Se tem uma coisa que eu aprendi é que ninguém nasce sabendo…
“Como assim você não sabe andar de bicicleta?” Era assim que as pessoas reagiam quando eu contava, e por algum motivo, achavam que eu tinha obrigação de ter tido na infância a seguinte cena:
Certo dia, coloquei na cabeça que iria aprender!. Já havia tentado algumas vezes antes, mas dessa vez foi diferente.
Eu sabia que só dependia de mim!
O conselho do meu pai não ajudou muito: “É tão simples, é só pedalar! Não tem segredo. Vai lá que você consegue!” Pelo menos foi uma palavra de incentivo né?
Um domingo de manhã. Peguei a bicicleta da minha irmã e fui para rua. Caí bastante. Demorei para entender como colocar um pé por vez. Como manter o equilíbrio. Como fazer as curvas. Minhas pernas ficaram com manchas roxas (depois verdes) por semanas.
“No pain, no gain!” que fala, né?
18 de novembro de 2018, aos 29 anos, estava eu dando minha primeira volta no quarteirão de bicicleta.
Feliz por mim, queria espalhar essa alegria para outras pessoas.
Em janeiro de 2019 entrei como voluntária no Bike Anjo* de São Paulo, que é um projeto onde um dos principais objetivos é ensinar pessoas a andarem de bicicleta.
Participei de 4 oficinas.
Posso dizer que há muita gente que também ouve por aí: “Como assim você não sabe andar de bicicleta?”
E, quando entro no LinkedIn, às vezes tenho a mesma percepção de quando não sabia pedalar: “Nossa, eu deveria saber fazer tal coisa…”
Vejo algumas vagas despretensiosamente, a sensação que tenho é de “estar ficando para trás” e de não ter conhecimento nenhum fora da área que eu atuo (física médica).
Ao ler o seguinte trecho de um livro** essa semana, entendi o porque isso me angustia:
“Nos idos de século passado, as pessoas eram mais reservadas - o que lhes acontecia, seus planos, dinheiro e projetos para o futuro não era da conta de ninguém. Hoje, em tempos de Big Brother e diários públicos (blogs), me arrisco a afirmar que não nos tornamos liberais nem modernos, mas descarados. Fala-se de dietas, amantes, carreira e saúde com tanta franqueza e confiança que todos parecem experts e ninguém ousa expressar ignorância sobre um assunto, qualquer que seja. Em outras palavras: valoriza-se o saber, desvaloriza-se o aprender. Todos nascemos prontos. Tsk, tsk, tsk…
Assim fica difícil. O pobre indivíduo precisa fazer ioga como um mestre indiano, transar sabendo sexo tântrico, correr como um esportista, nadar como um medalhista, falar como um intelectual, escolher vinhos como um enólogo, cozinhar como um gourmet, tratar seus filhos a Waldorf (o que não quer dizer fazer uma salada com eles, embora de vez em quando dê vontade), cantar como um Sinatra em DVDokês, dançar como um Travolta. Ou um Astaire. Ou ambos. Quem tenta aprender é rrridícolo. É impressionante que, nesse ambiente de sitcoms e comerciais no horário nobre, alguém consiga ter um mínimo de libido: todos têm um complexo de inferioridade monstro.”
Aí, acrescento: um candidato a uma vaga de emprego precisa saber mexer em n softwares diferentes e ainda ter habilidades sociais impecáveis***. Sim, pode ser frustrante considerando esse mundo de stories onde só vemos “a pinga que pessoas bebem e não o tombos que elas levam…”
Considerando que a nossa percepção da realidade é sempre distorcida por diversos fatores, o conselho de hoje é: se quiser trabalhar em determinada empresa (por afinidades ou questões ideológicas) ou em determinada área que você ainda não tenha conhecimento, estude! Dedique-se.
Reserve tempo para aprender.
De preferência, com pessoas ou em ambientes que possam te ensinar de verdade. Converse com amigos, peça indicações (inclusive para “estranhos”, considerando este mundo virtual), faça um curso presencial ou online.
Lembram do meu pai falando “É tão simples, é só pedalar!”?
No Bike Anjo fui apresentada a técnicas para aprender a andar de bicicleta, ou seja, dependendo do que você quer aprender, escolher o professor certo pode facilitar muito (e adiantar) sua vida.
Se tem uma coisa que eu aprendi é que ninguém nasce sabendo. E isso vale para tudo nessa vida.
*Qualquer hora escrevo um pouco mais sobre o projeto Bike Anjo e sobre o prazer de ver alguém aprendendo a pedalar. Você pode obter mais informações AQUI.
**Livro A arte da guerra para quem mexeu no queijo do pai rico, de Luli Radfahrer, editora Planeta, 2004. (Obs.: esse trecho do livro daria uma ótima conversa em um bar...)
***Quer rir um pouco (ou chorar) com propostas de emprego de discernimento duvidoso? Conheça o projeto Vagas Arrombadas AQUI.
E você, tem algo que achou que nunca ia aprender ou tinha grande dificuldade e hoje em dia domina? Conta aí para gente!
Rosana Della Bruna
Bacharela em Física pela USP.
Supervisora de Proteção Radiológica. Sócia na Rad Dimenstein.
Atuo na radioproteção em Medicina Nuclear desde 2012.
Depois de 4 oficinas posso me declarar Bike Anja também ;) !
Também gosto de artes, de ler, e de aprender coisas novas.
(E sigo tentando escrever algo por aqui...)
Consultora Técnica de Vendas | Executiva Comercial | Especialista em Física Médica - HCFMUSP | Medicina Nuclear | Supervisora de Radioproteção | Comunicação | Sucesso do Cliente
5 aExcelente reflexão Roo!! 👏🏻👏🏻