínio não reflete, necessariamente, a dimensão ou a importância da empresa, muito pelo contrário. Como expositor, sei que uma decisão como essa está mais ligada à estratégia de marketing no momento do que qualquer outra coisa. Eu vi, por exemplo, empresas que tinham estandes nos dois andares, com produtos diferentes em cada um deles, ou seja, público-alvo distintos. 

Análise por Segmento

Outra forma de analisar as tendências para o mercado jurídico é contabilizando quantas empresas de cada setor estiveram presentes no evento.

Lembro que há algumas edições, cheguei a contar 14 empresas de jurimetria no evento.

Será que esse padrão se repetiu? O que mudou?

Na verdade, o padrão mudou. Não tivemos tantas empresas de jurimetria em 2024. O que tivemos foi um predomínio até que óbvio das empresas forcadas em ferramentas para gestão de ações judiciais. Foram 16.

Na sequência, tivemos as empresas focadas em sistemas para gestão dos escritórios de advocacia, conhecidas como ERPs, com 9 expositoras.

A parte de automação, especialmente com uso de RPA, também se mostrou uma forte tendência, com 7 empresas focadas nesse tipo de solução.

A sempre forte área de Pesquisa Jurídica contou com 6 representantes, especialmente na área de jurisprudência e jurimetria.

Com 5 Lawtechs especializadas, o área de gestão de documentos aparece como sendo a quinta maior tendência no evento. Sua irmã, a área de Elaboração de Documentos, veio com 4 representantes.

Também com 5 expositoras estava a área de investigação e compliance.

A área de Assinatura e Certificação Digital contou com 4 representantes.

E, por fim, as Lawtechs especializadas em jurimetria foram 3, ao lado das Lawtechs focadas em Legal Design e Visual Law.

Todas as demais tiveram menos de 3 representantes ou ficaram diluídas dentro da área de “consultoria”. 

Análise por uso de Inteligência Artificial

Por fim, considerando que a Inteligência Artificial foi o tema mais debatido nas palestras do workshop da Fenalaw, faz sentido analisarmos quantas das empresas expositoras da feira apresentaram soluções potencializadas pela I.A.

Em 2024 tivemos 27 Lawtechs adotando Inteligência Artificial em suas soluções. Muitas incluíram a tecnologia em suas ferramentas pré-existentes e outras são IA nativas ou usam a IA como tecnologia principal.

Veja abaixo os principais usos da I.A. na prática jurídica, de acordo com a Fenalaw 2024:

1.      I.A. que interpreta os dados das capas dos processos distribuídos, que são padronizados conforme suas necessidades e inseridos automaticamente no sistema, criando fichas de processos precisas e que se adequam à sua operação jurídica.

2.      IAs que fazem o monitoramento contínuo de publicações e andamentos, com notificações para situações críticas ou estratégicas.

3.      IAs que realizam a consulta em mais de 81 sites dos tribunais para buscar citações e intimações, capturando seus conteúdos.

4.      IAs que captam as últimas movimentações dos processos em 1ª instância e antecipam certas informações processuais, como sentenças.

5.      IAs que capturam informações em Diários Oficiais diretamente e disparam workflows de forma automática, com agendamento de prazos e insights processuais. IAs que realizam a leitura e desmembramento dos dados das guias e ativam workflows para envio de pagamento conforme necessário.

6.      IAs que integram o sistema com o Domicílio Judicial Eletrônico (DJE) e permite, que citações, intimações e notificações sejam automaticamente gerenciadas e sincronizadas.

7.      IAs que capturam informações da capa do processo no dia seguinte à distribuição e enviam para o sistema.

8.      IAs que capturam automaticamente as reclamações feitas nos diversos sistemas do Procon e no Consumidor.gov.

9.      IAs que viabilizam fluxos automáticos de trabalho para trazer mais agilidade à gestão de processos.

10.  IAs que usam machine learning para gerar insights preditivos e prescritivos para gestão tributária de alta performance em empresas.

11.  IAs que traduzem informações jurídicas em uma linguagem que o seu cliente entende, mantendo-o informado e permitindo que o advogado se concentre em construir relações duradouras.

12.  IAs para leitura de documentos, predição e jurimetria.

13.  IAs para cadastro automático de novas ações judiciais no sistema.

14.  IAs para Gestão Completa de Tarefas e Prazos;

15.  IAs para Documentos Inteligentes Autoexecutável;

16.  IAs para Robôs Autônomos que Eliminam Tarefas Repetitivas;

17.  IAs para Extração de Dados de Iniciais e Peças Processuais;

18.  IAs para gerar peças e conteúdo textual personalizado de foram automática e com alta qualidade.

19.  IAs para criar modelos de peças processuais mais assertivas e uma lógica de comunicação automatizada. IAs para realizar pesquisas por similaridade e encontrar a estratégia adequada.

20.  IAs para fazer perguntas sobre os andamentos ou peças específicas dentro do processo.

21.  IAs para fazer resumos de decisões e de outras manifestações.

22.  IAs para criar fluxos de notificações e mantenha os clientes atualizados sobre as movimentações via e-mail ou WhatsApp.

23.  IAs para analisar e classificar os dados para entregar resultados.

24.  IAs para classificação, organização e extração de informações de documentos e e-mails.

25.  IAs para análise de tendências, identificação de oportunidades e aprimoramento contínuo dos processos.

26.  IAs para usar sua própria base de dados para alavancar o conhecimento acumulado pelo escritório.

27.  IAs para aumentar a qualidade dos cadastros.

28.  IAs para a geração de resumos de qualquer tipo de documento.

29.  IAs para explicar os andamentos que aconteceram em um determinado processo e também a situação atual do processo.

30.  IAs para simplificar termos jurídicos, permitindo uma comunicação mais direta com os usuários.

31.  IAs para fazer uma triagem mais eficiente e precisa de buscas por jurisprudências.

32.  IAs para jurimetria que interpreta cenários e gera insights, contribuindo para resultados efetivos.

33.  IAs para atendimento ao cliente, detalhamento do caso até a venda dos serviços do escritório

34.  IAs para criação de documentos jurídicos integrado às etapas do caso do seu cliente.

35.  IAs para localizar informações críticas de missão e aplicá-las à tarefa em questão por meio de uma interface de linguagem natural. 

36.  IAs para consulta de documentos na nuvem.

37.  IAs para assistente virtual de pesquisa rápida.

38.  IAs para análise de quais empreendimentos enfrentam maior litigiosidade;

39.  IAs para análise de causas-raiz se repetem em ações trabalhistas;

40.  IAs para análise de tipos de ação em que há maior chance de perda;

41.  IAs para análise de valor retido em depósito ou garantia;

42.  IAs que aprendem, com os dados coletados, a interpretar gatilhos e, a partir deles, gerar ações que correspondem ao contexto específico do fluxo de trabalho, tomando decisões inteligentes em tempo real.

43.  IAs que antecipam tendências e comportamentos futuros com base em dados históricos e análise preditiva.

44.  IAs para obtenção de insights dos dados para tomada de decisões mais embasadas e melhores resultados.

45.  IAs capazes de processar e compreender informações provenientes de diversas modalidades, incluindo texto, áudio, vídeo, imagens e outros tipos de dados.

46.  IAs para transformar buscas em diálogos simples, melhorando a eficiência e a produtividade das equipes.

47.  IAs para facilitar a gestão de contratos.

48.  IAs para a criação de documentos com Legal Design.

49.  IAs para enviar um documento e obter resumos, insights, realizar análises, contra-argumentos e muito mais.

50.  IAs para criar qualquer peça jurídica com jurisprudências verdadeiras incluídas, com alto nível de precisão.

51.  IAs que coletam, aperfeiçoam e analisam dados jurisprudenciais de todo o país.

52.  IAs que extraem relatórios visuais customizados para tomada de decisão.

53.  IAs que fazem pesquisas com Jurimetria e Inteligência Artificial para entender perfis decisórios e criar teses mais assertivas.

