Salve, salve negritude!

Dia 20 de Novembro.

Dia da Consciência Negra.

Na sexta-feira passada o dia amanheceu nublado, do metafórico ao literal. O céu acinzentado parecia anunciar a notícia que nenhum de nós queria ouvir. Mais um de nós, morto, por causa da cor da pele. Mais uma vida, uma família, uma comunidade afligida pelo racismo violento. Esse racismo que "mata no braço" é o mesmo que circula nas instituições, que flutua em microagressões, que viabiliza acordos tácitos que todos nós, brancos e pretos, conseguimos entender muito bem, mesmo que nenhuma palavra seja dita.

Segundo a ONU, "embora os negros e negras sejam 54% da população brasileira, são 64% das pessoas privadas de liberdade. Os brancos e brancas, sendo 46% da população total, são 35% das pessoas no sistema carcerário."

"O perfil racial dos privados de liberdade é uma consequência da filtragem racial, que implica na abordagem, investigação e indiciamento de mais pessoas negras que brancas proporcionalmente."

De acordo com o Atlas da Violência do IPEA, a disparidade em relação “à violência letal, é como se negros e não negros vivessem em países completamente distintos.”

Como "comemorar" um Dia 20 por ano, enquanto a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil?

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Dia 20 de Novembro.

Dia de Zumbi dos Palmares.

Salve Zumbi, pela coragem de imaginar e construir uma realidade diferente daquela que lhe fora imposta. Pela coragem de ficar de pé, pela grandeza de liderar. 

Salve Dandara, mulher guerreira, companheira, que assim como minhas contemporâneas, vêm de longe, carregando tanto para tantos, sem nem sempre serem reconhecidas.

Salve, salve negritude! Um salve para celebrar um dia em um mês simbólico que significa um pouco na imensidão das dores e sabores de ser preto no Brasil, com sua história, suas nuances, mas também seu futuro. Um futuro que precisa ser diferente.

Mas apenas um "salve" não trará João Alberto Soares Freitas e nenhum dos tantos outros de volta. Precisamos de mudanças profundas em mentalidades e estruturas racistas e violentas que permeiam o Brasil. Apenas um dia não é suficiente para reflexões e ações antirracistas. Isso é uma luta de todo dia. Isso é dever de todo mundo. 

Feliz por trabalhar para contribuir para tornar o Brasil um pouco mais igualitário. E por estar à frente do trabalho do Google.org, braço filantrópico do Google, para a promoção da equidade racial no Brasil. 

No dia 20 de Novembro, o Google.org anunciou a destinação de US$ 500 mil (cerca de R$ 2,5 milhões) em doações para organizações que trabalham para promover a justiça racial no Brasil, através de dois financiamentos:

"O Fundo Baobá é o primeiro e único fundo focado exclusivamente em igualdade racial no Brasil. O Google.org fará uma doação de US$ 400 mil, por meio da qual convidará organizações de todos os estados do país a submeter projetos centrados no enfrentamento ao racismo localmente. No final, 10 organizações de todas as regiões do Brasil serão beneficiadas com o apoio financeiro para execução de projetos focados em temas relevantes para a população negra, como acesso à justiça, combate à violência e vivência com dignidade. Acompanhe o Fundo Baobá para novidades pelo Twitter, Instagram e Facebook.

Para melhorar a coleta de informações sobre o estado da justiça racial no Brasil, o Google.org fará uma doação de US$ 100 mil para o Núcleo de Pesquisa em Justiça Racial e Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A pesquisa será conduzida por acadêmicos negros e líderes de pensamento na área, e terá como foco a análise de dados e visualização das dimensões raciais da violência policial no Brasil."

Uma alegria enche o peito por essa pequena contribuição para o futuro do Brasil. Um futuro que precisa ser diferente.

Minha gratidão àqueles que estiveram comigo ao longo da jornada para que esse dia chegasse e colaboraram para que eu pudesse fazer algo tão lindo e com tanto propósito. Vocês sabem quem são.

E um salve pra nós, povo preto, porque somos Palmares onde estamos, no que somos e no que fazemos. Porque como diria Emicida, "eu não luto pra lutar mais, eu luto para parar de lutar."