Segurança ou sanidade mental: o que vale mais nesse momento?

Segurança ou sanidade mental: o que vale mais nesse momento?

Algumas semanas atrás, minha coordenadora pediu que separássemos uma foto de quando éramos crianças bem pequenas, pois seria usada em uma dinâmica que aconteceria em uma reunião pedagógica. Imediatamente, várias professores se manifestaram dizendo que não tinham fotos de quando eram pequenas. Muitas só tinham fotos a partir da idade adulta. A princípio podemos achar isso estranho, mas é super comum. Cada um vem de uma realidade diferente e a 30 anos atrás fazer registros fotográficos não era algo tão acessível como é hoje.

Pois bem, uma professora sugeriu que pegassem uma foto atual e utilizassem algum app que simula como éramos quando criança. Na hora peguei o celular para escrever falando dos perigos que esse tipo de app podem conter:

  • alimentar bancos de reconhecimento facial
  • não oferecem nenhum tipo de proteção
  • parceria com terceiros
  • informação enviadas pelo dispositivo sem clareza de quais são
  • falhas de privacidade

Mas, me segurei. Fiquei pensando como as professoras que não tinham foto se sentiriam excluídas da dinâmica e achei melhor não me manifestar. Fiz certo? Não sei, mas no momento achei que era o mais adequado. E para me sentir um pouco mais em paz, decidi que depois viria aqui para escrever sobre esse tipo de app e alertar as pessoas sobre seu uso. Os dias foram passando e acabei não escrevendo a postagem.

Eis que na última segunda feira me deparo com a seguinte manchete: Homem reencontra pai após 30 anos no litoral de SP ao envelhecer foto em aplicativo postada no G1. Pronto, foi o suficiente para eu desistir de vez de escrever falando mal desse tipo de app. A felicidade desse pai e desse filho com certeza compensam qualquer tipo de perigo que esse tipo de app possa trazer.

O que eu acredito de verdade e agora mais ainda, é que as pessoas precisam ter acesso a informação para aí terem condições de decidir o que fazer ou não, qual app usar ou não e para quais propósitos. Eu ainda devia ter alertados aquelas pessoas? Talvez, mas não era o momento. Eu acompanhei a alegria delas em terem conseguido ter um registro mesmo que criado de quando eram crianças. Algumas enviaram a versão dos apps para algum parente e disseram que ficou quase idêntico a como elas eram quando crianças.

Prezo muito pela segurança das pessoas, mas em tempos tão difíceis como esses em que estamos vivendo, tenho presado muito mais pela sanidade mental e pela felicidade das pessoas.

Aline Nunes

Bacharela e licenciada em História. Pós graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional.

3 a

Excelente reflexão!

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