Sciences Po: porque estudar em uma “grande école” muda sua vida

Para quem não conhece o sistema educacional francês, o conceito de “grande école” pode soar um pouco estranho. Ao contrário das universidades tradicionais, que oferecem uma variedade de cursos em diversas áreas, uma “grande école” oferece uma variedade de cursos dentro de uma mesma área de conhecimento. Há aquelas focadas em comércio, em administração e também em ciências políticas, que é a área que eu amo, e a qual fui estudar.

A mais famosa delas é o Instituto de Estudos Políticos de Paris, a Sciences Po. Foi lá que se formaram o atual e os mais recentes presidentes da França: Emmanuel Macron, François Hollande, Jacques Chirac e François Mitterrand. Foi lá que eu também me formei.

A pergunta para quem está de fora é: O que faz da Sciences Po um lugar tão especial para se estudar? A resposta, como tudo nessa área, não é simples e nem única. Assim, aponto aqui algumas das características que considero seus principais diferenciais.

A primeira delas é a imensa variedade de aulas disponíveis dentro de um único curso. Para se ter uma ideia, ao montar sua grade, um aluno de mestrado pode pegar entre seis e nove matérias por semestre. Cada matéria pertence a um bloco temático daquele curso e, para cada bloco, o aluno pode ter entre três e uma dezena de opções.

Desta forma, cada aluno tem um currículo único, diferente dos colegas que fazem o mesmo curso. Cada aula é feita com uma turma diferente e dois alunos de um mesmo curso podem terminar o ano sem nunca terem feito uma única aula juntos.

A segunda característica é a qualidade do corpo docente. Especialistas renomados em sua área, vindos de diferentes regiões do mundo, e que muitas vezes vão a Paris apenas uma vez por semana para dar uma única aula. Particularmente, essa era uma das coisas que mais me encantava em meu curso.

Fiz meu mestrado em Desenvolvimento Internacional com concentração em Oriente Médio. Minha aula sobre Palestina era com um professor doutor palestino, cuja família viveu a Nakba. Minha aula sobre Relações Internacionais dos Países do Golfo era com um reconhecido especialista dos Emirados Árabes, e assim por diante. Nada de docentes só com conhecimento teórico. Na Sciences Po, teoria e uma profunda vivência no tema são intrínsecos ao quadro de professores.

A lista do que faz a Sciences Po especial é longa. O pensamento crítico é característica inerente a seus alunos. Não se entra lá sem ter algo para agregar e ensinar aos colegas. A convivência com alunos do mundo todo é preciosa. Na hora em que seu colega daquele país que está sendo discutido em aula levanta a mão para falar, você tem uma outra visão de mundo, aquela que só quem vive determinada experiência pode te passar.

Como não é possível contar tudo o que se tem lá dentro em um texto, vou citar apenas mais uma coisa, das que mais me atraíram nessa “grande école”: as palestras. Se o quadro de professores já é excepcional, a qualidade dos palestrantes é formidável, para dizer o mínimo.

São ex ou atuais primeiros ministros e chefes de estado. São políticos influentes em seus países e no mundo, representantes de organizações internacionais. Só enquanto eu estive lá, Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, e Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, foram alguns dos líderes mundiais que passaram pelos auditórios. O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, e o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, também.

O que aprendemos com eles? Como pensam os políticos de países que estão na liderança do cenário mundial, como eles trabalham, quais são suas prioridades, como eles enxergam o mundo. Em quantas outras instituições os alunos têm essa oportunidade? Esse contato, para mim, não tem preço.

A Sciences Po é considerada uma das escolas mais elitistas da França. O processo de admissão não é fácil, as taxas não são baratas e a cobrança por desempenho é extremamente alta. É fácil chegar e se formar? Não, mas cada dia ali vale a pena e transforma o profissional que você é, ou era, para sempre.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Aurea Santos

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos