Saúde digital: muito mais do que tratar doentes
Há quem acredite que só precisará de um médico quando estiver doente. Pensar assim é um grande erro e pode causar inúmeros danos ao corpo, além de sequelas diversas e, em casos mais graves, até a morte.
As doenças nem sempre apresentam sintomas desde o início e, este fato, aliado à falta de ações de prevenção, é hoje um grande problema de saúde pública no Brasil. A maior causa de mortes no país vem das chamadas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Estão entre elas doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas.
Essas doenças se desenvolvem ao longo da vida, ou seja, não necessariamente apresentam sintomas desde o começo e, quando há algum sinal, o quadro já pode ser grave ou até irreversível.
É com base nisso que precisamos investir cada vez mais em saúde digital, com o intuito de promover a saúde e não apenas lidar com a doença. O acompanhamento ao paciente precisa ser realizado com maior frequência, envolvendo soluções como teleconsultas ou até acompanhamento remoto a pacientes crônicos.
No século XX, a mentalidade estava voltada ao aumento da longevidade; já neste século, o foco é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Isso significa não apenas viver mais tempo, mas viver melhor, o que só é possível quando investimos em ações de saúde e também de contingência.
Excesso de mortalidade na pandemia de Covid-19 e falta de plano de contingência
Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontaram que 14,9 milhões de pessoas morreram por razão direta ou indireta à Covid-19 entre 1 de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021 - isso significa mais do que a cidade inteira de São Paulo.
E não, a pandemia de Covid-19 não foi uma grande surpresa, apesar de ter surpreendido a todos. Parece confuso, mas é mais simples do que parece: embora ninguém imaginasse uma pandemia com essa dimensão de infectados e mortos, o aparecimento de novos patógenos não é um fato novo para história, sendo até considerado um fenômeno natural.
Desta forma, podemos dizer que os governos e seus sistemas de saúde deveriam ter um programa, um projeto ou uma estrutura para proteger minimamente a população. Da mesma forma que há programas de evacuação caso aconteça um incêndio, deveria ter uma organização central para lidar com a Covid-19, bem como as próximas possíveis epidemias e pandemias.
Mundialmente, além da carência de uma organização central, avalio que faltou uma comunicação efetiva, transparente e incisiva de grandes organizações entre as entidades, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
No Brasil, podemos ainda ressaltar que a diferença entre os estados foi um grande problema, com verdadeiras catástrofes, como a falta de oxigênio em Manaus, além da escassez de ações capazes de impedir a disseminação em massa do vírus, a polarização com a inércia do Ministério da Saúde (baseadas em dados científicos).
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O papel das universidades
As universidades e institutos brasileiros são centros de pesquisas e inovações essenciais quando pensamos em salvar vidas. E a relevância dessas entidades esteve diante de um grande holofote na pandemia.
Para se ter uma ideia, as vacinas precisaram ser desenvolvidas em tempo recorde, em menos de um ano, como é o caso da Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech e testada pelo Instituto Butantan.
O feito é histórico, não há como negar, claro, mas chama a atenção para uma necessidade antiga: os pesquisadores, institutos e universidades precisam trabalhar com um organismo muito mais unido do que fragmentado, e atuar politicamente com o governo. É urgente uma união do corpo científico para solucionar problemas atuais, principalmente em questões relacionadas à saúde e à vida.
Na área da saúde temos grandes desafios: além de promovê-la, precisamos também que exista uma ligação maior entre os sistemas utilizados.
Vamos a um exemplo prático: João vai à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) se queixando de fortes dores, é medicado e encaminhado para Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde realiza exames. Em outro momento, passa mal durante sua rotina e é levado às pressas para o hospital público de referência.
João já realizou dois atendimentos, que geraram os diagnósticos anteriores, mas os exames e o seu prontuário não estão disponíveis para consulta online entre todas as instituições de saúde pública. Logo, no hospital de referência, os exames são repetidos, na busca de uma solução urgente.
Os exames eram necessários? Sim e não. Sim, porque era preciso socorrer o paciente, e não porque já tinham sido realizados anteriormente e poderiam ser acessados por meio de um prontuário eletrônico, o qual infelizmente ainda não existe no SUS.
Conclusão: além de um tempo maior para um diagnóstico assertivo (já que seria muito mais fácil se o último médico conhecesse o histórico do paciente), ainda foram desperdiçados recursos com a repetição de procedimentos.
A promoção da saúde engloba principalmente a comunicação entre os níveis de atenção e unidade. Os recursos direcionados à saúde são limitados, e sua otimização garante que mais pessoas possam ter acesso a um atendimento de qualidade.
É preciso que o corpo científico, governos e instituições privadas se unam para promover a saúde digital, unificando as informações e entregando o prontuário eletrônico, um dos grandes desafios do SUS. Não há mais tempo para falta de informação e comunicação, a saúde digital é o agora, e não o amanhã!
Enfermeira I Especialista em Saúde Digital I Saúde da Família I Saúde Mental I Enfermeiro I Atenção Primária à Saúde I Palestrante I ESF I APS
2 aExcelente artigo CARLOS R R CARVALHO , a Interoperabilidade entre os níveis de atenção a saúde é de suma importância.