Seja você mesmo ou morra tentando
pixabay.com

Seja você mesmo ou morra tentando

Em 1990, bem no início da década que está agora na moda, uma comédia fez muito sucesso. O nome era “Crazy People - Muito Loucos”. Contava a história de um publicitário (interpretado por Dudley Moore) que era internado em uma instituição psiquiátrica e que, se juntando aos pacientes de lá, começa criar campanhas que são adoradas pelo público - porque falam a verdade sobre os produtos e as marcas. A graça residia justamente nisso: a publicidade não era verdadeira e pensar que isso poderia acontecer só podia ser ficção. E comédia.

Corta para 2019. Tempo de fake news, conexões rápidas, millennials em busca de sentido e overdose de informações. Aquela verdade que os loucos faziam e era motivo de riso no filme é a busca atual e constante de marcas e geradores de conteúdo. Seja você mesmo ou morra tentando.

Sem padrão

Grandes geradores de conteúdo digital, como Buzzfeed, Vox e Vice, entre outros, estão passando por mudanças grandes de equipe, contam seus profissionais em conversas de mercado. Além de uma readequação financeira, trata-se primariamente de uma mudança de perfil de equipe. É uma busca por diversidade real, para além do discurso.

Ainda com menor intensidade, mas com frequência muito notável, o mesmo está ocorrendo com as grandes agências de publicidade. Há um burburinho no mercado de que quem comanda, mesmo que não se importe muito com isso em termos pessoais, percebeu que não dá mais para ter um monte de homem, branco, rico e cis cuidando da criação se quiser gerar comunicação efetiva para todo o contingente de pessoas que não se identifica com esse padrão.

Um Kond é rei

Um sinal disso é o anúncio de que Konrad Dantas, conhecido como Kond, a mente genial por trás da marca KONDZILLA, responsável por inúmeros fenômenos da cultura popular recente, vai assumir a direção criativa da marca de vodka Orloff pelos próximos nove meses.

Numa ação inteligentíssima arquitetada pela agência Soko, Kond vai pensar em como a marca pode se aproximar de quem realmente é seu público: os jovens da classe C. Orloff não é Smirnoff nem Absolut. E não precisa ser.

Em entrevista para o Meio&Mensagem, Sabrina Zanker, gerente de grupo de marca de White Spirits, da Pernod Ricard, dona de Orloff, é clara e objetiva: “Estávamos muito voltados para o consumo dentro de casa, enquanto essa juventude está muito na rua e conquistando espaços públicos. Vamos reconectar com quem não estávamos falando, mas continuar o diálogo com todos os nossos consumidores”, diz.

Contra dados não há argumentos

Uma mudança como essa vem da pressão do consumidor, que muito mais conectado e vocal, passou a expressar sua visão de maneira firme, especialmente nas redes sociais. Porém, por muito tempo, essas palavras não eram levadas à sério. “É mimimi de meia-dúzia de haters”, ouvi muito por aí.

Mas então chegaram as ferramentas e os profissionais de análise de dados no jogo. Com mais profundidade, essa área de verdadeira inteligência começou a mostrar que antigas presunções sobre o perfil do público já não podiam ser consideradas “mimimi”.

Há uma massa de pessoas que não se enxerga na publicidade atual. Que sente que o conteúdo dos grandes produtores não é para eles.

Essa galera, que é a maior parte do público, começou a seguir novos perfis, a criar seus próprios influenciadores e canais. Como Kondzilla, por exemplo. Começaram a ressignificar marcas e produtos.

E tudo isso começou a ser visto e tabulado nos departamentos de B.I por aí, resultando agora numa mudança que pode, muito rapidamente, colocar a comunicação brasileira num patamar de referência de diversidade para o mundo todo. Já passou da hora.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Thiago Costa

  • Comunicação é missão crítica de qualquer empresa

    Comunicação é missão crítica de qualquer empresa

    Para começar essa leitura, pare e pense um pouco: quantas vezes nos últimos meses algo pequeno te irritou ao ponto de…

  • Por que “Vingadores: Guerra Infinita” é um sucesso tão grande?

    Por que “Vingadores: Guerra Infinita” é um sucesso tão grande?

    Mais do que uma boa história, a Marvel construiu uma estratégia de marketing perfeita O filme do momento. A maior…

    10 comentários
  • Inspiração para Campanhas de Marketing com Geolocalização

    Inspiração para Campanhas de Marketing com Geolocalização

    Quem trabalha com publicidade tem enfrentado desafios cada vez maiores para fazer com que as marcas alcancem…

  • Voice prompt: familiaridade para gerar engajamento

    Voice prompt: familiaridade para gerar engajamento

    Qual é a sua voz preferida nos aplicativos? Quem conduz você no voice prompt do Waze? Prefere Jane, em inglês, ou nossa…

    2 comentários
  • Vacinado contra os virais da rede

    Vacinado contra os virais da rede

    Redes sociais são coisas engraçadas se a gente pensar bem. Até alguns anos atrás, essas redes digitais nem existiam.

  • Hora de começar... E não parar mais!

    Hora de começar... E não parar mais!

    Começo de ano é sempre a mesma coisa. Aquela ânsia para cumprir as famigeradas promessas feitas no ano anterior.

  • A grama do vizinho

    A grama do vizinho

    Confesse: você já se comparou a alguém. Pode ser um vizinho, colega de escola, um chefe.

    8 comentários
  • Não fui contratado. E isso foi ótimo!

    Não fui contratado. E isso foi ótimo!

    Vou usar esse texto (muito bom, aliás), para contar uma experiência profissional que tive pouco antes de criar a EVCOM…

    13 comentários
  • A Comunicação que não se comunica

    A Comunicação que não se comunica

    Por conta do meu trabalho na EVCOM e na FAAP, encontro com muita gente de agência e de cliente. E, invariavelmente, um…

  • Dos males da modernidade: a Síndrome do Fantástico

    Dos males da modernidade: a Síndrome do Fantástico

    Domingo à noite. Você ouve uma música acompanhada da voz de um tradicional locutor de TV.

    3 comentários

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos