Seja um empreendedor pessimista
Estava em uma discussão sobre tendências para o consumo com um grupo de jovens e chegamos com facilidade a um ponto comum: o Uber. Depois disso, divagações e prospecções foram fáceis: "o carro vai acabar"; "o carro autônomo já é realidade"; "o jovem de hoje não quer ter carro..." E por aí foi.
Confesso que tenho certo prazer em fazer o papel do chato, daquele que joga água no chope. Hobbes me atrai mais que Rousseau. Voltando à discussão anterior, faço uma provocação: até que ponto esse debate aborda apenas uma realidade de jovens de classe média? Já mencionei, em outro texto, que 58% do país ainda está off line! Por isso, penso que estamos discutindo tendências e tecnologias como se estivéssemos numa Matrix norueguesa. É muito fácil para esse jovem de classe média (e para mim, inclusive) falar que não quer mais ter carro, já que ele tem a possibilidade de tê-lo ou não. O que o pobre quer e precisa é de pagar conta.
Essas discussões são realmente interessantes e devem ser feitas. Mas de que adianta tê-las se não as colocamos para fora da bolha? O conhecimento deve servir para mudar realidades. Já do ponto de vista dos negócios, e pensando apenas em grana no bolso, será que investir numa startup super revolucionária num cenário de 58% off não seria uma espécie de miopia causada pelo sonho ludibrioso de ser um Zuckerberg? Talvez não, talvez sim. Resposta difícil que depende de cada caso. Pensando com cabeça de investidor, e no cenário brasileiro, preferiria investir em saco de cimento, negócio de baixo risco, fluxo de caixa sem oscilação e um bom retorno líquido. Ser um pouco pessimista pode ajudar no desenvolvimento de qualquer negócio, seja uma startup ou um depósito de material de construção.