Só flores ao mar
POR: Cleidiana Ramos (*)
Uma das muitas divindades que deixaram seu país natal para acompanhar seus filhos e ampará-los no horror da escravidão, Iemanjá ganhou no Brasil um domínio ainda maior: o mar. Princesa, pois é considerada a filha de Olokun, senhora ou senhor dos oceanos, com o gênero variando de acordo com a origem da narrativa, tornou-se, então, rainha.
Mesmo em um novo domínio ainda acolhe seu primeiro território, afinal o rio corre pro mar e também guarda um pouco dele. Daí porque a festa é para Iemanjá, mas Oxum, a senhora das águas doces, também é lembrada horas antes no Dique do Tororó.
Iemanjá, como todas as iabás, as forças femininas que os africanos legaram aos seus descendentes no Brasil, é impetuosa, forte, independente- um dos seus mitos conta que ela sabe como se transformar em rio ao menor sinal de uma situação que deseja prendê-la. Gosta de joias, sim, mais ainda daquelas em seu estado puro na vida marinha que ela preserva. Há joia mais bela e rara do que a encontrada no interior de uma concha? Que milagre saído dos domínios de Iemanjá.
Como toda divindade de origem africana, Iemanjá dá muito valor ao que for mais simples. Assim, quem pode ofertar um grande buquê de flores vai ser tão ouvida ou ouvido por essa mãe generosa, como aquele que lhe dá apenas a rosa que foi possível adquirir. E ofertar o que reforça a luta de quem a cultua e respeita por todo o ano, como faz o povo de santo, pescadores e marisqueiras, é um grande presente para a rainha.
Isso porque, se você acompanhar as manchas verdes persistentes em Salvador, vai notar que no seu entorno sempre tem terreiros ou território de povos tradicionais. Tudo que se consome nessa prática religiosa e no exercício destes saberes de coleta é elaborado de forma a manter o equilíbrio para devolver às matas e águas o que deles se tomou.
Conhecendo esse rico legado de fé, a Cervejaria Bohemia, guardiã da tradição brasileira, se uniu à Miranda Estúdio, e este ano propôs uma ação sustentável durante a entrega dos presentes a Iemanjá. O mote da campanha criado pela Miranda é “Só flores ao mar”. Com isso, a ação collab entre as duas marcas propõe um agrado diferente para a Rainha do Mar.
Assim, é proposta uma troca: seu presente manufaturado por um agrado biodegradável, como uma flor, que faz parte do mundo preservado e alimentado pela riqueza que são os mananciais. Sem excesso de resíduos, como plástico e vidros, o mar pode espalhar ainda mais a sua força de vida; os pescadores que dão esta festa, centrada em sua fé, de presente à cidade continuarão ensinando que é possível extrair alimento sem matar a fonte e o planeta ganhará ainda mais em equilíbrio.
Com toda essa canção de louvor à vida, Iemanjá, com certeza, acolherá ainda mais grata os pedidos das suas filhas e filhos. Que assim seja. Odoyá.
* Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia.