Saúde mental no Brasil pós pandemia

Saúde mental no Brasil pós pandemia

Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) bateu o martelo: o novo coronavírus era responsável pela pandemia que ali se iniciava. Desde então, um caos foi instaurado: comércios fechados, aulas suspensas por tempo indeterminado, cidades, estados e países fechando suas fronteiras declarando estado de emergência máxima. Com isso, a nova determinação: começava o período de quarentena, em que as atividades deveriam ser exercidas de casa, evitando as saídas que viabilizassem o contato com o inimigo invisível. E esse foi o estopim para a histeria coletiva que dura até hoje.

Desde o momento em que tudo teve início, a pandemia foi o assunto dominante nos noticiários, nas mídias sociais, nas conversas entre as famílias e nos grupos de WhatsApp. Quando se falava em COVID-19, o terror pairava no ar, pelo até então desconhecido vírus e o que, de fato, poderia causar. De um lado, estava uma parte da população que desacreditava na doença, atribuindo às jogadas políticas a disseminação do vírus, para um eventual controle da população mundial. Muitas teorias da conspiração e fake news endossavam tais argumentos. De outro lado, paralisados pelo terror, muitos desenvolveram manias de limpeza em níveis extremos, lavando as mãos repetidas vezes por curtos períodos de tempo. De todo modo, a saúde mental da população já mostrava sinais de um grave comprometimento que mais cedo ou mais tarde clamaria por auxílio. A sanidade mental já não era a mesma.

Com o afastamento forçado das atividades de trabalho ou estudo por grande parte da população, restrita aos ambientes de casa, houve muito tempo livre para pensamentos disfuncionais causadores de grande perturbação. Por outro lado, com o home office decretado, os horários de trabalho se tornaram mais intensos, fazendo com que muitos indivíduos atravessassem noites seguidas por motivo de trabalho. A esse ponto, pesquisadores já alertavam: a 4ª onda da doença seria responsável pelo adoecimento mental em massa, sem precedentes. Outro fator que também contribuiu significativamente foi o aumento do consumo de bebidas alcoólicas, tabaco associados a uma redução na prática de atividades físicas. Em síntese, a rotina de cada brasileiro foi restrita a um consumo desenfreado de substâncias prejudiciais à saúde somado ao surgimento de um novo mundo apocalíptico anunciado pelos noticiários. A ansiedade, o estresse e a depressão encontraram terrenos férteis para se proliferarem.

Diante de todo esse cenário, a própria solidão desencadeada pelo processo de isolamento social contribuiu significativamente para a potencialização de tais quadros. Em outros casos, a convivência familiar forçada também foi responsável por estimular conflitos, intensificando os níveis de estresse, já elevados. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde apontou que 41,7% dos entrevistados apontaram distúrbios do sono, como insônia ou sonolência excessiva, e 38,7% relataram mudanças de apetite.

Em São Paulo, por exemplo, o número de buscas por atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) sofreu um aumento de 116% em 1 ano, o que reflete a necessidade da população em busca de ajuda. Além disso, uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Ohio nos EUA, mostra que o Brasil lidera o ranking de diagnósticos de ansiedade e depressão no período da pandemia. Tudo isso mostra que o assunto é sério e deve ser tratado com bastante cuidado. Somente entre janeiro e julho de 2020 houve um crescimento de quase 14% nas vendas de medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor, segundo informações divulgadas pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). Esse aumento do sofrimento psíquico na população como um todo abriu os olhos para a importância de se pensar na saúde mental e investir em serviços de atenção à saúde mental acessíveis para toda a população.

Fevereiro de 2021. Praticamente 1 ano neste ritmo caótico. Mesmo com o surgimento da vacina e o início da campanha de imunização, ainda não estamos completamente de volta à rotina. Psiquiatras e demais pesquisadores apontam que os transtornos mentais serão cada vez mais recorrentes daqui para frente e que, por essa razão, novas estratégias devem ser implementadas a fim de acolher tais pacientes e proporcionar um cuidado integral.

É válido considerar os quadros diagnosticados previamente ao surgimento da pandemia. Pacientes em sofrimento mental que atravessam essa fase imprevisível, que ainda se distancia de um desfecho, e encontram-se diante de fatores que potencializam e agravam ainda mais o adoecimento psicológico. Ainda neste contexto, precisamos nos lembrar que muitos sairão deste momento enlutados, desempregados e sem esperança de uma melhoria das condições de vida. O Brasil pós-pandemia apresenta um cenário incerto, com graves consequências nos campos econômico, social e estrutural. Diante do exposto, enfrentamos um momento em que campanhas de incentivo à busca por tratamento psicológico devem ser amplamente difundidas. O objetivo é proporcionar um suporte mental para que emerjam desse mar de problemas, com os menores danos possíveis. 

Me conta aqui nos comentários o que você acha dessa nova onda do COVID-19.


Thandara Felipe Duarte

Supervisora de Atendimento | OC - COT | Saúde & Segurança | Gestão de RH | Pós Graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT).

3 a

Parabéns Cristiane ! Execelente pontuação e que fica o ponto para ser pensado, tratado e respeitado, que é saúde mental! Hoje pensamos e é mensurado o adoecimento físico que a Covid-19 pode desenvolver na pessoa infectada, mais que pouco se fala e comenta é sobre o adoecimento mental das pessoas que positivaram, dos entes queridos que assistem tudo acontecer... das pessoas amedrontadas, desamparadas diante do cenário... enfim! Grande valia e generosidade seu texto! 'Teremos' que construir e preparar suportes para tratar com carinho e seriedade a parte psíquica dos que tanto necessitam!

Maria Christina Gaio

Coordenadora Administrativa Monitoramento Assistencial

3 a

Verdade.  Esse é o momento das pessoas, sociedade e instituições  se resignificarem.

MARIA RAQUEL ANDRADE

Auditoria Médica Unimed Uberlândia/Médica Reguladora CMRUE

3 a

Muito bom!!! Para refletirmos sobre os impactos emocionais que a pressão desse momento causa em cada um de nós!

MARIA ANGELICA DE CARVALHO PEREIRA

COORDENADORA ASSISTENCIAL PROVIMENTO DE SAÚDE na Unimed Uberlândia

3 a

Excelente texto que os faz refletir, mesmo parecendo tão difícil pensar o futuro diante de tudo que estamos vivendo e tendo a impressão que o pós ainda está muito distante do nosso alcance, se faz necessário estruturar tanto a saúde pública quanto a privada para cuidar, tratar, acompanhar, acolher e apoiar essas pessoas que mais cedo ou mais tarde necessitarão de ajuda.

Jussaine Alves

Executiva e líder em transformação, inovação e operações em saúde - Estratégia | Integrações | Programas de Saúde | Governança e Processos | Jornada do Paciente | Navegação | Paliativos | Oncologia

3 a

Texto excelente, valorosa contribuição para o momento que estamos vivendo!

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