Seja a mudança que você procura.
Quarta-feira é dia de reunião na empresa que o André trabalha. Todos chegam cedo, a reunião começa pontualmente às 8h e termina às 9h. Essa reunião acontece mensalmente. É a reunião em que o André apresenta os resultados do mês. Gráficos bem elaborados expressam em números a quantidade de clientes atendidos no período, o ticket médio alcançado e o desempenho da empresa em comparação com o mesmo período do ano anterior. A reunião é rápida e objetiva. Todos ouvem com atenção e o clima parece ser bom. Porém, pela falta de envolvimento, André percebe que os empregados estão descompromissados com as metas da empresa.
André trabalha em uma confecção de roupas de pequeno porte com mais de 10 anos de atuação no segmento de camisas e tailleur para executivas. Foi contratado para trabalhar na área de gestão a fim de ajudar a melhorar os resultados das vendas.
Há mais de cinco anos, o segmento de atuação da empresa só cresce. A mudança do papel das mulheres na sociedade, como, por exemplo, uma maior participação feminina no mercado de trabalho, alterou a demanda pelos produtos da empresa. O trabalho aumentou e a concorrência também por isso os resultados não tem sido bons.
André é um gestor experiente, tem bom currículo e larga experiência em gestão. Ele entende que o porte da empresa pode facilitar a mudança de cultura, sem traumas ou necessidade de desligamentos, por isso aceitou o desafio.
O problema é que ele está se sentindo “sem ação” diante da pressão por resultados e a dificuldade de engajar os colaboradores no cumprimento das metas. Ele sabe que não conseguirá nenhum resultado sozinho, ele precisa das pessoas nessa empreitada.
Para motivar a equipe, André estuda e prepara seu discurso de forma dedicada antes de cada reunião. Fala do potencial do mercado, elogia os funcionários e trabalha textos motivacionais, mas nada disso tem surtido efeito. Apesar de ser considerado um líder inspirador, André já percebeu que os empregados da empresa querem trabalhar por algo maior que o impositivo alcance de metas no final do mês.
“O que eu estou fazendo aqui?”
Atire a primeira carteira profissional quem nunca fez essa pergunta a si mesmo. Acredito que cada um de nós já buscou ou ainda busca por uma resposta a essa questão. Ela nos aflige o tempo todo. Basta uma “pressãozinha”, um dia difícil, uma meta não alcançada que ela vem à nossa mente. E não pense que “só empregado é que tem coração”. Empresário também sofre. São tantos compromissos, dificuldade para gerenciar pessoas, ataque dos concorrentes que eles também, às vezes, se perguntam a mesma coisa. A verdade é que são poucos os empresários ou gestores que conseguem fornecer respostas consistentes a esse questionamento. Quando chegamos ao ponto de nos questionar “o que estou fazendo nessa empresa” é porque estamos angustiados, perdidos, no piloto automático e sem perspectivas. Sentindo-se assim, talentos demitem-se, sócios não se entendem e muitos valores se perdem em um mundo de muitos apelos e pouca verdade.
Cultura determina comportamento e comportamento determina resultados.
O mundo pós-moderno produziu diversas alterações na sociedade. Um casal, por exemplo, não vive mais das garantias de “laços eternos” como antigamente. Essa mudança de comportamento determinou a mudança do código civil brasileiro e influenciou a mudança do conceito de “vida a dois”.
O sucesso de um casal, hoje em dia, depende muito da afinidade de pensamento e dos valores que têm em comum.
Eu e meu marido, por exemplo, alcançamos vários objetivos devido à parceria que estabelecemos ao longo dos anos. O nosso casamento vem obtendo sucesso há mais de nove anos porque é pautado em diretrizes muito claras, frases que escrevemos e repetimos como mantras e que podem ser comparadas ao propósito, missão e crença de uma marca.
O propósito do nosso casamento está sintetizado na seguinte frase: “Hoje vou ser melhor que eu mesmo ontem”. “Amar nos dá força. Amar e ser amado nos dá coragem” representa a crença que nos mantém unidos. “Viver com pouco e em harmonia com a natureza” é missão que nos propusemos a seguir. Assim, com amor, coragem, simplicidade e disposição para melhorar, superamos problemas financeiros e conseguimos alcançar o que para nós é essencial: vivenciar outras culturas, prestigiar as riquezas naturais do Brasil, praticar esporte e dar boa educação para nossos filhos.
