Saúde e bem-estar
Pode ser que o alerta global para a necessidade de atenção ao desenvolvimento sustentável seja ouvido agora. Nossa geração ainda não tinha passado por uma pandemia e ainda está aprendendo a lidar com novos comportamentos demandados. Mas ninguém pode dizer que uma dessas não era esperada. Tanto era que os riscos financeiros e globais de saúde já estava previstos na lista de metas do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável número 3 – ODS3 – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades. Cinco das 13 metas desse objetivo abordam o tema – desde 2015.
Além do ODS3, há também o Princípio da Precaução, da Declaração do Rio/92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Proposto em junho de 1992, foi definido como a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados. Formulado pelos gregos na antiguidade significa ter cuidado e estar ciente.
Precaução, de acordo o Ministério do Meio Ambiente relaciona-se com a associação respeitosa e funcional do homem com a natureza. Trata das ações antecipatórias para proteger a saúde das pessoas e dos ecossistemas. Precaução é um dos princípios que guia as atividades humanas e incorpora parte de outros conceitos como justiça, equidade, respeito, senso comum e prevenção.
Ainda no Protocolo de Cartagena para Biossegurança, celebrado no ano 2.000, e do qual o Brasil é signatário, há uma preocupação sobre os riscos para a saúde humana dos efeitos adversos da biotecnologia moderna influenciando a biodiversidade.
É provável que poucos tenham se atentado à relação do ODS3, da biodiversidade ou do Princípio da Precaução com o turismo ou sobre os impactos de um pandemia sobre este e outros mercados. Até porque seria um cenário extremo, difícil até de ser imaginado. Mas mesmo modelos de cenários remotos já fazem parte da gestão de riscos de outros setores, como o de energia, por exemplo.
Porém, agora, todas os elos da cadeia do turismo estão sofrendo perdas tão grandes que vai levar um tempo para contabilizá-las. Quem dirá repará-las. Até agora as discussões do âmbito das organizações internacionais davam o tom da urgência com o que as questões ambientais, sociais e de governança precisavam ser tratadas, mas essa pandemia de Covid-19 escancara que já deixamos estourar o prazo e não temos um plano B.
Ficou claro que somos interdependentes, que é preciso negociar, que fronteiras não barram impactos, que a ação de um influencia o todo e que o capitalismo como exercido até agora não resolve tudo. Outros capitais, como o ambiental, o social, o de relacionamento, o cultural, entre outros, precisam ser gerenciados para que a vida seja preservada – e os negócios também.
No olho do furacão é difícil enxergar horizontes, mas ninguém passa por ele sem sair transformado. Passou da hora de mudarmos o jeito de gerenciar os negócios. Se não entendeu isso agora, talvez não tenha outra oportunidade.
As cinco metas do ODS3 que abordam riscos de saúde globais
- 3.3 Até 2030, acabar com as epidemias de AIDS, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a hepatite, doenças transmitidas pela água, e outras doenças transmissíveis;
- 3.8 Atingir a cobertura universal de saúde, incluindo a proteção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde essenciais de qualidade e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis para todos;
- 3.b Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas e medicamentos para as doenças transmissíveis e não transmissíveis, que afetam principalmente os países em desenvolvimento, proporcionar o acesso a medicamentos e vacinas essenciais a preços acessíveis, de acordo com a Declaração de Doha, que afirma o direito dos países em desenvolvimento de utilizarem plenamente as disposições do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) sobre flexibilidades para proteger a saúde pública e, em particular, proporcionar o acesso a medicamentos para todos;
- 3.c Aumentar substancialmente o financiamento da saúde e o recrutamento, desenvolvimento e formação, e retenção do pessoal de saúde nos países em desenvolvimento, especialmente nos países menos desenvolvidos e nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento;
- 3.d Reforçar a capacidade de todos os países, particularmente os países em desenvolvimento, para o alerta precoce, redução de riscos e gerenciamento de riscos nacionais e globais de saúde.
Publicado originalmente no jornal Brasilturis