Seja um agente de mudança ou retire-se
Recentemente, aconteceram dois fatos que me inspiraram a escrever este texto.
O primeiro deles foi algo muito relevante na minha vida. Fiz meu primeiro Ironman no dia 28 de maio de 2023, em Florianópolis/SC. Nadei 3.800 metros, pedalei 180 km e corri 42 km. Tudo isso debaixo de muita chuva, frio e rajadas de vento que tiraram alguns atletas da prova. Foi uma conquista sem precedentes para mim. Que aprendizado. Quanta força física e mental foram necessárias para cruzar aquela linha de chegada.
Não só porque se trata de uma prova muito, muito difícil (em outro artigo trarei detalhes), mas porque eu tive uma pequena fratura por estresse durante a prova. Tive uma pequena fratura na cabeça do fêmur. Eu já larguei com uma lesão e sabia do risco. Mas, sinceramente, não havia a menor chance de eu não tentar cumprir esse objetivo para o qual estava me preparando há 6 meses.
O fato é que não sei precisar em que momento da prova a fratura aconteceu. Nos primeiros dias pós-prova, eu achava que tinha sido no quilômetro 30 da maratona, quando eu realmente quis desistir daquilo. Já estava com um total de cerca de 13h de prova e não conseguia mais controlar a dor. Até que encontrei meu treinador e aquele momento olho no olho me deu forças para seguir. Terminei meu primeiro Ironman em 14h02. De verdade, um feito épico para mim.
Quando a prova acabou e o corpo esfriou, a conta chegou. Já não conseguia mais andar e a dor veio num grau beirando o insuportável. Bem, para resumir, foram três dias de internação, um mês andando de muleta. Neste período, eu comecei a passar por estágios degradativos da dor. E foi só então que eu me dei conta de que já na largada da corrida essa dor estava comigo. Ou seja, é muito provável que eu tenha corrido uma maratona com o quadril quebrado. Por sorte, ou por Deus, para os mais crédulos, foi algo reparável com repouso e muita paciência da pessoa (agitada) que vos escreve.
Agora vou dar um salto para o outro episódio. Ouvi em uma reunião:
– Vocês vão gostar de trabalhar com a gente, o clima da companhia é ótimo, aqui não tem assédio moral.
Eu fiquei em choque, não me contive e perguntei:
– Mas por que está me dizendo isso? Onde você trabalhava antes você sofria assédio moral?
E a pessoa, referindo-se a uma empresa muito grande:
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– Ahhh, sim, era bem comum, fazia parte da cultura.
Vamos voltar para a cena do Ironman.
Eu, enquanto lidava com uma dor que ainda não era impeditiva, achava que o desconforto era apenas proveniente de uma prova dura, de um desgaste do corpo que já tinha sido um bocado castigado por um pedal que durou 7h por conta de condições climáticas absolutamente desfavoráveis.
Precisei experimentar a dor mais forte - aquela que veio pós-prova - e, depois, o processo de regressão dessa dor, para entender que o tal desconforto que eu senti na largada da maratona já era dor, sim, porém, em menor intensidade.
Eu não conto isso com nenhum mérito. Também não vejo mérito em se gabar por estar em um ambiente de trabalho sadio. Estar em um lugar que não te agride é tão necessário para sua felicidade e prazer quanto fazer uma competição esportiva sem lesão. Assim como eu não entendi a dor me dando um sinal, a pessoa do diálogo acima talvez não tivesse entendido o quão ruim e nocivo era o seu local de trabalho anterior. Talvez ela só tenha percebido isso quando passou a frequentar um lugar no qual era bem tratada. Porque, até então, ela vivia a realidade do "está ruim, mas está bom", assim como eu corri 30 km pensando: "está difícil, mas eu aguento".
Se é que vale uma retratação da minha parte, no caso do Ironman, eu sabia exatamente porque estava naquela jornada e sabia que para o final dela restavam apenas mais 12 km, quase nada, em vista dos 226 km totais da prova. Eu planejei tudo o que compõe a minha vida para largar naquele Ironman, seja a parte financeira, social e até de trabalho. Então, para mim, era uma trajetória com começo, meio e fim. Era uma escolha totalmente consciente. E digo mais: farei novamente, com toda certeza.
Já a situação profissional que relatei aqui expõe uma realidade na qual muitas pessoas ficam presas em culturas organizacionais cujas crenças se baseiam no comando e controle. São empresas que têm a síndrome do pequeno poder incrustada nos diversos níveis de relacionamento, o que vai gerando uma toxicidade sem fim, e também uma miopia generalizada, a ponto das pessoas acharem que assédio faz parte.
Não, assédio não faz parte. As pessoas não deveriam permitir isso. Deixo aqui meu pedido para que você também não permita. Sigo acreditando que, se cada um se posicionar contra práticas de gestão ruins e nocivas, as empresas terão que começar a promover mudanças. Se elas não mudarem, mude você. Tenha coragem para buscar organizações que priorizam autogestão e autonomia. Acredite, elas existem.
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Isso já é um bom começo para você escolher sua nova trilha de carreira e desenvolvimento pessoal, se achar que é o caso, obviamente. Se quiser se aventurar nessa busca, só posso te desejar boa viagem. :)
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1 aUm artigo de sensibilidade incrível, como sempre. Mas e vc? Está melhor Thays Aldrighe ?😲❤️
Future of Work | Self Management | Distributed Leadership | Facilitator
1 aMaravilhoso relato, como sempre!
Jornalista e ghost-writer | Negócios & Turismo
1 aÓtima reflexão! Das melhores coisas de se trabalhar em rede, e em especial na rede TECERE, é não ter que se sujeitar a ambientes tóxicos de trabalho. Eu amo!