Diante desse exemplo, pergunto: é possível abraçar o objetivo de uma empresa sem conhecer e compartilhar dos mesmos valores que ela? A resposta para essa pergunta pode estar no entendimento do conceito de "lucro”. Sim, esse conceito também mudou. Os tempos são outros. Grande parte das empresas não vive mais da venda de um produto exclusivo capaz de fazer do cliente um refém do seu preço e das suas condições. Os empregados também não se subordinam facilmente a ambientes competitivos e políticas comerciais duvidosas para garantir os seus salários.
Para conseguir engajar consumidores e empregados na busca de objetivos e metas, a a missão da empresa precisa convencer; precisa deixar claro que a "missão a ser alcançada" é uma "missão possível" para todos os envolvidos.
Se você está começando um negócio ou está em busca de maior engajamento dos seus empregados e consumidores às suas propostas, eu separei algumas dicas importantes para ajudar a transformar o seu negócio em um propósito valoroso, capaz de orientar pessoas, criar cultura e influenciar comportamentos:
Substitua Negócio por Propósito.
O marketing nos ensinou que, antes de tudo, deveríamos definir qual era o nosso negócio. Os livros nos incentivaram a responder perguntas como: qual é o meu mercado? Qual o diferencial do meu produto? Qual o segmento de pessoas caracteriza o meu público alvo. A resposta a essas perguntas direcionavam o argumento de venda da empresa. Nos dias de hoje, restringir a mensagem ao produto pode trazer um inconveniente estratégico para a marca: a comparação com os seus concorrentes. Os produtos estão cada vez mais equiparados, satisfazem as mesmas necessidades, portanto, o grande valor que uma empresa pode gerar para seus consumidores é esclarecer o "porquê" e "como" ela pretende trabalhar para a sua satisfação.
Substitua “Valores da Marca” por “Crenças da Marca”
Parece trocar seis por meia dúzia, mas não é. As crenças estão intimamente ligadas ao propósito da marca, enquanto os Valores, às vezes, nada tem a ver com o Negócio da empresa. Mudar essa percepção e essa declaração favorece a comunicação integrada, ou seja, um único tema que sintetiza tudo que é importante e de interesse de todos os envolvidos no processo - empregados, consumidores, fornecedores, comunidade, etc.
Seja verdadeiro
Até aqui você entendeu direitinho. A missão e a visão da marca devem sintetizar um valor relevante para todos os públicos envolvidos e vai direcionar a comunicação com empregados, consumidores, clientes e todos que se relacionam com a sua empresa. Muito bem. Agora, nada disso vai surtir efeito, fazer com que você prospere, se você não for verdadeiro. É por isso que a construção dessas diretrizes não pode ser algo protocolar. É preciso verdade e autenticidade. Transparência é o nome do jogo. Não adianta reunir as pessoas em um ambiente bacana, fazer a apresentação das diretrizes mais valorosas do mundo e depois de alguns dias, demitir a recepcionista por correspondência durante as férias.
Enfim, parcerias verdadeiras entre patrões e empregados, marcas e consumidores não devem ser edificadas sobre acordos financeiros, corporativismos, protecionismos ou alianças políticas. Se assim forem, estão fadadas ao insucesso, pois a base é duvidosa e pode ceder a qualquer momento. Parcerias duradouras nascem de valores em comum. Permitimos que outros nos conduzam à realização de algo, porque compartilhamos dos mesmos propósitos e objetivos que essas pessoas.
Todo empreendimento deveria começar por uma boa reflexão sobre: “o que outras pessoas me ajudarão a fazer aqui”? (porque sempre vai haver a figura do outro), assim, perguntas como as mencionadas no início desse texto nunca ficariam sem resposta.
Entretanto, se você está no mercado há algum tempo e não pretende perder o bonde da história, oriento que reflita sobre a seguinte mensagem, mediada por Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
Neire Castilho é professora em cursos de graduação na Uniube, Especialista em Marketing e Estratégias de Mercado, Mestre em Educação e pesquisadora sobre a nova ecologia dos meios. É co-fundadora da Orientte Estratégias Comunicacionais, empresa especializada em estratégia e gestão de marcas/Branding.
Assistente Operacional | RD
7 aObrigada por sempre inspirar as pessoas Neirizinha <3
Analista de Sistemas | Publicitária
7 aMuito bom, inspirador!
Professor | CNSD Uberaba
7 aSabe Neire Castilho, eu fico aqui "matutando' com meus botões: que orgulho de te conhecer! Adorei o texto. Acertivo. Direto. Na veia. Toca em situações que realmente necessitam de novas configurações. Adoro o lado humano da sua escrita. Queremos mais! Que tal um livro nessa pegada? Eu leria com certeza! Abraços e obrigado, suas palavras, nesse momento, foram um despertar. 👏🙏😊☕