Sempre que puder, cultive

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No primeiro dia útil do Ano Novo, nada mais típico do que abrir a caixa de entrada e começar a organizar mensagens. Triar, responder, deletar.

Encontrar algumas mensagens ainda do ano passado, e estranhar que 2020 agora pertence à categoria de (ano) passado.

No final de 2020, enviei e recebi votos de felicitações para o novo ano e agradecimentos àqueles que trabalharam comigo durante esse período.

Uma dessas mensagens recebidas me chamou atenção. Quase no último mês do ano, o assunto do email era bem objetivo: "Obrigada!" A remetente era uma grande amiga, Carolina, e por alguns segundos eu me peguei me perguntando:

"Qual o motivo desse agradecimento?"

Mal sabia eu, mas o motivo desse agradecimento era uma semente de sonho plantada há algum tempo.

Segue a linha do tempo dessa semeadura:

2017: Carolina tentou o processo seletivo de mestrado pela primeira vez. Foi aprovada, mas infelizmente não obteve a bolsa que precisava para continuar. 

2018: Carolina compartilhou comigo sobre tudo o que tinha acontecido, e eu me ofereci para ler o projeto de mestrado e sugerir melhorias. Durante a leitura, coincidentemente eu descobri que conhecia um dos marcos teóricos da pesquisa pessoalmente. Havia trabalhado diretamente com ele 4 anos antes, e o além de um amigo, era um mentor e referência profissional para mim. Foi então que sugeri apresentar os dois, para que pudessem conversar sobre alterações no projeto para uma nova tentativa de admissão. Nesse mesmo ano, Carolina foi aprovada no mestrado em primeiro lugar, com bolsa da Capes.

2019: Todo plantio tem seu período de espera, e durante esse tempo, Carolina compartilhava comigo alguns de seus desafios acadêmicos. Ela no mestrado no Brasil, eu no mestrado nos Estados Unidos, mas sempre encorajando uma à outra, para que nos lembrássemos do motivo que tinha nos levado até ali. Não foi fácil para nenhuma de nós, mas persistimos.

2020: Na reta final, lá estávamos nós juntas de novo. Li e comentei a dissertação de Carolina inteira (em inglês), já que escrever academicamente em outro idioma era algo novo para ela. No segundo semestre ela defendeu sua dissertação, e agora é mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Esses e outros tantos momentos estão guardados na minha lembrança e em vários e-mails. Talvez pouquíssimas pessoas além de mim e da minha amiga saibam sobre esses detalhes. Mas ver os frutos dessa semeadura silenciosa me trazem tanta alegria, coragem e ânimo, que decidi compartilhar aqui (com a autorização dela, claro!).

Mas qual era o conteúdo daquele e-mail com assunto "Obrigada!"?

Carolina me escreveu para me enviar uma cópia dos agradecimentos da dissertação, nos quais eu consto duas vezes!

Lembra que eu me perguntei: "Qual o motivo desse agradecimento?"

E o texto da Carolina me trouxe a resposta:

"pela atenção e gentileza. Sua abertura e disponibilidade em me ajudar com meu primeiro projeto me proporcionaram fazer meu mestrado."

Além disso, "por estar sempre aqui, comigo, ainda quando [em outro] canto do mundo. Por cada conversa (...) e incentivo por áudio no WhatsApp."

No primeiro dia útil do Ano Novo, nada mais típico do que planejar.

Mas se tem algo que eu quero continuar a fazer em 2021, é cultivar. 

Sempre que puder, cultive.

Cultive sem cobranças, mas com esperança.

Acredite que suas ações podem ter resultados positivos na vida de outrem.

Apresente pessoas, responda e-mails, compartilhe conhecimento, indique alguém para uma vaga, revise um currículo.

Mas cultive sem expectativa. Porque assim, quando os frutos finalmente chegarem, você vai se lembrar do dia em que tudo o que foi conquistado era apenas uma semente de sonho. Você vai saber que cultivou com a mais pura das intenções, sem buscar receber nada em troca e que justamente por isso, recebeu muito mais do que imaginava.

Deixo aqui o mesmo convite para você. Sempre que puder, cultive. Feliz Ano Novo!