Scrum em sala de aula (parte 1)

Scrum em sala de aula (parte 1)

Há pouco mais de nove meses eu decidi que minha trajetória na Educação deveria entrar em uma nova fase, que talvez fosse um hiato. Iniciei meus estudos sobre produto e metodologias ágeis, incentivado por queridos amigos e pela minha namorada. Desde então li livros, realizei cursos, procurei artigos e informações, debati.

Finalmente, há alguns poucos meses resolvi começar a buscar uma oportunidade para transacionar de carreira. Etapa essa que se mostrou mais complicada do que eu imaginava. Coincidentemente no mesmo período ocorreram uma série de demissões em massas em empresas de tecnologia e startups. Um dos pensamentos ao ler sobre esse infeliz evento foi de que eu enfrentaria agora a concorrência de pessoas já experientes, hábeis e com bom currículo para apresentar. O terror de alguém em transição.

Entretanto, no lugar de me desesperar ou desanimar, concluí que deveria criar em meu cotidiano e em minhas atividades situações que me ajudassem a forjar uma experiência. Uma experiência que talvez não pudesse ser comprovada em um currículo de 1 página, mas que me garantisse tranquilidade e o aproveitamento para quando tiver uma oportunidade. Afinal, podemos falhar quantas vezes precisarmos; o importante é aprende com cada erro. Por outro lado, só é necessário um acerto para se ter sucesso.

Foi com essa mentalidade e utilizando como base a experiência do uso de Scrum em salas de aula na Holanda que eu dei início a uma experiência em minhas aulas semanais de Atualidades com alunos de 17 anos. As aulas de Atualidades são boas, pois não há um conteúdo fechado e pronto, ele deve ser construído. Por isso é aí que se encontra uma ótima habilidade para treinar uma série de capacidades e, mais do que isso, construir coletivamente o conhecimento.

Sendo assim, ao longo de algumas semanas pretendo escrever um pouco sobre como foi a experiência de aula e quais problemas, resoluções e métodos foram utilizados por nós para o desenvolvimento de nossos trabalhos.

Primeira Aula: apresentação.

Para quem está acostumado com a vivência de adolescentes em uma sala de aula sabe que para conseguir que eles façam qualquer coisa é necessário primeiro que eles sejam convencidos da importância da atividade. Por isso, minha primeira ação (após a saudação costumeira) foi explicar à minha turma de 14 alunos o que faríamos em nossa aula no mês de agosto. Falei o que havia pensado, expliquei um pouco sobre o que era o Scrum e conversei com eles sobre a importância de uma administração mais ágil do tempo e do esforço, mas até então com baixa participação e ânimo.

Comecei então a segunda parte da aula: um exemplo do funcionamento do Scrum de maneira simplificada e dentro do contexto deles. O exemplo: jogar vôlei com os amigos.

Minha pergunta inicial foi sobre o que era necessário para poder jogar vôlei com os amigos, o plano final a ser concretizado. Aos poucos eles foram se soltando e dando respostas. "Bola", "quadra", "rede", "time", "joelheiras", "tênis", "shorts" etc. Com base nas respostas obtidas, elaborei uma série de histórias, listadas abaixo:

  • Falar com amigos para organizar times para o jogo.
  • Procurar uma quadra que tenha horário disponível.
  • Organizar o equipamento para o jogo (rede, bola, joelheiras etc).
  • Trocar de roupas para o jogo.

Rabisquei na lousa então 5 colunas (backlog, a fazer, fazendo, verificação, feitos) e coloquei cada uma das histórias em uma linha. Finalizando essa fase da aula, exemplifiquei algumas atividades necessárias para se completar cada uma das histórias ("mandar mensagens para os amigos" no caso da história sobre organizar times e "agendar horário" para a quadra, por exemplo.

O passo seguinte foi entender sobre priorização. Já com participação geral da turma, pedi para que cada um dissesse o que acha que deve ser feito primeiro e, como esperado, as opiniões foram divergentes. Alguns acreditavam que primeiro era necessário saber se haveria onde jogar. Outros defenderam que sem organizar os times antes, não daria certo. Ainda outros disseram que preferiam organizar o equipamento, "pois sem bola não há jogo".

A falta de consenso era esperada e, para isso, expliquei como utilizar o planning poker. Sem um baralho adequado ou tempo para ensinar a todos o uso de um aplicativo, a ferramenta que recorri foi um baralho simples de UNO, do qual me apropriei das cartas 1, 2, 3, 5 e 8, buscando simplificar o processo para torná-lo mais rápido e didático para meus alunos. Com a participação de 5 voluntários realizamos rapidamente as rodadas para definir prioridades de cada história, pedindo que eles argumentassem quando houve uma diferença muito grande de cartas escolhidas. Nessa fase, por exemplo, surgiram argumentos ótimos, por exemplo como é possível jogar na rua caso não haja uma quadra disponível e, por isso, precisa-se primeiro formar os times e organizar os equipamentos.

Por fim, com todo procedimento explicado e detalhes combinado para iniciarmos na próxima semana, sorteei grupos de 7 alunos. Na aula seguinte definiremos temas, como eles irão trabalhar e confeccionaremos os quadros do Scrum com cartolina e post-its (por segurança manterei um registro dos quadros utilizando o Miro). Não sei o que teremos ao final, mas trabalho com a tranquilidade de que os resultados serão positivos, independente de quais forem.


Semana que vem eu trago a segunda parte com os resultados que obtiver. Até lá!

Giovanna Luchetta

Sr Group Product Manager @ Global DTC | Zé Delivery & TADA

2 a

Achei demais a abordagem! Acho que vai ser muito rico esse processo pra sua aprendizagem 😍

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Rafael De Castro Hirabahasi

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos