Saúde mental e visão sistêmica: um relato pessoal
Olhando para trás, minha primeira depressão certamente foi aos 14 anos. Eu não entendia porque eu tinha que escolher entre Biológicas, Humanas e Exatas para adentrar o colegial, na época. A segunda, veio poucos anos depois, ao ter que escolher a faculdade a cursar.
De forma intuitiva, eu já sabia que era uma fragmentação da minha alma querente de tantos saberes nas mais diversas áreas do conhecimento.
Esse foi o primeiro de muitos movimentos de me fazer caber em uma caixinha menor do eu. E, olha que eu não tive uma carreira convencional. Ao longo da vida, me experimentei em diversas áreas e até pouco tempo eu olhava para isso como um defeito. Uma dificuldade minha em escolher o que fazer.
Mas, hoje, vejo de forma diferente. Entendi que meu cérebro já via as coisas como elas realmente são: interconectadas!
E a escola, a faculdade, o trabalho nas empresas, tudo isso procura moldar as pessoas para que elas se encaixem dentro de um padrão. Só que o que acontece, é que acabamos deixando de lado aptidões, interesses, desejos e uma parte de nossa alma fica enclausurada, sem poder se expressar.
Aprendemos a ver a realidade como linear, por exemplo, que uma carreira de sucesso é aquela que ascende hierarquicamente. Que uma empresa de sucesso é aquela que a todo ano cresce em faturamento. Que um país de primeiro mundo é aquele que tem um PIB alto!
Só que vejam aonde esse pensamento nos levou: à autodestruição. Nós mesmos, enquanto humanidade, nos colocamos em risco de extinção.
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Hoje, eu acredito que precisamos reverter esse movimento não apenas com novas tecnologias verde, nem com a descarbonização. Tudo isso é muito importante. Mas, precisamos também curar o mal em sua raiz: precisamos desfazer as amarras que aprisionam nossas asas tanto do ponto de vista interno quanto externo.
Internamente, isso significa um resgate de nossa essência. Quais as partes de nós que deixamos silenciadas em um portão escuro? Que habilidades e interesses nossos estão sedentos por manifestação? O que precisamos desaprender, desconstruir, descolonizar para que eu possa expressar de verdade minha singularidade no mundo?
Externamente, isso significa mudar as estruturas que criamos que continuam condicionando nossos comportamentos. Porque não adianta nada despertar para quem realmente somos no final de semana e voltar a bater cartão na segunda-feira!
Por isso, precisamos de novas estruturas organizacionais que permitam que cada pessoa possa ser quem ela realmente é e, ao mesmo tempo, possam contribuir com todo o seu potencial para que a essência da organização possa se manifestar também.
Precisamos de estruturas que não apenas possibilitem a expressão da autenticidade de cada indivíduo, mas também que corrijam desnivelamentos históricos raciais, de gênero, socioeconômicos etc. Não basta contratar uma mulher preta como estagiária. É preciso uma mudança mais profunda para que as organizações possam realmente criar condições equânimes para que as pessoas participem das decisões, ajam com protagonismo e autorresponsabilidade e desenvolvam seus potenciais.
Por isso, hoje no meu trabalho de consultoria entendo que são necessárias intervenções simultâneas que cuidem das dimensões: individual, relacional, estrutural/ governança, ecossistêmica e social.
Prof. Dra em Administração | Facilitadora de Aprendizagem Corporativa
1 aAdorei! Me vi tanto nas tuas palavras, obrigada por compartilhar a tua experiência.