SAÚDE MENTAL - SUA MENTE DEVE ESTAR ONDE O SEU CORPO ESTÁ.

O dia 10 de outubro foi escolhido pela Federação Mundial da Saúde Mental, como o Dia da Saúde Mental. Com esta decisão busca-se sensibilizar as pessoas e as instituições para a necessidade de se cuidar deste aspecto tão importante da vida humana.

Parodiando Milton Nascimento, que em sua inesquecível música, “Nos Bailes da Vida”, nos diz que “todo artista tem de ir aonde o povo está!”, quero fazer um alerta de que "a nossa mente deve estar onde o nosso corpo está". Isto é fundamental para a nossa saúde, enquanto fenômeno reconhecidamente biopsicossocioambiental.

Alguns dirão que isto é tão óbvio e que não vêm novidade alguma neste alerta, afinal nosso corpo e mente estão sempre intimamente conectados, interligados e são interdependentes. Sim, deveria ser assim.

Quando nascemos, este conjunto corpo/mente trabalha em comunhão, sempre juntos, unificados, para sentir o ambiente e para reagir a ele, arquitetando e construindo o nosso processo de adaptação e desenvolvimento. Porém, à medida que crescemos, somos educados para nos adaptar às normas sociais e às expectativas dos outros, e isto vai criando um hiato entre o que sentimos, o que queremos, o que pensamos e o que fazemos, dando origem à celebre “dissonância afetivo-cognitiva” que nos deixa divididos entre nosso mundo mental interno e nossa realidade comportamental. Esta é uma das bases da neurose! E tal divisão pode agravar-se em fragmentações mais severas, encontradas na esquizofrenia.

“O melhor lugar do mundo é aqui e agora” – canta nosso imortal Gilberto Gil, reforçando esta descoberta da psicologia moderna, que tem sabor de mantra Zen, tão antigo quanto o tempo.

Fritz Perls, um dos idealizadores da Gestalt-terapia, considerava “o aqui e agora” a principal base da saúde mental e do desenvolvimento humano. Para ele e para todos nós, psicólogos que seguimos esta orientação metodológica da moderna psicoterapia, manter o estado corpomental de “awareness”, ou de consciência plena de nosso “aqui e agora” no mundo, é o principal indicador de nossa saúde mental.

Poeticamente, Gil nos detalha este estado de “aqui e agora”, quando diz em sua música: “Aqui de onde o olho mira/ Agora que o ouvido escuta / O tempo que a voz não fala / Mas que o coração tributa.”

É tão simples, e ao mesmo tempo tão profundo, voltar ao estado de integração corpomental que vivíamos quando crianças! Mas, eu sei que não está sendo fácil, nesta vida tão agitada que levamos, conduzidos pela ansiedade e pelos desejos insanos de querer mais e mais em menos e menos tempo.

Muitas vezes, sendo pautados pelo onipresente e sedutor celular, entramos em fluxos contínuos de informações e de imagens e já nem sabemos onde estamos, ou com quem estamos.

Confundimos o aqui e agora com o que está lá e depois, esfarelando o nosso tempo vital e as nossas relações interpessoais.

Ao reaprender esta atitude integradora e tão natural, da vivência do aqui e agora, estaremos domando a ansiedade, fonte de tantos distúrbios mentais que vêm afetando gravemente a nossa vida, nestes tempos modernos, tão paradoxais.

Para Fritz Perls a “ansiedade é o vazio entre o agora e o depois. Sempre que você abandonar a base segura do aqui e agora, e ficar preocupado com o futuro, você experienciará ansiedade”.

Vamos cuidar disto?  Aqui e agora?