Sócio ou patrão?
Conheço muitas pessoas que têm dificuldade de se impor frente aos seus sócios. Elas simplesmente se acostumaram a receber "instruções" sobre o que precisa ser feito e "comunicados" dando ciência do que já foi decidido. Essa situação é muito comum quando alguém se torna sócio de uma empresa que já está consolidada ou que tem sócios que pertencem a uma mesma família.
Tenho recebido clientes com esse tipo de desafio em que, além de terem voz e participação limitadas, são cobrados por seus sócios a adotarem um comportamento menos "gentil" com os colaboradores: "Você faz tudo para não se indispor… Você tem que exigir mais... Tem que se impor!".
Relacionamentos destrutivos consomem a energia das pessoas
O que pode ser feito numa situação dessas? Primeiro, é preciso que a pessoa que está sendo "vítima" entenda como é importante ela se posicionar, dizer o que pensa, e, eventualmente, se opor àquilo que está sendo demandado dela.
A questão é que se posicionar é se expor. E isso pode ser muito arriscado! Se eu apenas começo dizendo o que penso, que não concordo com você, estarei me expondo muito. Gosto de usar a metáfora de alguém que se joga no meio de um tiroteio, totalmente desprotegido. Agora, pense bem: se, por hipótese, você realmente precisar passar pelo meio de um tiroteio, ou seja, se de fato tiver que assumir uma posição, o que deve fazer? Se puder, opte por um carro com blindagem máxima. E tenha certeza de não sair dele, de modo algum.
Mas o que significa essa blindagem?
No contexto de um posicionamento, de uma opinião, de uma ideia, são argumentos externos a você, que evidenciam aquilo que você pensa. Se eu começo por essas evidências, de fato estarei mais protegido.
Por exemplo, se eu sou contestado pelo meu sócio por conversar demais e cobrar de menos, e se ele defende que eu deveria me impor mais e que só não o faço por medo de me indispor, como eu deveria me posicionar de modo a blindar meu posicionamento?
Começando minha argumentação dizendo que ”as pesquisas mostram que líderes que fazem perguntas em vez de dar ordens diretas têm melhores resultados”, eu não só me posiciono, como mostro a coerência da minha abordagem. "Por isso, eu penso que devo continuar tratando os colaboradores com educação e cortesia, fazendo com que eles entreguem o que esperamos deles por meio de perguntas; assim, eu desenvolvo melhor o relacionamento e eles passam até a me admirar. Além disso, o nível de engajamento e comprometimento se tornará maior com o tempo".
Observe que eu comecei com um fato, o resultado de uma pesquisa, argumentos externos a mim. Ou seja, eu comecei me blindando antes de expor o que eu penso. Para que o outro me alcance, para que ele atinja em cheio a minha opinião, primeiro vai ter que passar pela barreira da blindagem de uma pesquisa, um fato, uma história, ou algo do tipo.
Agora, e se eu começo falando diretamente o que eu penso? “Na minha opinião, eu tenho mesmo que abordar os colaboradores com respeito, por meio de perguntas...”, eu estarei passando pelo tiroteio do lado de fora do carro. E se, apenas depois de me posicionar, eu falar: “Porque as pesquisas mostram que é melhor fazer desse jeito”. Ainda assim, eu estarei fora do carro, mesmo que agora ele esteja blindado.
O passivo, o agressivo e o assertivo
Quando eu não me posiciono, pensando que assim preservarei o relacionamento e evitarei atritos com meus sócios, na verdade estou, de forma involuntária, pedindo para deixar de ser respeitado. Por outro lado, quando eu me posiciono, mas de forma agressiva - “olha, não é nada disso; você está errado; você não entende nada; eu faço do meu jeito e você não tem nada com isso” -, eu também tendo a perder o respeito. Quem pensa que tem sido passivo durante muito tempo e resolve ser mais agressivo para conquistar o respeito, sai de um extremo e vai para o outro. O ponto é que os dois extremos - tanto o passivo quanto o agressivo - o levam a deixar de ser respeitado.
Existe um outro caminho que é o da assertividade, que é justamente o do uso dessa técnica da blindagem para se posicionar sem agredir. O assertivo mantém a defesa daquilo em que acredita, sem precisar recorrer à agressividade. Ele fala o que pensa, se posiciona e, ainda assim, preserva os relacionamentos.
Para todo dominante, é preciso que haja (pelo menos) um dominado
Numa relação de dominado e dominante, normalmente, as duas partes são culpadas: uma porque assumiu a postura de dominar a relação, não ouvindo a outra parte; e a outra por ter permitido que a situação acontecesse. Então, não se trata de uma batalha entre o bem e o mal; é importante entender que os dois tiveram uma conduta que favoreceu esse tipo de relação corrosiva, em que só existem perdedores.
Olhe à sua volta. Seja em uma empresa, em um projeto, em qualquer desafio... Como você está se relacionando com seus pares? Existe espaço para você ser você mesmo, para agir de uma forma coerente com o que você pensa, sente e valoriza? Você se sente respeitado? Se não, o que você pode fazer hoje para mudar? Lembre-se: nunca é tarde para retomar as rédeas da sua vida, do seu trabalho, da sua empresa!
Gestor Clínico na Clínica Efyzz | Especialista em Implantodontia Mentor e Sócio na Inside Circle - Treinamentos para profissionais da Saúde
4 aGrande Gerardi. Sempre nos inspirando e nos fazendo refletir! Obrigado!
Executivo de Operações e Gestão | Doutor em Empreendedorismo e Inovação
4 aBons pontos. A abordagem do uso de perguntas para tratar de questões delicadas é muito positiva e funciona inclusive para vendas consultiva (Spin Selling). Existem teorias que levam essa técnica a outro patamar e aumentam ainda mais as chances de fazer outras pessoas entenderem melhor seu ponto de vista. Mas isso é assunto para outro encontro de 1a1! :)