A romantização está na padronização dos corpos
Os debates contra o racismo têm estado cada vez mais notáveis nas mídias sociais, e isto significa um avanço, devido as conquistas do movimento negro, que lutou durante décadas para que pudéssemos ter melhores condições sociais, através da denúncia contra o racismo.
No entanto, ainda temos um vasto caminho a percorrer. Digo isto, no sentido de que há ainda uma disputa de narrativas não somente escritas e oralizadas, mas também corporais, que acabam por reproduzir discriminações de diferentes eixos, interseccionando gênero, classe, etnia (CRENSHAW, 2002), e também a padronização de corpos, cabelos, modos de ser e agir, que representam nada mais nada menos, que a cultura de uma branquitude cis heteronormativa.
Sei que cansa estar na defensiva o tempo inteiro. Denunciando em não aceitar, executando o agir. Mas se nós não falamos, adoecemos, e eu decidi exercitar o que Audre Lorde me ensinou, quando indaga sobre quais são os não ditos, que engolimos dia após dia, em silêncio.
Escolhas afetivas racializadas. Romantização de corpos magros brancos, tendo como justificativa a gordofobia. Classismo e transfobia na negação do racismo. E a sociedade continua caminhando...
Para qual direção? Eis a resposta a ser buscada, mas acredito que as estruturas são organizadas de modo bem intencional.
Parafraseando Lorde novamente, não existem hierarquias de opressões, mas o que temos visto, é muitos mascarando-se em algumas, mas dizendo lutar contra todas. A humanidade terá discernimento algum dia?
Tenho visto, que uma das alternativas para sair desse isolamento sistemático é me agarrar aos paradigmas afrocêntricos, buscando não apenas a perspectiva da dor, porque isso já sei e muito bem, mas uma perspectiva rumo ao Sul, de conexão ancestral. Lugar de cura. Reconstrução.
O reconhecimento da humanidade dos nossos em África e em diáspora. Acredito que esse percurso a adotar, seja um início esperançoso!