Saem os tiranos, entram os tutores

Há alguns anos, herdei uma equipe de um gestor que, por uma série de razões, não podia mais "liderar" um time. Coloco entre aspas, pois o profissional em questão não liderava de fato as pessoas. Ele era um excelente gestor de processos, de planilhas, um profissional criativo e arrojado, mas por trás de toda essa aura de sucesso, havia um chefe extremamente autoritário, sem nenhuma disposição para ouvir e uma equipe em ruínas. Ele acreditava que havia apenas uma forma correta de se fazer as coisas: a dele. 

O preço que se pagava para obter os resultados exigidos era pessoas esgotadas física e emocionalmente. Todas encontravam-se em total desequilíbrio emocional e apresentavam baixíssimo rendimento, embora se dedicassem muito para chegar aos objetivos determinados. Para piorar, a equipe estava completamente fragmentada: não havia solidariedade entre as pessoas e o castelo de cartas estava prestes a desmoronar. E ele inevitavelmente caiu. Não houve tempo o bastante para ajudá-las a se readaptarem e encontrem um modo de trabalharem juntas e não umas contra as outras.

Recentemente tive a oportunidade de assistir uma palestra do inteligentíssimo e provocativo Carlos Piazza. Entre os tantos pontos que ele colocou em sua fala sobre Darwinismo Digital, Piazza disse que em breve chegaremos à época em que não haverá mais espaço para os profissionais que ainda hoje enxergam na competitividade e no pequeno poder os meios para se destacarem e para suplantar seus pretensos concorrentes. Não haverá mais mercado para os gestores que tiram sangue, suor e lágrimas de seus liderados.

Tratam-se de profissionais, aliás, pessoas, que ainda não entenderam que estamos na era do COLABORATIVISMO. Um período no qual os resultados só serão possíveis - e só terão valor real - se alcançados verdadeiramente em equipe. No qual teremos menos chefes e mais TUTORES. Ou seja, líderes que servem como grandes orientadores e mestres em combinar os talentos e tirar o melhor de suas equipes. Não terá relação com hierarquia, mas com a capacidade de somar o que há de melhor em cada profissional e assim construir equipes orientadas a resultados, mas também felizes.

Hoje, estamos em um mercado transitório que ainda abriga e estimula o crescimento de muitos profissionais com habilidade zero para liderança. Eles são alçados a posições de gestão em nome dos bons números que conseguem, mas às custas da saúde física e emocional de centenas de pessoas. 

No médio prazo, as empresas tem prejuízos imensuráveis com despesas de licenças médicas dos funcionários, processos trabalhistas e por danos morais, além de um ambiente extremamente tóxico e uma cultura corporativa predatória. Os bons resultados são garantidos hoje, mas amanhã a equipe estará desmotivada e desacreditada. Nesse cenário, ficam os predadores, enquanto os profissionais com perfil mais colaborativo migram em busca de um lugar mais alinhado aos seus valores. Depois que apenas os tiranos tiverem restado, eles atacarão uns aos outros na disputa pelo pouco poder que ainda possa ter sobrado.

Cuidado com quem você coloca no cargo de liderança da sua empresa. E, caso você esteja subordinado a uma pessoa assim, respire fundo e leia aqui o meu artigo com seis formas de sobreviver a um chefe tóxico.