54.  IAs para eliminar atividades manuais e gerar eficiência operacional de ponta a ponta na gestão de contratos.

55.  IAs para organização de pauta de audiências e agendamento de prazos.

56.  IAs para elaborar documentos legais de forma simples e prática;

57.  IAs para agilizar a análise de qualquer peça processual;

58.  IAs para fazer perguntas estratégicas para obter respostas eficientes de qualquer documento.

59.  IAs para serviços de higienização, saneamento e mineração de dados processuais

60.  IAs para captura automaticamente processos nos tribunais de justiça, realiza leitura e preenchimento automático de documentos.

61.  IAs para traduções automáticas voltadas para o inglês jurídico, resumos dinâmicos e comparações entre versões de documentos.

62.  IAs para interpretar subsídios e cuidar de todo o processo, desde a captura até a resposta final de ofícios e respostas.

63.  IAs para anonimização automática de documentos.

64.  IAs para pesquisa jurisprudencial e jurimetria, com insights, relatórios e automação de pesquisas. 

Conclusão e 05 maiores tendências para 2025

Com base nas empresas expositoras da Fenalaw 2024 e no que elas trouxeram de produtos e serviços, é possível identificar algumas tendências para o mercado jurídico em 2025.

1.      A tecnologia vai melhorar: ainda estamos na infância da Inteligência Artificial Generativa, apesar de uma evolução significativa de novembro de 2022 para outubro de 2024. Muitos estão trabalhando para melhorar a sua confiabilidade e precisão e, em 2025, deveremos ter soluções ainda melhores para o jurídico.

2.      Mais Lawtechs usarão IA: considerando que tudo o que um profissional jurídico faz tem relação com textos (leis, jurisprudências, doutrina, peças, contratos etc.) é bastante lógico imaginarmos que 100% das Lawtechs adotem I.A. de alguma forma em suas soluções.

3.      A adoção vai aumentar: com o aumento de soluções utilizando I.A. para oferecer diferenciais e com uma tecnologia cada vez melhor e mais precisa, a adoção por parte dos advogados deve aumentar proporcionalmente. 

4.      A OAB vai regulamentar: com o aumento do uso de soluções com I.A. por parte dos advogados, a OAB deve aprimorar as regras de uso, seja aprimorando o que já temos que são as recomendações, seja convertendo as recomendações em uma regulamentação com possíveis punições pelo uso indevido da tecnologia. 

5.      A regulamentação vai ser sancionada: todo essa avanço deve refletir também no Congresso Nacional e é possível que tenhamos a sanção de uma lei geral da Inteligência Artificial no Brasil que, por ser mais ampla, impactará também o que as Lawtechs podem fazer e como os advogados vão usar a tecnologia.

A ideia aqui não é tentar ter uma “bola de cristal” ou um exercício de futurismo, mas apenas uma reflexão sobre o que pode acontecer em 2025 para que possamos nos preparar. Na Fenalaw de 2025 eu volto para ver se as previsões estavam corretas. 

Pesquisa sobre Inteligência Artificial Para Advogados

Com o objetivo de entender em que nível de evolução em I.A. estão os advogados brasileiros, bem como quais são suas necessidades e desejos, estamos realizado uma pesquisa inédita no Brasil.

Para participar, basta clicar nesse link e participar: https://bit.ly/pesquisaebld

Os resultados obtidos nessa pesquisa serão compartilhados em um relatório completo para os participantes, bem como serão apresentadas recomendações, dicas de ferramentas, técnicas de engenharia de prompts e caminhos para os advogados avançarem no uso da I.A. Generativa.

Contamos com a sua contribuição nesse estudo.

Obrigado!

Mauro Roberto Martins Junior