Por que não temos tempo para nossa Segurança?
Nos últimos dias andei reparando na quantidade de "infrações" cometidas por muitos de nós durante o nosso dia-a-dia, infrações do tipo estacionar em vagas de deficiente e/ou em local proibido, atravessar fora de faixas de pedestre, subir escadas sem se agarrar aos corrimãos e até o famoso dirigir/caminhar enquanto se digita mensagens ao celular.
Em inúmeros casos me senti indignado ao presenciar diversas situações como essa e pensei, "a incapacidade moral de se gastar meia duzia de passos ou de minutos é exorbitante...." E foi aí que um insight me ocorreu.
No final das contas, o que todas essas pessoas que se encontravam nessa situação "infratora" tinham em comum para não "poderem/conseguirem" seguir instruções, nomas, regras ou leis? A conclusão que à qual cheguei foi a sensação de perda. A sensação de escassez. Mas que tipo de escassez nos referimos em um ambiente tão abundante como o nosso?! Seria essa a sensação da escassez de tempo.
Antigamente nossos avós acordavam vagarosamente, tomavam seu café lendo seu jornal, dialogavam e saiam para começar o dia de trabalho. Hoje? Acordamos, na maior parte do tempo, apressados. Preocupados com a reunião, com a apresentação, com o produto, com a entrega... Mal conseguimos tomar o café antes de sair de casa. Vivemos em um mundo que nos ensinou que tempo é dinheiro e, consequente, ficar parado nos faz mais pobres. Para tanto, necessitamos produzir e produzir cada vez mais, a fim de garantirmos nossa tão sonhada riqueza. Portanto, quanto mais produtos tirarmos no final das máquinas, cada ação definida em cada reunião e cada venda concluída seremos mais ricos. Diante disso como vou parar e digitar uma mensagem ao celular? Como vou andar cinco passos a mais se possui uma vaga mais próxima? E por quê diabos segurar no corrimão se posso simplesmente subir dois degraus por vez e ainda ganhar tempo?! Realmente... Com tanto a se fazer, a se produzir, a se criar, como poderíamos "desperdiçar" tanto tempo do nosso dia?
Então, quando penso em nossos avós e penso em com tudo acontecia, e olho para o relógio, vejo que o dia ainda continua com 24 horas. Elas não mudaram, o tempo não mudou. O que mudou foi a nossa percepção; como percebemos os instantes da nossa vivência. Criamos ao nosso redor uma sensação de escassez de tempo tão grande que cremos que 24 horas já não são mais suficientes para os afazeres do dia e da noite também, pois, após a jornada de trabalha ainda há faculdades, pós-graduações, mestrados, afazeres domésticos, filhos, cônjuges e assim por diante... Dessa forma, cremos que temos tanto mas tão pouco tempo que, no final, quanto realmente sobra para nós mesmos??? Quanto disso tudo foi utilizado para que você olhe em volta e perceba o quanto você já fez e o quanto está por fazer?? E quanto ainda demoraremos para perceber que esse frenesi diário em função da escassez nos leva a colocar tudo que tão arduamente tentamos construir em jogo?
Demoramos muito para chegar aonde chegamos, mas precisamos de apenas um instante para colocar tudo a perder... Penso então que é tempo de parar e avaliarmos se realmente essa "escassez temporal" que criamos em torno de nós deve realmente tomar tanto tempo de nossas vidas...