RPG é Design.

RPG é Design.

Lá por volta de 2016, eu, Carlos Hakim , na época estudante de design gráfico e hoje, enfim, disáiner gráfico, entrei em contato com uma das várias maluquices que a faculdade tem a ousadia de nos proporcionar. A maluquice em questão foi o RPG.

O conteúdo desse texto gira em torno dessas duas coisas. Minha vida profissional como designer gráfico e um dos meus hobbies favoritos, jogar RPG. Vou falar um pouco de como funciona o RPG, e depois, falo de como essa atividade, que eu faço por puro prazer, acaba tendo um impacto legal na minha vida profissional. Tudo aqui é apenas um relato das minhas experiencias individuais. Se for para ser algo além disso, que seja um convite. Um convite para refletir sobre como nossos hobbies podem ser importantes na construção de quem somos. Na construção das nossas habilidades. Ou, que seja um convite, para jogar RPG.

O que é RPG?

Um tipo de jogo colaborativo em que os jogadores constroem, juntos, uma história. Essa é a definição mais resumida que eu consegui tecer. Ela tá certa e contempla as mecânicas principais do RPG. Só que ela definitivamente não conta toda a história. Minha intenção aqui não é explicar o que é RPG em muitos detalhes, isso o google já faz bem e nessa altura do campeonato, muita gente já viu Stranger Things. RPG já não é mais terreno de domínio exclusivo dos Altos Nerds. Pros que não são nerds de carteirinha, a definição que eu apresentei no começo desse paragrafo, serve. Mas, ela deixa de lado um detalhe importante para entender a minha relação com o RPG e como ela tem influência na minha vida profissional.

Na maioria dos jogos de RPG, um dos jogadores tem um papel diferente dos demais. Um dos jogadores tem a responsabilidade de conduzir e soldar a imaginação dos outros, em uma narrativa única, que faça sentido para todos. Esse jogador é chamado por diferentes nomes, dependendo do tipo de RPG. Mas, de forma geral, tem a honra de ser chamado de Mestre (sem precisar ter feito mestrado). Esse costuma ser o meu papel, sempre que as estrelas têm a bondade de se alinhar e eu consigo juntar meus queridos amigos para uma sessão de RPG.

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O Mestre é o jogador que estimula a imaginação dos jogadores. Depois, pega o que eles imaginaram e junta tudo numa coisa só. Essa receita a gente chama de aventura. É o Mestre que determina se um jogador pode tentar negociar o preço de uma espada mágica ou se equilibrar em uma corda bamba para atravessar um precipício. O Mestre narra o que os personagens estão vendo e sentido, se eles estão entrando em pântano imundo ou nos imponentes salões de uma mina ananica. O Mestre é o juiz das regras descritas pelos sistemas de RPG, ao mesmo tempo que é o narrador das cenas, ao mesmo tempo que é o moderador do grupo, ao mesmo tempo que é o responsável pela diversão, ao mesmo tempo que controla a música.

Mestrar RPG é um exercício constante de criatividade - assim como trabalhar com design. Em vários momentos, o que faço nos jogos, aplico no trabalho. Olha só:

1. Criar narrativas e contar histórias.

Minha intenção com meus jogadores é que eles vivam, sintam e participem de uma experiencia memorável. Que as aventuras e histórias sejam realmente “vividas”, mesmo que apenas em imaginação, e que depois virem memórias fortes e queridas. A conexão disso com o design gráfico não poderia ser mais óbvia. Um projeto de design, seja qual for, normalmente busca tocar o sentimento das pessoas e impregnar na memória. Se ao invés de apresentar um projeto de design você apresentar uma história empolgante e, acima de tudo, divertida, alguém vai lembrar dela com carinho.

2. Conduzir dinâmicas em grupo e estimular a imaginação das pessoas.

Esse é o grande desafio e prazer de ser Mestre. Organizar intenções individuais para que elas contribuam para um motivo coletivo. Pensar com a cabeça dos outros, para que, o que eu crio, se conecte e seja importante para aquelas pessoas. Estimular e extrair o que cada pessoa na mesa tem de melhor e fazer com elas participem e sejam parte da narrativa. Fazer com que todos tenham seu momento de brilhar e impactar na história. Isso tudo, pode potencializar qualquer dinâmica coletiva de criação.

3. Falar em público com confiança.

Acredito que falar em público seja difícil e pouco natural para a maioria. Provavelmente pelo nosso medo de parecer ridículo ou de falar algo errado ou de não saber o que falar. Essa é, inclusive, a maior barreira de entrada do RPG. As pessoas têm muito medo de expor seu lado “infantil” e brincar de “faz de conta”, mas depois que essa barreira é atravessada não tem mais volta. Claro que jogar RPG com os amigos não é a mesma coisa que apresentar um projeto para um cliente. Mas na minha experiencia, se em algum momento da sua vida você já interpretou publicamente o papel de um mago, lutando ao lado de seus companheiros, contra uma horda de orcs, apresentar um projeto fica menos ameaçador.

4. Improvisar.

Muitas vezes (100% delas), o que o pobre Mestre planeja para uma aventura, não é o que de fato acontece durante a sessão. Os planos que eu faço para divertir os jogadores na minha mesa, são apenas uma base. Apesar de eu ter o título de Mestre, são os jogadores que tem que ter controle da narrativa. A história é sobre eles. Sendo assim, o Mestre precisa aprender a ter molejo e fazer o plano se encaixar ao caos e ao acaso que os jogadores trazem. Esse aqui é, mais do que qualquer outro, um aprendizado que eu levo para a vida.

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Como eu disse no começo, minha intenção não é fazer quem está lendo pensar que jogar RPG te faz um Designer melhor. Esse texto é apenas um relato resumido da relação que eu faço entre o meu trabalho e um dos meus hobbies. Minha intenção além de relatar, é no máximo, provocar essa mesma reflexão em quem está lendo. Tenho certeza que tocar um instrumento ou cuidar de plantas, também te faz melhor ou diferente em alguma outra coisa.

Carlos Hakim

Claudia Crepaldi

Mestra em Design | Especialista em Branding | Estrategista de Marca | Designer Gráfica | Professora Universitária

2 a

Que demais! Nunca joguei, mas adorei a comparação!

Laila Rotter

Gerente de Criação na Tátil | Diretora na ADG Brasil | Creative Leadership Professional®

2 a

Adorei o texto Haka!

Gi Marques 🏳️🌈

escritora e fundadora da floema

2 a

que delícia de texto, Hakim! deu até vontade de jogar rpg :)

Roni Magnos

Proprietário na Evolue.me Design de Negócios com expertise em Marketing e Comunicação

2 a

RPG é tudo de bom, Design é POP (srrsrsrs)

Que texto incrível! Demais ter compartilhado a mesa de trabalho e agora as mesas de RPG contigo, Carlos Hakim! :)

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