Salvando Vidas
Assim como a Campanha Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos, realizada todos os anos em setembro pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, ABTO, o Dia Nacional de Doação de Órgãos (27 de setembro) tem o objetivo de conscientizar a população sobre a importância desse ato que pode salvar vidas. Apesar dos esforços para esclarecer sobre o processo de doação, as equipes captadoras lutam principalmente contra a resistência das famílias de potenciais doadores em permitir a retirada dos órgãos em caso de morte encefálica. É o desconhecimento que faz com que milhares de pessoas morram nas filas de espera para transplantes.
O sentido da palavra solidariedade é mais amplo do que muita gente imagina. Trabalhar para o bem do próximo, doar um agasalho, alimento e dinheiro, são atos de solidariedade. Doar uma parte de si ou de um familiar, é mais que isso, é um ato do mais profundo amor. Entretanto, nem todos estão preparados para uma decisão como essa num momento difícil como o que cerca a morte cerebral de um parente, por exemplo. Além da dúvida sobre tudo o que envolve uma doação, há o apego sentimental, que muitas vezes resulta na negativa da família para a retirada dos órgãos. Convencê-la que a morte encefálica não tem volta, mesmo com o coração continuando a bater, é uma tarefa árdua para os captadores de órgãos.
Quando essa história é vista, porém, por outro ângulo, o consentimento para a doação pode confortar a família do doador. Saber que parte dele estará vivendo em outro corpo e entender que vidas são salvas ao receber um órgão transplantado, são maneiras de tornar a decisão mais simples e ao mesmo tempo quantificar a importância do gesto. Todos nós somos doadores desde que um familiar autorize a retirada dos órgãos, mas você não precisa deixar essa responsabilidade nas mãos dele. Expresse sua vontade em vida e faça com que saibam seu desejo de ser um doador.
A doação de órgãos e/ou tecidos de uma única pessoa pode beneficiar várias outras e não tem nenhum custo para o doador, sua família, ou para quem recebe. É importante esclarecer que o corpo não fica deformado após a retirada de órgãos. Esta é uma cirurgia como qualquer outra, realizada com todos os cuidados de reconstituição. São realizados transplantes de coração, fígado, pâncreas, pulmão, córnea, rins, ossos, intestino, músculos/tendão, pele e vasos. Quem precisa de um coração, fígado ou pulmão dificilmente poderá esperar mais do que seis meses por um doador. Em vida podem ser doados um dos rins, parte do fígado, do pulmão e da medula óssea, além do sangue.
Para quem tem dúvida sobre o diagnóstico de morte encefálica, ou seja, morte cerebral, um esclarecimento: quando ela ocorre, a parada cardíaca é inevitável. Mesmo existindo batimentos cardíacos, uma pessoa com morte cerebral não pode respirar sem aparelhos e o coração não baterá por mais de algumas horas após o diagnóstico. É fundamental, no entanto, que os órgãos sejam retirados enquanto ainda há circulação sanguínea irrigando-os, ou seja, antes que o coração deixe de bater e os aparelhos não consigam mais manter a respiração artificial. A morte cerebral sempre caracteriza a morte do indivíduo, mas, um terço dos órgãos em condições de serem doados se perde porque as famílias dos doadores não permitem a retirada.
A Campanha Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, ABTO, é anual e tem o objetivo de esclarecer, orientar e conscientizar a população para a importância, a necessidade e a responsabilidade da doação de órgãos e tecidos. Para mais informações, consulte o site da ABTO – www.abto.com.br
Os números da doação de órgãos
A ABTO comemora a retomada do crescimento da taxa de doadores efetivos (aumento de 11,8% no último semestre). São 16,2 doadores por milhão de população, com perspectiva de atingir a meta proposta para o ano, de 16,5 pmp. O resultado foi decorrente do aumento da taxa de notificação de potenciais doadores e de efetivação da doação.
Houve crescimento nos transplantes de rim (5,8%), fígado (7,4%) e córneas (7,6%) e diminuição nos transplantes de coração (3,6%), pulmão (6,5%) e pâncreas (6,0%). O crescimento do número de transplantes renais deveu-se ao aumento de 8,8% no transplante com doador falecido, pois o transplante com doador vivo continua caindo (3,7%). Os transplantes com doador vivo não parente e não cônjuge permanecem estáveis (7,2%).
Nos transplantes hepáticos houve crescimento tanto com doador falecido (6,9%) quanto com doador vivo (13,4%). Pela primeira vez, desde 2011, o transplante cardíaco deixou de crescer, com queda de 3,6%. O transplante pulmonar também diminuiu (6,5%) e é realizado em apenas três estados no Brasil – Rio Grande do Sul, São Paulo e Ceará.
A taxa de órgãos transplantados por doador falecido é muito baixa. Enquanto que nos países desenvolvidos varia de 3,5 a 4,2, no Brasil está em 2,5. A taxa de aproveitamento dos órgãos, em relação aos doadores com órgãos transplantados, de 70% para o rim, 55% para o fígado, 10% para o coração, 3,8% para o pâncreas e de 2,6% para o pulmão, mostra que é preciso não apenas aumentar a taxa de doadores, mas também melhorar o aproveitamento dos órgãos.